Zelensky pede aviões de combate em vez de chá antes de cimeira em Bruxelas
Presidente ucraniano reuniu-se com o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak, discursou em Westminster e teve uma audiência com o rei para passar a mensagem de que o seu país precisa de asas para defender a liberdade.
Na única viagem ao estrangeiro que tinha feito desde a invasão russa, o líder ucraniano ofereceu à presidente da Câmara dos Representantes dos EUA uma bandeira do seu país autografada por militares destacados em Bakhmut. Além dessa oferta a Nancy Pelosi, Volodymyr Zelensky deu ao presidente Joe Biden uma medalha de mérito de um capitão de uma unidade que opera o sistema HIMARS, de fabrico norte-americano. No início da sua segunda viagem, que o levou a Inglaterra, a mensagem da oferta, no caso ao presidente da Câmara dos Comuns, foi ainda mais clara: o capacete de um aviador. E se dúvidas houvesse, nele está escrito: "Temos liberdade. Deem-nos asas para protegê-la."
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Do primeiro-ministro britânico ouviu dizer que "nada está excluído", embora os analistas militares digam que o ucraniano bateu à porta errada. De solo inglês seguiu para Paris, onde foi jantar com os líderes de França e da Alemanha, horas antes de um Conselho Europeu, em Bruxelas, que se prolonga até amanhã.
O presidente do Conselho Europeu convocou uma cimeira extraordinária cuja agenda estará dominada pela guerra. Charles Michel quer discutir com os líderes dos 27 a iniciativa de paz de Zelensky, a hipótese de usar os bens russos congelados em favor da Ucrânia, e a responsabilização de Moscovo pelo conflito, além das diversas vertentes do apoio a Kiev. Seis dias depois de ter estado na capital ucraniana para a cimeira Ucrânia-UE, o dirigente belga deverá abrir a porta do edifício Europa a Zelensky.
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O chefe de Estado ucraniano terá saído de Dorset, onde se encontrou com militares ucranianos a receber formação, com sentimentos ambivalentes. Começara o dia a agradecer o apoio britânico. Ao discursar para os deputados e lordes nas escadas de Westminster não esqueceu o papel de Boris Johnson por ter estado na primeira linha na criação de uma aliança internacional "quando o mundo ainda não sabia como reagir".
"Derrotaremos sempre o mal. Sabemos que a verdade vai ganhar, e que a Rússia vai perder. A vitória vai mudar o mundo, uma mudança que o mundo há muito precisava." Volodymyr Zelensky
O discurso, porém, teve como finalidade pedir mais apoio militar, em concreto, caças - e quanto a isso, nada de palpável. Depois de ter recordado a sua primeira visita oficial a Londres, em 2020, Zelensky elogiou o "delicioso chá inglês" que lhe tinha sido oferecido, mas desta vez eram os "poderosos aviões ingleses" pelos quais se sentiria mais grato. "Peço-vos e ao mundo por aviões de combate para a Ucrânia, asas para a liberdade", disse.

Zelensky e Sunak durante a visita a instalações militares em Dorset, sul de Inglaterra.
© Andrew Matthews / POOL / AFP
O chefe do governo britânico Rishi Sunak respondeu ao lembrar que em março os tanques britânicos Challenger 2 estarão no terreno. Além disso, ofereceu treino aos pilotos ucranianos - segundo o seu porta-voz, a começar na primavera - e deu instruções ao ministro da Defesa, Ben Wallace, para ver que aviões poderão ser enviados para a Ucrânia numa "perspetiva de solução a longo prazo". Esta hipótese levou a embaixada russa em Londres a reagir quase de imediato, ao declarar que a "Rússia irá encontrar uma resposta a quaisquer medidas hostis do lado britânico".
"Não é a NATO que está em guerra contra a Rússia. É a Rússia que está a invadir a Ucrânia. Putin não vai atingir os objetivos, nem no campo de batalha nem através de uma paz imposta." Olaf Scholz
Segundo especialistas militares britânicos, nem o Typhoon nem o F-35 - os modelos ao serviço da Força Aérea britânica - são a resposta, por motivos diferentes, mas sim o F-16 dos EUA, o Gripen sueco ou o Mirage francês.
A hipótese desta última aeronave ser posta ao serviço da Ucrânia tem sido motivo de discussões em Paris e não terá ficado fora da conversa entre o líder ucraniano e Emmanuel Macron no jantar que decorreu no Palácio do Eliseu. O chanceler Olaf Scholz, que de manhã garantiu no Bundestag que o "futuro da Ucrânia está na UE", disse também que "Putin não atingirá os seus objetivos".
cesar.avo@dn.pt
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