Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia
Volodymyr Zelensky, presidente da UcrâniaFOTO: EPA/STRINGER

Zelensky tenta conter protestos a lei que retira autonomia às agências anticorrupção

Presidente ucraniano disse que iria apresentar novo plano para combater a corrupção dentro de duas semanas. Lei provocou as primeiras grandes manifestações antigovernamentais desde o início da guerra.
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Um dia após ter sido aprovada pelo parlamento a polémica lei que retira autonomia às agências anticorrupção, o que deu origem às primeiras grandes manifestações antigovernamentais na Ucrânia desde o início da invasão da Rússia, há mais de três anos, Volodymyr Zelensky tentou apaziguar os ânimos, prometendo um novo plano de combate à corrupção.

Depois de se ter reunido na manhã desta quarta-feira, 23 de julho, com altos responsáveis, incluindo os responsáveis de ambas as agências, o presidente ucraniano disse que iria apresentar um novo plano para combater a corrupção dentro de duas semanas.

"Ouvimos a sociedade", escreveu no Telegram. "Todos temos um inimigo comum – os ocupantes russos, e a proteção do Estado ucraniano exige força suficiente nos sistemas de aplicação da lei e anticorrupção e, portanto, um verdadeiro sentido de justiça", acrescentou.

Numa declaração conjunta nesta quarta-feira, o Gabinete Nacional Anticorrupção (NABU) e o SAPO [Gabinete Especializado Anticorrupção] afirmaram que queriam que a sua independência fosse restaurada através de legislação.

O presidente ucraniano pronunciou-se pela primeira vez sobre a lei no seu discurso noturno de terça-feira, pouco depois de milhares de pessoas saírem à rua em várias cidades ucranianas, como Kiev, Lviv, Odessa e Dnipro, para denunciarem a orientação autoritária da lei e pedir-lhe que a vetasse, de acordo com a agência de notícias Efe.

“A infraestrutura anticorrupção funcionará, mas sem a influência russa. Tudo precisa de ser limpo”, declarou então Zelensky, num discurso à nação publicado esta madrugada, aludindo à justificação dos Serviços Secretos Ucranianos (SBU) para as rusgas feitas ao NABU, em que dois altos funcionários foram detidos por alegada colaboração com a Rússia.

Zelensky não mencionou explicitamente no discurso a lei aprovada pelo parlamento, na terça-feira, que, de acordo com muitos críticos, liquida a independência da NABU, mas apresentou um argumento para justificar a alteração legislativa.

"É claro que a NABU e o SAPO vão funcionar. E é importante que o procurador-geral tenha a determinação de garantir que, na Ucrânia, o castigo para aqueles que vão contra a lei seja inevitável", disse Zelensky, lamentando a alegada apatia das agências de investigação para atuar em alguns casos.

“Durante anos, os funcionários que fugiram da Ucrânia têm vivido no estrangeiro por alguma razão, em países muito bons e sem consequências legais, e isto não é normal”, acrescentou, referindo-se aos fugitivos ucranianos que encontraram refúgio noutros países, especialmente na Europa.

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Antes do discurso noturno desta terça-feira de Zelensky, o líder dos serviços secretos ucranianos, Vasil Maliuk, reuniu-se com os embaixadores dos países do G7 (grupo de países mais industrializados do mundo) em Kiev para explicar as razões das rusgas.

Os representantes diplomáticos destes países foram os primeiros a manifestar preocupação com a operação dos SBU, na segunda-feira, contra os detetives da NABU.

Os críticos das medidas do Governo de Zelensky consideraram que o Presidente estava a tentar retirar poder aos únicos organismos de investigação que não controla e que podem atuar contra práticas que possam ocorrer ao mais alto nível.

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