Mais de 3000 agentes da polícia estiveram envolvidos na operação para deter o presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol, acusado de “insurreição” aquando da declaração da lei marcial no início de dezembro e, entretanto, destituído pelos deputados (uma ação que ainda tem de ter o aval do Tribunal Constitucional para ser oficial). O contingente policial foi reforçado depois de uma primeira tentativa frustrada de detenção, a 3 de janeiro, que envolveu um braço-de-ferro de seis horas entre a equipa de segurança do presidente (e os seus apoiantes) e as autoridades do Gabinete de Investigação de Corrupção para Altos Funcionários.“Decidi aparecer diante do Gabinete, apesar de esta ser uma investigação ilegal, para evitar qualquer derramamento de sangue desagradável”, disse Yoon num curto vídeo, divulgado pouco antes de se entregar. O presidente, de 64 anos, o primeiro oficialmente ainda neste cargo a ser detido, contou como as autoridades “invadiram” o perímetro de segurança da sua residência com equipamento de combate a incêndios. Os agentes usaram escadas e alicates para subir os muros e cortar o arame farpado que rodeia a propriedade onde se refugiou desde a declaração da lei marcial, a 3 de dezembro, que durou apenas umas horas. Yoon disse ainda que ia colaborar com as autoridades, mas ao final de dez horas de interrogatório, os investigadores revelaram que tinha ficado em silêncio - e nem sequer permitiu ser gravado em vídeo. As autoridades vão continuar o interrogatório, antes de pedir ao tribunal (passadas 48 horas) para o manter detido durante mais 20 dias. Os advogados do presidente (ele próprio um ex-procurador) consideram que o tribunal que emitiu o mandado inicial, há 15 dias, não tem jurisdição sobre o caso, nem a equipa de investigação.Apesar de, enquanto presidente, Yoon ter imunidade, esta não se aplica a casos de acusações de insurreição ou traição. Neste caso, está acusado de enviar soldados para a Assembleia Nacional depois de declarar a lei marcial de forma a evitar que os deputados revogassem a sua decisão. Yoon defende que declarar a lei marcial foi um ato de governação e, por isso, não pode ser julgado em tribunal.O presidente foi depois levado para o Centro de Detenção de Seul, onde deverá ficar numa cela isolada. Por este centro já passou, por exemplo, a ex-presidente Park Geun-hye (ela própria destituída em 2017 e, mais tarde, condenada por corrupção e abuso de poder). Depois da declaração da lei marcial, começou o caos, com o sucessor de Yoon - o até então primeiro-ministro Han Duck-soo - a ser também destituído. Atualmente é o ministro das Finanças Choi Sang-mok que ocupa a presidência interina, além da chefia do governo.susana.f.salvador@dn.pt