Luiz Gamito é cliente há quase tanto tempo quantos os anos do Café Império. A brasileira Liza Agra é assídua com a família e Hugo Sutil faz do local o seu escritório. Histórias de clientes frequentes de um café que tem marcado gerações e esteve à beira de fechar. Foi em 2006 mas novos donos conseguiram manter o espaço aberto..São 15h30 e o "Império" vive um período de calma após o frenesim do almoço. Um grande painel do pintor Luís Dourdil convida a descer quem entra. Na zona de refeição com um palco e estátuas a servir de fundo. Quando há jogos de futebol, uma tela gigante junta-se ao cenário..À direita, um espaço infantil para famílias com crianças - legos, bonecos, tablets, televisão, folhas e lápis para desenhar compõem a sala envidraçada. É por lá que encontramos Liza Agra com a filha de 4 anos, abraçada a duas bonecas. "Viemos porque ela me disse "Mamãe, tenho saudades dos nenés". Ela até já lhes deu nomes...", diz a rir-se, com sotaque brasileiro. Liza e a família costumam frequentar o café todos os fins de semana. "Não são todos os espaços que têm este apoio e é fundamental", garante..No andar de cima, perto do bar, Hugo Sutil bebe um café enquanto trabalha. É comercial e começou a frequentar o Café Império semanalmente não há muito tempo, desde janeiro. Escolheu o espaço por ser "agradável, amplo e central"."O wi-fi gratuito é uma vantagem para quem precisa de Internet para trabalhar", acrescenta. De olhos postos no piso inferior, para o qual tem vista privilegiada, confessa que nunca lá comeu, mas fica a promessa para breve..Um grupo de três amigos convive uns passos mais à frente na zona das refeições. Junto está a fotografia da cantora Madalena Iglésias, ela própria antiga frequentadora do café onde chegou a atuar por sua iniciativa.. "Vimos aqui desde que éramos miúdos... Encontramos a nossa juventude nos cantos da casa", diz José Manuel Gil, engenheiro reformado, com Luiz Gamito, médico. Já Adolfo Gutkin, encenador, é cliente desde a década de 1970. "A malta universitária vinha cá muito na altura", relembra. Foi o Teatro, mais concretamente o Instituto de Formação, Investigação e Criação Teatral (IFICT) que os juntou. Usam o espaço como "desculpa" para se encontrarem..História conservada.O Café Império, situado na confluência da Avenida Almirante Reis com a Alameda D. Afonso Henriques, foi projetado por Cassiano Branco em 1950 e está qualificado como Património Arquitetónico pelo Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico. Antigamente, o vizinho de cima era o Cinema Império, que encerrou em 1990. Dois anos depois, o espaço foi comprado pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) para aí instalar a sua sede e local de culto.. Em 2006, o Café Império fechou portas durante três meses por ordem da Igreja Universal do Reino de Deus, mas o esforço de alguns lisboetas e da Câmara Municipal de Lisboa, o restaurante foi salvo e trespassado para a atual gerência. "Respeitando a história" do restaurante, os seus donos têm vindo a apostar no restauro e conservação de peças de arte e na remodelação das instalações e da ementa de modo a obter uma "modernização sem perder cultura", diz Inês Cardoso, relações públicas do Café. Inês estima que a maioria dos clientes sejam portugueses, e a maioria lisboetas - os restantes são turistas.."Toda a gente vem cá, desde os mais novos até à terceira idade. Alguns vêm de geração em geração, desde o tempo dos pais e dos avós - são clientes muito antigos e fiéis", acrescenta Maximino Cruz, que trabalha no café desde 1982. Diz que, apesar de tudo, nada mudou desde essa época, o Império continua a receber "os clientes habituais e as famílias" e os estudantes do Instituto Superior Técnico à hora de almoço para escolher o buffet e não o afamado bifé à Império que durante anos levou gerações ao local.