"Isto sempre foi um bairro seguro.” A mesma frase é dita por diferentes moradores e comerciantes da Freguesia de São Domingos de Benfica, visitada pela reportagem do DN, após uma onda de assaltos ter sido registada na zona. Nos últimos dias, foram diversas as ocorrências tanto na Estrada de Benfica, quanto na Rua de São Domingos de Benfica e outras movimentadas avenidas desta freguesia. Os alvos costumam ser, essencialmente, cafetarias e restaurantes, a maior parte gerida por responsáveis com décadas de casa. Entre eles, um consenso: a região nunca esteve tão insegura.“Nem sei como vou trabalhar hoje”, começa por dizer Ana Braz ao apontar o estrago feito na caixa registadora do seu Belmar 1958, restaurante de take-away que gere há nove anos. No passado fim de semana, Ana não viu apenas o estabelecimento ser alvo de um assalto na madrugada de sábado (16), como também no domingo (17). “Da primeira vez tinha 30 euros, e desta vez tinha apenas moedas pretas, nem 15 euros havia, espalharam todas por aí fora. Levaram as de 10 e de 20 cêntimos, e o resto espalharam. Agora, já a registadora dá-me um prejuízo de 1300 euros, que é quanto custou aquela porta. Mais uma gaveta nova que preciso comprar, não é pouca coisa”, lamenta Ana Braz.. A poucos metros do restaurante Belmar, o também comerciante e residente da freguesia Danilo Carvalho não sofreu prejuízo financeiro, mas sim físico com a situação de insegurança. Há uma semana, foi abordado por dois homens que estavam dentro de um carro quando chegava com uma caixa de ferramentas ao seu café, na esquina da Estrada de Benfica com a Rua Doutor Mascarenhas de Melo. O relógio apontava cerca de 15.00 horas de um domingo quando os dois homens atacaram Danilo para roubar a caixa de ferramentas. “Se não fosse ter aparecido gente mesmo na hora, tinham-me matado por causa de uma ferramenta. Como apareceram para me defender, acabaram por não roubar, mas as agressões resultaram em oito pontos. Foi um belo dia de trabalho”, ironiza Danilo ao apontar a cicatriz na parte de trás da orelha.A história repete-se nas ruas perpendiculares à Estrada de Benfica. Noutro café, na Rua de São Domingos de Benfica, Nelson conta ter sido furtado duas vezes em menos de um mês. Justamente quando a reportagem do DN passava pelo seu estabelecimento, dois homens chegavam para instalar grades no local. “Aconteceu há cerca de um mês, levaram dinheiro e uísque. Agora, no final de semana a mesma história: roubaram dinheiro e chocolates do bar. Tenho câmaras, mas até agora não conseguiram identificar os suspeitos”, conta o proprietário, que lamenta a situação. “São mais de 40 anos neste bairro, nada como nesses últimos tempos - em todas as ruas os comerciantes estão a passar por esta situação”, sublinha.. Contactada pelo DN, a PSP afirmou que, embora ainda não tenha todos os dados dos recentes assaltos ocorridos, há uma grande quantidade de queixas reportadas desde o início de 2025. “Tem sido algo recorrente de há um mês e meio, dois meses, para cá. Nesse sentido, já desenvolvemos algumas investigações para tentar chegar aos autores no intuito de os identificar e de parar esses dados ilícitos”, afirma o subintendente da PSP, Sérgio Soares, ressaltando que se trata, na sua maioria, de “casos de furto, sem violência física” e que ainda “ainda não foi possível identificar um padrão nos crimes”. Até ao fecho desta reportagem, a Junta de Freguesia de São Domingos de Benfica não respondeu ao DN sobre outras possíveis medidas na região.Freguesia vizinha pede mais segurançaNa freguesia vizinha, a de Benfica, a história não tem sido muito diferente. De acordo com o presidente da junta de freguesia, Ricardo Marques (PS), as zonas da Quinta da Granja e da Fonte Nova tiveram “surtos de assaltos com alguma complexidade” nas últimas semanas. Uma onda de assaltos ocorridos em sequência também já havia sido registada há cerca de seis meses, pelo que o autarca refere ter pedido à Polícia de Segurança Pública (PSP) a instalação de 26 câmaras de videovigilância na região. A solicitação, no entanto, ainda não foi aceite sendo que Ricardo Marques afirma que o pedido foi feito no início de 2024.“O pedido foi feito há mais de um ano, com o plano de colocação das câmaras em locais estratégicos escolhidos pela PSP”, começa por dizer o autarca. “Além disso, o que a junta tem feito é pedir à Câmara Municipal de Lisboa para instalar mais iluminação em zonas muito importantes, como a Estrada de Benfica e a Quinta da Granja, que estão às escuras. Claro que isso acresce ainda mais a um sentimento de insegurança muito grande, as zonas tornam-se mais perigosas: quando há menos iluminação, é mais fácil procurar um crime. Isto é óbvio”, complementa.Ricardo Marques destaca também a relevância da região de Benfica como ponto de passagem de pessoas para reforçar a segurança no local. “Pedimos ao presidente da câmara, que, embora não sendo algo que compete à câmara, que tem vindo a fazer planos de instalação de videoproteção pela cidade, para que priorizasse Benfica, por causa de dois fatores: um, o atravessamento da freguesia - mais de 300 mil pessoas passam por Benfica diariamente para entrar e sair de Lisboa. E outro ponto é que sabemos que há dois eixos fundamentais de passagem de pessoas que estão muito associadas ao consumo de droga e aos pequenos furtos, aos pequenos delitos relacionados com o consumo”, assinala. Para o autarca, no entanto, a zona continua a ser uma das mais seguras da cidade. “Continua sendo uma zona muito calma. Agora, é natural que, de um momento para o outro, se ocorrem três ou quatro fatores, isto obviamente aumenta um pouco mais o sentimento de insegurança.” Em janeiro deste ano, frise-se, a revista TimeOut divulgou que o Movimento pela Democracia Participativa (MDP) indicou Benfica como a melhor freguesia para se viver em Lisboa.nuno.tibirica@dn.pt