O presidente dos EUA, Donald Trump, informou o Congresso de que planeia uma venda de “50 milhões de dólares ou mais” de material de Defesa à Ucrânia. É a primeira vez que o faz desde o regresso à Casa Branca, há mais de 100 dias, sendo visto pelo governo ucraniano como “um primeiro passo de boa vontade” de Trump após a assinatura do acordo dos minerais. A versão final do texto tem condições mais favoráveis para Kiev do que a primeira versão, mas não inclui as desejadas garantias de segurança. “Este é um acordo verdadeiramente igualitário, que cria uma oportunidade de investimentos bastante significativos na Ucr|ania”, disse esta quinta-feira o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. E alegou que o acordo assinado na quarta-feira à noite é “o primeiro resultado do encontro do Vaticano”, que apelidou de “histórico”, dizendo-se “ansioso pelos outros resultados” dessa conversa a dois com Trump antes do funeral do papa Francisco. A Casa Branca fala de “uma parceria inédita para a reconstrução e o sucesso económico de longo prazo da Ucrânia”, com o presidente norte-americano a dizer que os EUA ganham “muito mais, em teoria, do que os 350 milhões de dólares”. Trump refere-se à suposta “dívida” da ajuda militar prestada pela anterior administração, sendo que o texto deixa de lado a ideia de que Kiev precisa de a saldar. Essa ideia estava na primeira versão do acordo, tendo Zelensky chegado a alegar que Trump queria que ele “vendesse” o seu país. O presidente norte-americano respondeu apelidando-o de “ditador”. Esse foi um dos pontos mais baixos da relação, juntamente com a reunião na Sala Oval, durante a qual Zelensky foi atacado em direto na televisão por Donald Trump e pelo vice-presidente dos EUA, J.D. Vance. Imagens bastante diferentes das de sábado passado, quando ambos tiveram a tal reunião no Vaticano, parecendo ter ultrapassado as suas diferenças. A ajuda passada não tem de ser paga, mas a futura será vista como contribuição dos EUA para o fundo de investimento que será criado para a reconstrução da Ucrânia - alimentado por novos projetos de exploração dos minerais, mas também do petróleo e do gás ucranianos. Sendo que, segundo os especialistas, 40% dos recursos estão em território atualmente ocupado pelos russos. “Vão ter de pagar os fornecimentos militares com a riqueza nacional de um país em extinção”, alegou o ex-presidente e atual número dois do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev. Da parte do Kremlin, não tinha havido esta quinta-feira ainda qualquer reação oficial ao acordo assinado na quarta-feira à noite em Washington. Para Kiev, o ponto mais negativo do acordo - que tem ainda de ser ratificado pelo Parlamento - é a ausência das desejadas garantias de segurança. A vice-primeira-ministra e titular da pasta da Economia da Ucrânia, Yulia Svyrydenko, diz contudo que “além de contribuições financeiras diretas” para o fundo”, o acordo que assinou abre a porta a “providenciar nova ajuda, por exemplo, sistemas de defesa aérea”. Não é claro o que está incluído na venda de 50 milhões de dólares anunciada pela Casa Branca ao Congresso. O secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessan, indicou no X que o acordo “marca claramente o compromisso da Administração Trump com uma Ucrânia livre, soberana e próspera”. O texto do acordo é também mais forte contra a Rússia do que tem sido a retórica da atual Administração, falando numa “invasão a larga escala da Ucrânia”. O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, diz ser um “passo importante” para o fim da guerra..EUA e Ucrânia assinam acordo para a criação de "fundo de investimento para reconstrução". O que se sabe do acordo?Fundo de investimentoO acordo sobre os minerais, assinado entre Washington e Kiev, prevê a criação de um fundo de investimento para a reconstrução da Ucrânia que vai receber 50% dos lucros da exploração dos recursos naturais deste país. Em causa estão novos projetos (não os já existentes) relacionados com os chamados minerais críticos, mas também com o petróleo e o gás. Todos os recursos naturais continuam a ser propriedade da Ucrânia, que diz que decidirá “o que extrair e onde”. Nos primeiros dez anos, os lucros do fundo são investidos “totalmente” na Economia ucraniana. Pagar a ajuda? A primeira versão do acordo era considerada por muitos como um ato de “extorsão” por parte dos EUA, que queria ver reembolsada a ajuda militar entregue pela anterior administração a Kiev - 350 mil milhões de dólares (310 mil milhões de euros). Isso não está previsto no texto que foi assinado. Mas qualquer futura ajuda será considerada uma contribuição dos EUA para o fundo. Garantias de segurançaKiev queria que o acordo incluísse garantias de segurança da parte dos EUA, mas estas estão ausentes. Contudo o texto fala na “invasão russa a larga escala da Ucrânia” (uma linguagem mais forte do que a usada por Trump no passado) e garante que “os Estados e outras pessoas que agiram de forma adversa à Ucrânia no conflito não beneficiam da reconstrução da Ucrânia após uma paz duradoura”.Ambição europeiaNa primeira versão do texto, havia potenciais problemas numa futura adesão da Ucrânia à União Europeia, porque era dado tratamento preferencial aos investidores norte-americanos. Mas a versão final reconhece a ambição ucraniana de aderir ao bloco e garante que não há conflito, abrindo até a porta a uma eventual revisão do texto caso isso aconteça. .Acordo Ucrânia-EUA sobre fundo para reconstrução não garante ajuda militar