Em Seia a ligar o Brasil e a Índia

O avanço da pandemia em São Paulo levou Lana Bitu a escolher outro lugar para viver. Agora é junto à Serra da Estrela que a jornalista faz a ponte entre duas redações no Brasil e na Índia.
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Daqui se vê a encosta da serra da Estrela onde está a segunda maior cidade do distrito da Guarda - Seia. Na varanda da casa de Lana Bitu, a paisagem é deslumbrante. Aqui, a brasileira, 48 anos e jornalista há mais de 25, vive com o marido e os dois filhos, António e Miguel, numa casa transformada numa espécie de centro multimédia. Computadores espalhados pela sala e fios de microfones emaranhados em auscultadores, que ora servem para acompanhar as aulas das crianças ora são usados nas constantes reuniões de trabalho dos pais. Os miúdos assistem ao longe à nossa conversa com a curiosidade própria das suas idades: 7 e 12 anos.

Vão balançando na cama de rede durante o intervalo das aulas do colégio online. À medida que a pandemia da covid-19 se foi espalhando, perceberam que permanecer em São Paulo, onde residiam, já não era boa ideia. Decidiram então viver um par de meses em Seia, onde o seu marido tinha crescido e mantinha ligações familiares. Mas já lá vai um ano. Aqui é o seu refúgio seguro, longe do descontrolo pandémico no Brasil: "Como estava todo o mundo em teletrabalho não importa muito onde você está", explica Lana com aquela descontração própria de quem se sente segura neste abrigo à sombra da serra da Estrela.

Mas a fixação da família neste lugar trouxe alguns benefícios para o trabalho de Lana. Jornalista versátil, com anos de experiência em publicações que lidam com celebridades, encabeça um projeto de expansão internacional da revista Caras. A publicação, também presente no nosso país, especializada na cobertura dos universos de entretenimento e celebridades, estabeleceu-se recentemente na Índia. O grupo editorial brasileiro estruturou uma redação para produzir conteúdos em plataformas digitais, focada em exclusivo na Índia e na indústria cinematográfica de Bollywood. A indústria de cinema indiana é uma das maiores fábricas de receitas da sétima arte, movimentando valores monetários muito acima da sua congénere norte-americana.

Em Seia, numa sala que partilha com as aulas das crianças, Lana faz a ponte entre o Brasil e a Índia, tentando conciliar três fusos horários distintos. "Até ao meio-dia tenho algum tempo livre, mas também não posso dormir antes da meia-noite", comenta. Vai gerindo o tempo entre as conversas através do WhatsApp com a casa-mãe e a redação na Índia. Realiza muitas entrevistas através da plataforma Zoom e vai gerindo as necessidades de um projeto digital entre a Índia e o Brasil.

Mas se a pandemia mudou a forma de trabalhar e obrigou ao abandono da vida citadina, para a vida em família trouxe alguns benefícios. Além de um contacto íntimo com a natureza, que aqui oscila entre a surpresa de "pisar na neve" e de uma "primavera que chega de uma forma que você leva um susto", há também o contacto com as pessoas "genuínas e muito amigáveis" e experiências que considera que os filhos irão reter para sempre. Como "ver os rebanhos que fazem aquela delícia do queijo serra da Estrela". Lana sente que os filhos têm beneficiado de um contacto com uma natureza distinta daquela a que estão habituados. Este contacto entre a natureza e a confraternização na mesma casa também permitiu estreitar laços entre pais e filhos: "A convivência com as crianças ajuda a perceber quais as dificuldades que elas têm", mas também revelou nelas "um interesse pelo trabalho dos pais".

Para Lana, ter mudado de vida está a ser enriquecedor para a profissão e para a família. Crê que voltará ao Brasil até ao fim do ano, mas não tem a certeza. "Já adiámos voltar tantas vezes", remata a sorrir e explica: "Quando alguém mora fora durante um tempo você deixa de ter um lar e aqui sinto que ganhei uma segunda casa de verdade!"

Seia

A cidade de Seia pertence ao distrito da Guarda, na região da Beira Alta, e é sede de município (dividido em 21 freguesias). Fica situada na vertente ocidental da serra da Estrela, tendo sido elevada à categoria de cidade em 3 de julho de 1986.

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Projeto coproduzido com a Escola Superior de Comunicação/IPL

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