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15 dezembro 2021 às 15h45

Festas do Povo de Campo Maior classificadas pela UNESCO como Património Cultural Imaterial

As Festas de Campo Maior são conhecidas por apresentarem dezenas de ruas com milhares de flores de papel feitas pela população.

DN/Lusa

As Festas do Povo de Campo Maior, no distrito de Portalegre, foram esta quarta-feira classificadas como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

A inscrição como Património Cultural Imaterial das festas comunitárias portuguesas, na vila de Campo Maior, na região do Alentejo, foi aprovada ao início da tarde desta quarta-feira, na 16.ª reunião do Comité do Património Mundial da UNESCO, que está a decorrer em Paris (França), até sábado.

Tradição secular e realizadas pela última vez em 2015, as Festas do Povo de Campo Maior são conhecidas por apresentarem dezenas de ruas, sobretudo no centro histórico, engalanadas com milhares de flores de papel, feitas pela população de forma voluntária.

Promovidos pela Associação das Festas do Povo de Campo Maior (AFPCM), os festejos na vila alentejana eram já reconhecidos internacionalmente pela sua originalidade e cariz popular, com os habitantes a prepararem a ornamentação das ruas durante meses a fio.

Esta tradição, identitária de Campo Maior, tem vindo a ser transmitida de geração em geração, oralmente e de forma informal, com os mais velhos a ensinarem aos mais novos os 'segredos' da elaboração das flores que ornamentam os espaços públicos da vila.

A candidatura à UNESCO foi promovida pela Câmara, AFPCM e a Entidade Regional de Turismo (ERT) do Alentejo e Ribatejo.

Um dos coordenadores do dossiê, Joao Custódio, explicou à agência Lusa, no sábado, que a preparação da candidatura foi um trabalho "muito complexo" e "demorado", focado em demonstrar as características "únicas" deste evento.

"Foi um processo demorado", iniciado em 2014, e "muito complexo", que "implicou uma equipa multidisciplinar", com "sociólogos, historiadores, antropólogos, muita gente", disse.

A elaboração do dossiê focou-se "numa série de aspetos" para "dar a conhecer" as festas da vila, que só se realizam quando o povo quer, e a forma como se tornaram "únicas" face a outros eventos onde existem também flores de papel.

"A flor de papel não é algo exclusivo das Festas de Campo Maior, existem vários eventos que usam este tipo de decoração. Evidentemente, a qualidade do trabalho destas festas é um elemento muito importante, porque é, de facto, diferenciador", argumentou.

Mas há também "outras características da festa que as tornam únicas e o dossiê focou-se muito nesses aspetos", acrescentou.

O "elevado" número de voluntários que fazem flores, o facto de as festas só se realizarem quando o povo quer ou a figura do 'cabeça de rua', uma espécie de 'capitão de equipa', foram alguns dos aspetos mencionados na candidatura.

No dossiê enviado à UNESCO, foram também abordados outros temas que tornam estas festas "diferentes", como "a arquitetura efémera" e a forma como a vila, "da noite para o dia, se transforma por completo" com as flores de papel.

A via pública passa "a ser quase privada, porque passa a ser a minha rua", enquanto, em sentido contrário, "a propriedade privada passa a ser pública, porque a minha casa está praticamente aberta para os visitantes", disse.

Durante o processo de investigação feito pela equipa multidisciplinar que preparou a candidatura, foi possível apurar que as festas têm uma ligação ao culto de São João Batista, que é o padroeiro da vila de Campo Maior, relatou o coordenador.

O primeiro-ministro, António Costa, felicitou Campo Maior e o Alentejo pelo "merecido reconhecimento" das Festas do Povo como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.

"Campo Maior e o Alentejo estão de parabéns! As Festas do Povo de Campo Maior são Património Cultural Imaterial da Humanidade. Merecido reconhecimento internacional para uma tradição que mantém vivo o espírito comunitário entre a população local", escreveu António Costa na sua conta na rede social Twitter.

O presidente da Entidade Regional de Turismo (ERT) do Alentejo e Ribatejo, Vítor Silva, manifestou-se "muito satisfeito", mas também "surpreendido" com a antecipação da classificação das Festas do Povo de Campo Maior (Portalegre) pela UNESCO.

"Fomos apanhados de surpresa, tínhamos a indicação que era amanhã (quinta-feira) de manhã", disse.

Segundo o responsável, o "fundamental" da questão é que as Festas do Povo de Campo Maior já estão classificadas como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

O presidente da ERT do Alentejo e Ribatejo revelou ainda que espera, "no princípio de fevereiro", em parceria com o município, fazer uma "comemoração em condições" desta classificação com o povo de Campo Maior.

Promovidos pela AFPCM, os festejos na vila alentejana eram já reconhecidos internacionalmente pela sua originalidade e cariz popular, com os habitantes a prepararem a ornamentação das ruas durante meses a fio.

Em comunicado, a ERT do Alentejo e Ribatejo destacou hoje que estas festas são "uma das maiores manifestações de trabalho voluntário e de arte popular" em Portugal e que o reconhecimento da UNESCO "é de Campo Maior, é do Alentejo, é de Portugal, mas é principalmente de todos e de cada um dos campomaiorenses".

"Campo Maior vê assim o seu nome e a sua tradição maior inscritos a 'letras de ouro'" na UNESCO, graças a estas festas com "mais de um século de história" e que se juntam a "outras manifestações culturais do Alentejo", disse a ERT.

Como Património Cultural Imaterial da Humanidade, em anos anteriores, a UNESCO já distinguiu o Cante Alentejano e o Figurado de Barro de Estremoz, no Alentejo, assim como a Falcoaria de Salvaterra de Magos, no Ribatejo.

Também o Fabrico de Chocalhos, baseado na tradição artesanal de Alcáçovas, em Viana do Alentejo (Évora), consta do Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente.

Já como Património Mundial da Humanidade, estão classificados pela UNESCO, no Alentejo, o Centro Histórico de Évora e as Fortificações Abaluartadas de Elvas.