As obras de expansão da linha vermelha do Metro de Lisboa, com fim previsto para 2025, vão ter em conta "as condições existentes e a versatilidade de evoluções futuras" da zona de Alcântara, onde está o Baluarte do Livramento, a última das estruturas de defesa da cidade criadas aquando das guerras da Restauração da Independência..Após preocupações levantadas pelo historiador Valentino Viegas, num artigo de opinião publicado no DN a 6 de março, de que o Baluarte do Livramento pudesse correr riscos do ponto de vista estrutural, o Metro vem agora assegurar que a integridade do monumento está garantida..O historiador esclareceu ao DN que "a muralha é o mais importante de ser preservado. A guarita também não deve ser esquecida, ainda assim". Uma pretensão que o Metropolitano de Lisboa diz ter acautelado numa resposta por escrito ao DN: "Os estudos em curso preveem a estabilização e requalificação do Baluarte permitindo a usufruição do espaço pelos cidadãos de Lisboa e visitantes.".O Baluarte do Livramento, localizado junto ao Palácio das Necessidades, em Alcântara, é a última das estruturas de defesa da cidade edificadas no século XVII. Mandado construir por D. João IV, esta estrutura militar era uma das primeiras linhas de prevenção de ataques contra Lisboa. Isto porque, após o terramoto de 1755, o centro da cidade passou, temporariamente, para Alcântara, Belém e Ajuda, que foram as zonas menos afetadas..As preocupações com a área adjacente ao Baluarte do Livramento não são novas. Em 2017, foi apresentada na Assembleia Municipal uma recomendação feita pelo Bloco de Esquerda para que a autarquia preservasse os achados arqueológicos encontrados aquando da construção do hospital da CUF, na avenida 24 de Julho..Além disso, o partido pedia também que se valorizasse o Baluarte do Livramento, "através da integração do estudo" de outra estrutura presente naquele local: o Baluarte do Sacramento, datado da mesma altura. No mesmo ano, foi também descoberta uma doca no local, datada de XVII. Segundo disse a empresa responsável pelas escavações, "a estrutura militar estava associada ao Forte do Sacramento ou da Alfarrobeira", era parte do "sistema defensivo do estuário do Tejo e da cidade de Lisboa" e já aparecia em mapas topográficos da zona feitos em 1856..Atualmente, é no Baluarte do Livramento que está localizada a Casa de Goa, uma associação que procura preservar a cultura goense e cujo sócio fundador, Valentino Viegas, diz não compreender a decisão de fazer obras naquele local. "Nem a Câmara Municipal de Lisboa (CML) nem o Metro devem saber o que lá está localizado, não devem ter dado conta. Só desconhecendo o local se pode autorizar isto", refere..Quando questionada sobre esta questão, a autarquia afirmou que todas as obras foram aprovadas após um estudo prévio. "Todos os trabalhos a realizar no âmbito dessas empreitadas carecem sempre de um estudo prévio das condições estruturais e de conservação do monumento abaixo e acima do solo, por forma a garantir a sua estabilidade e salvaguarda", referiu a CML em resposta enviada ao DN. Além disso, a autarquia refere também que, devido à localização do Baluarte, enquadrado "na Zona Especial de Proteção do Conjunto do Palácio das Necessidades, que é Imóvel de Interesse Público, existe a obrigação de ir articulando as intervenções e obter as autorizações necessárias da Direção-Geral do Património Cultural"..Ainda assim, Valentino Viegas tem dúvidas em relação à preservação e requalificação da muralha. "Tenho dúvidas, porque aquilo que eu vi, nas plantas das obras, é que a muralha vai ser destruída", refere. Ao DN, o historiador volta a frisar que a decisão "não faz sentido" e, por isso, questiona: "Como é que vão reabilitar algo que vai ser destruído? As plantas que fizeram chegar à Casa de Goa mostravam que a muralha vai ser destruída.".No entanto, o Metro de Lisboa garante que "foram estudadas diferentes hipóteses de traçado para este prolongamento" da linha vermelha, que prevê a circulação em túnel até à zona do Baluarte. Aí, explica o Metro, "passa a desenvolver-se em viaduto, de cerca de 380 metros de distância, sobre o vale de Alcântara", com a estação a ficar localizada na praça General Domingos de Oliveira, junto ao acesso à ponte 25 de Abril. Tal como a CML, também o Metro diz querer preservar a muralha..De acordo com o planeamento divulgado pelo Metropolitano de Lisboa, as obras preveem a expansão da linha num total de aproximadamente quatro quilómetros, desde São Sebastião até Alcântara. Ainda segundo o Metro, foram estudadas várias hipóteses de traçado. "No processo de desenvolvimento e avaliação das soluções em fase de estudo, o Metropolitano de Lisboa promoveu reuniões de apresentação das soluções de traçado com diversas entidades e organismos e procedeu, ainda, à consulta a 41 entidades e empresas no âmbito do desenvolvimento do Estudo de Impacto Ambiental, para recolha de informação de cadastro de infraestruturas na área de intervenção do projeto e outros contributos para o desenvolvimento do estudo em causa", esclarece a empresa. Por fim, o Metro de Lisboa refere que "as soluções de projeto preveem medidas rigorosas de minimização e mitigação dos impactos em estudo, nos domínios do ruído, do património, do edificado, entre outros"..rui.godinho@dn.pt