Zelensky discursou ontem no Parlamento alemão.
Zelensky discursou ontem no Parlamento alemão.EPA/FILIP SINGER

Zelensky diz que Ucrânia não pode ter um “muro”

Ursula von der Leyen anunciou a entrega de 1,5 mil milhões de euros e o início das negociações para a adesão à UE ainda este mês.
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Volodymyr Zelensky afirmou que a Ucrânia não deve ser dividida, traçando paralelos com o Muro de Berlim num discurso no Parlamento alemão, que foi boicotado pela extrema-direita e extrema-esquerda. “Vocês podem entender por que estamos a lutar tão arduamente contra as tentativas da Rússia de nos dividir, de dividir a Ucrânia. Por que estamos a fazer absolutamente tudo para evitar um muro entre partes do nosso país”, disse o presidente ucraniano aos deputados alemães.

No mesmo discurso, Zelensky classificou como “perigosa” a retórica pró-russa atribuída aos partidos de extrema-direita na Europa, na sequência do avanço eleitoral destas forças nas recentes eleições europeias. “É perigoso - não para a Ucrânia, porque já estamos na situação mais perigosa, estamos em guerra - mas os slogans radicais pró-russos são perigosos para os vossos países”, disse.

A maioria dos deputados do partido alemão de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), bem como os deputados de um partido nacionalista de esquerda, boicotaram o discurso de Zelensky no hemiciclo. Quando subiu ao púlpito, sob aplausos, o presidente ucraniano viu-se confrontado com os lugares deixados vazios por quase todos os 77 deputados da AfD. A mesma atitude teve a maior parte dos 10 deputados do novo partido de esquerda radical BSW. “Recusamo-nos a ouvir um orador vestido com um camuflado”, explicou a direção da AfD, acrescentando que “a Ucrânia não precisa de um presidente da guerra, mas de um presidente da paz”. Já o BSW afirmou querer enviar “um sinal de solidariedade a todos os ucranianos que querem um cessar-fogo imediato e uma solução negociada”.

Este foi o culminar de um dia que Zelensky passou em Berlim, para assistir à terceira Conferência Internacional para a Reconstrução da Ucrânia, onde recebeu boas notícias e deixou alguns recados.

Duas boas notícias vieram da presidente da Comissão Europeia, que anunciou que Bruxelas vai, pela primeira vez, mobilizar em julho 1,5 mil milhões de euros para a Ucrânia obtidos a partir dos lucros com bens russos congelados, disponibilizando ainda 1,9 mil milhões em apoio financeiro europeu a Kiev. Ursula von der Leyen adiantou ainda que as conversações com a Ucrânia para aderir à União Europeia começarão no final deste mês.

De Bruxelas veio também a notícia de que foi proposto aos 27 Estados-membros estender o direito dos refugiados ucranianos de permanecerem no bloco por mais um ano, até março de 2026 - atualmente, quase 4,2 milhões de ucranianos estão registados como refugiados na UE, sendo a Alemanha, a Polónia e a República Checa os países que acolhem os maiores números.

Já o Banco Europeu de Investimento anunciou que nesta reunião em Berlim iria assinar “acordos para novos financiamentos, entregando mais de mil milhões em apoio às pequenas e médias empresas na Ucrânia e para reconstruir infraestruturas nas cidades ucranianas, como hospitais, jardins-de-infância, escolas e também abastecimento de água”, conforme explicou a sua presidente, a espanhola Nadia Calviño.

Zelensky, por seu turno, pediu mais sistemas de defesa aérea para proteger as cidades da Ucrânia e a sua infraestrutura energética, argumentando que são a resposta para travar a invasão russa. “É o terror inspirado por mísseis e bombas que ajuda as tropas russas a avançar no terreno”, disse Zelensky na conferência. “Enquanto não privarmos a Rússia da possibilidade de aterrorizar a Ucrânia, Putin não terá interesse real em procurar uma paz justa”, acrescentou, assegurando que “a defesa aérea é a resposta”.

Logo na abertura dos trabalhos, o chanceler alemão, Olaf Scholz, instou os aliados a reforçarem as defesas aéreas da Ucrânia, anunciando ainda que a Alemanha decidiu entregar a Kiev um terceiro sistema de defesa antiaérea Patriot e Iris-TSLM, tanques com armamento antiaéreo Gepard, mísseis e munições de artilharia.  

ana.meireles@dn.pt

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