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04 novembro 2022 às 00h03

Jardim Gulbenkian vai ser ampliado de acordo com os ideais de Gonçalo Ribeiro Telles

Vladimir Djurovic venceu o concurso para a construção de um novo espaço. O arquiteto paisagista libanês de ascendência montenegrina quer dar continuidade à obra idealizada nos anos de 1960.

Vladimir Djurovic foi o vencedor do concurso para o design da ampliação do Jardim Gulbenkian, em Lisboa, cujas obras já começaram e vão durar cerca de um ano e meio até ficarem terminadas. O arquiteto libanês de ascendência montenegrina pretende que seja uma continuação do trabalho dos arquitetos que, nos anos de 1960, foi ali feito por Gonçalo Ribeiro Telles e António Viana Barreto.

Com a aquisição dos terrenos a sul que pertenciam à viúva de Vasco Eugénio de Almeida, a fundação lançou o concurso para propostas de reformulação do jardim e do edifício, que estará a cargo do arquiteto japonês Kengo Kuma. O objetivo é aumentar a área verde de Lisboa e a sua diversidade. O júri recebeu seis propostas, das quais três estrangeiras e outras tantas portuguesas.

"Todas as propostas eram fantásticas e revelavam um pensamento profundo sobre o que é o jardim, sobre a intervenção no edifício do CAM e como é que podem contribuir em conjunto para uma obra de arte",afirmou Luís Ribeiro, arquiteto paisagista, professor no Instituto Superior de Agronomia e membro do júri do concurso.

A proposta vencedora foi a de Vladimir Djurovic, que foi convidado por Kengo Kuma. "Não acreditei tratar-se de um concurso relacionado com o jardim da Gulbenkian porque para mim era um sítio perfeito", disse Djurovic, que se apaixonou pelo jardim há 25 anos, quando o descobriu por acaso. O encantamento é tão grande que descreve o trabalho do Ribeiro Telles como "intemporal" e "harmonioso". E é nesse sentido que decidiu que quando pensou o seu projeto imaginou aquilo que o histórico arquiteto português idealizaria para aquele local, focado "mais na natureza" do que "na toque humano".

Vladimir Djurovic quer que o público veja o novo jardim como um todo e "não como um projeto de outro designer". "Ganhar este concurso foi um sentimento muito bom porque adoro este sítio. Nunca pensei que iria fazer alguma coisa no jardim e com a Fundação Gulbenkian, que é fantástica e cuida da sociedade. Estar a trabalhar com eles e ajudá-los com a sua missão é um sonho tornado realidade", explicou Djurovic ao DN, depois da apresentação do projeto na sede da fundação.

O foco desta proposta era inserir no jardim apenas espécies unicamente da zona de Lisboa e ao mesmo tempo criar uma área de biodiversidade. O vencedor do concurso descreveu o futuro espaço como sendo "uma pequena floresta". No entanto, devido ao tamanho do jardim, irão ser criados patamares para aparentar ser um espaço maior e, dessa forma, haver mais para descobrir.

Vladimir Djurovic defende que o ser humano deveria começar a pensar mais na natureza e não focar-se apenas em si mesmo. "Nós somos parte da natureza, mas esquecemo-nos disso e separámo-nos dela. Não podemos continuar a olhar para as coisas apenas da perspetiva humana porque até agora temos sido muito destrutivos. Quando a natureza estiver doente, nós vamos ficar doentes. Se a natureza tiver algum problema, nós vamos ter esse mesmo problema", sublinhou.

No fundo, o projeto para o novo jardim Gulbenkian segue um ideal: a natureza primeiro. O arquiteto paisagista acha que esta pode ser uma pequena semente e um primeiro passo para proteção das áreas naturais e restauração da natureza em todo o país.

Vladimir Djurovic, de 55 anos, licenciou-se em Horticultura pela Universidade de Reading, em Inglaterra, tendo depois realizado um mestrado em Arquitetura Paisagista na Escola de Design Ambiental da Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos. Ao longo dos anos, tem realizado vários projetos internacionais associados à natureza e pretende preparar um caminho para aumento e reintrodução das áreas naturais.

Entrou neste projeto pela mão de Kengo Kuma, que ficará responsável pela renovação do edifício do Centro de Arte Moderna Gulbenkian.

mariana.goncalves@dn.pt