Na Igreja dos Paulistas, o que vem do alto não são apenas bênçãos divinas. Neste templo cristão, os fiéis já correm o risco de levar na cabeça com pedaços de estuque ou madeira que se desprendem das paredes e do teto, impacto que não seria leve. A julgar pelos rombos nos assentos das cadeiras, que já amorteceram a queda de algumas destas partes, é possível imaginar algo mais grave. “Isto, na cabeça de alguém pode ferir. Tivemos de isolar esta área para evitar que as pessoas se sentassem”, diz o pároco Jorge Anselmo ao DN, que visita o local num dia de muita chuva em Lisboa. “Dias como hoje preocupam-nos ainda mais”, completa o padre.O motivo são as infiltrações. Na nave principal, as pinturas do teto, algumas de autoria de grandes nomes da arte barroca portuguesa, como Bento Coelho da Silveira e André Gonçalves, estão infladas, por causa da água que se infiltra, e manchadas devido à humidade.É também a água a responsável pela queda da rica decoração em estuque, obra do artista italiano Giovanni Grossi. E como a natureza não mede força, o crescimento da raiz de uma árvore que fica por trás da igreja está a levantar parte do piso próximo do altar, área também já isolada pelo padre para evitar acidentes.Na área do coro alto, parte em que se sentavam os religiosos, o cenário é de destruição completa. Pó, pedras, pedaços de estuque, madeira, pode até parecer um recinto em fase de remodelação, visto que o padre instalou algumas mesas para organizar o material que vai caindo. “A esperança é de que possa ser reaplicado com algum restauro”, explica Jorge Anselmo. .Património ameaçadoA histórica igreja e todo o complexo do Convento dos Paulistas, edificação - que data do século XVIII e está localizada na Calçada do Combro - foram classificados como Monumento Nacional em 1918 e estão agora entre os 14 nomeados para o programa “Os 7 Mais Ameaçados”. Trata-se de uma iniciativa da Europa Nostra, a principal organização europeia de defesa e promoção do património, e do Instituto do Banco Europeu de Investimento.“O propósito é haver uma pressão internacional sobre as entidades que tutelam aqui a igreja para que avancem com as obras que têm prometido ao longo dos anos e não têm feito”, explica ao DN Paulo Ferrero, presidente do Fórum Cidadania Lx, associação responsável pela candidatura do complexo religioso ao programa europeu.O comité consultivo da Europa Nostra destacou, no comunicado da pré-seleção dos nomeados, que a edificação, “apesar da sua degradação, continua a ser um magnífico exemplo de arquitetura religiosa e planeamento urbano”, mas que “necessita urgentemente de ser restaurado, devido aos graves danos causados pela água que afetam a estrutura, as pinturas e outros elementos artísticos. É, por isso, crucial que se intervenha rapidamente, para que este valioso património possa ser salvaguardado”.A Igreja e Convento dos Paulistas são propriedade do Estado português, sob a tutela do Ministério das Finanças. O DN enviou questões ao ministério sobre obras, orçamento para restauros e outras medidas de recuperação que possam estar em curso, mas não obteve resposta até o fecho deste artigo.A lista final dos 7 monumentos mais ameaçados na Europa para 2025 será revelada em abril.caroline.ribeiro@dn.pt