Entre o Natal e o Ano Novo, os trabalhadores da higiene urbana de Lisboa, entre outros municípios, vão estar em greve devido ao “profundo descontentamento e da contínua falta de resposta concreta às exigências”, sobretudo no que diz respeito ao aumento de salários e valorização das carreiras. A situação, diz José António Videira, presidente da Junta de Freguesia de Marvila, é “complicada”..Ouvido pelo DN, o autarca socialista refere que, não obstante a complexidade da situação, Marvila “vai tentar auxiliar a Câmara Municipal de Lisboa” nestes dias. Para isso, a junta de freguesia vai “identificar os pontos estratégicos” que entende que “haverá maior concentração e acumulação dos resíduos”, de modo a serem colocados “os devidos contentores”. Isto porque não existe um plano B à recolha feita pela câmara. “Só nos podemos praticamente acomodar. Não temos meios em termos de transporte, quem faz a recolha, quem tem este material pesado, é a própria câmara.” Ou seja, diz, “se houver uma adesão total à greve, não há ninguém que salve esta situação”..Os pontos que preocupam, naquela que é uma das freguesias mais populosas de Lisboa, são, essencialmente quatro: “o bairro das Amendoeiras, do Condado e dos Loios. E, depois, junto à zona da Bela Vista.” Estes problemas, calcula José António Videira, podem afetar mais de 40 mil pessoas só em Marvila..Já Ricardo Mexia, presidente da Junta de Freguesia do Lumiar (a mais populosa do concelho, com mais de 41 mil habitantes recenseados), fala num “problema transversal” a toda a cidade. .“Vai haver constrangimentos importantes”, diz o eleito pelo PSD, que afetam os cidadãos, “seja na recolha dos ecopontos ou na recolha porta a porta”. “Vamos apostar na comunicação com os fregueses, no sentido de sinalizar esta circunstância e pedir-lhes a sua colaboração, nomeadamente, evitando depositar os resíduos neste período, como é o caso daquilo que se deposita tipicamente no cartão ou no plástico, e que os possam conservar durante este período e apenas depositá-los num período de maior normalidade.” .Em época festiva, existe sempre, diz o autarca, “um maior acumular destes objetos”. Isso torna “plausível” que possa haver “maior deposição de resíduos junto aos ecopontos e aos próprios contentores”. “Vamos estar atentos e as nossas equipas vão, dentro daquilo que são as suas competências, dar a resposta necessária”, refere..“É injusto”. Moedas diz quer fazer tudo para travar greve.Esta quinta-feira, em conferência de imprensa, Carlos Moedas, autarca da cidade, prometeu fazer tudo o que estiver ao alcance para impedir esta greve, que disse ser “injusta”..“Este executivo que lidero há apenas três anos tem vindo a fazer tudo o que pode para melhorar as condições do trabalho das mulheres e dos homens da higiene urbana. E é por eles, e também por todos os lisboetas, que estou aqui para fazer um último apelo aos sindicatos”, começou por dizer, acrescentando depois: “Sempre respeitei, sempre respeitarei o direito à greve. E os sindicatos sabem que tenho o maior respeito pelo seu trabalho, como pilares da nossa democracia, mas venham sentar-se à mesa e negociar como temos feito nos últimos três anos.”.É “apenas isso” que pede aos sindicatos: que se negoceie. “Garanto-vos que farei tudo para ir ao encontro das vossas reivindicações. Porque não é criando o caos que se ganha o direito. Nem os lisboetas podem ser vítimas de qualquer estratégia de afirmação política ou sindical. Farei tudo para negociar e evitar a greve”, apelou..Se a greve não for travada, avisou Carlos Moedas, “os lisboetas viverão dias muito difíceis”, com riscos para a saúde pública, uma vez que a recolha de lixo estará parada durante nove dias..Garantindo que se reunirá em breve com os restaurantes, o comércio e o setor hoteleiro, Moedas pediu “a ajuda de todos” para tentar impedir esta greve. Segundo o autarca, foi decidido criar uma equipa “de gestão de crise, que estará 24 horas à disposição dos presidentes de junta, que estará na disponibilidade total de poder ajudar”, anunciando também a distribuição pelas freguesias de Lisboa de alguns “contentores de obra, onde as pessoas, em último caso, podem depositar lixo”. E deixou, também, um apelo a outros municípios que “possam disponibilizar, por exemplo, ilhas móveis”. Em cima da mesa, acrescentou, está a possibilidade de os trabalhadores da autarquia ficarem em teletrabalho durante os dias de greve e de apelar ao teletrabalho nas empresas privadas..O presidente da Câmara de Lisboa escreveu ainda uma carta a todos os presidentes de junta de freguesia a apelar que se juntem à autarquia na defesa da negociação com os sindicatos dos trabalhadores da higiene urbana. Carlos Moedas diz nessa carta, a que a Lusa teve acesso, que a autarquia foi apanhada de surpresa com a convocação da greve e apela a que as juntas façam "tudo o que estiver ao seu alcance" para mitigar os efeitos negativos desta paralisação. ."As nossas freguesias serão, pela sua proximidade às pessoas, as mais afetadas pelos efeitos da greve", escreve Moedas, estendendo o apelo aos autarcas para que todos se juntem na procura de uma solução com os sindicatos para "resolver os problemas concretos da higiene urbana da cidade".."Sem radicalismos, sem comprometer a vida das pessoas, sem prejudicar a cidade", escreve Carlos Moedas, considerando que a cidade precisa de diálogo e não de "posições extremadas"..Para tentar amenizar o impacto, foram requisitados serviços mínimos. O tribunal deve comunicar a decisão esta sexta-feira.