Um polícia atirou um homem que circulava numa moto sem matrícula por uma ponte abaixo, em São Paulo. Na mesma cidade, outro agente, de folga, executou com 11 tiros nas costas um rapaz que fugia de um supermercado após furtar quatro embalagens de detergente. Um estudante de medicina, desarmado, foi morto com um tiro no abdómen, após resistir à detenção por uma dupla, armada, de polícias paulistas. Uma senhora de 63 anos, sem cometer nenhum crime, foi ferida na garagem de casa por um grupo de agentes.Estes casos isolados somados ao aumento de 98% no número de mortes pela polícia no.Estado de São Paulo desde 2022, vem valendo críticas ao governador eleito naquele ano, Tarcísio de Freitas, eventual candidato presidencial no lugar do inelegível Jair Bolsonaro contra Lula da Silva, em 2026. .Do centro político, o campo que decidiu a última presidencial a favor de Lula, chovem críticas, o que pode prejudicar Tarcísio, suposto “bolsonarista moderado” que agrada aos mercados e à direita tradicional. E, na extrema-direita, mesmo que o governador e o seu secretário de Segurança, capitão Guilherme Derrite, até tenham ouvido mais elogios do que críticas pela brutalidade policial, ganha força o nome do deputado Eduardo Bolsonaro como candidato em nome do pai..Rafael Alcadipani, professor da Faculdade Getúlio Vargas associado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública, disse ao DN que “esta onda de execuções da polícia paulista é um ponto fora da curva da história recente”. “Mas o poder político incentiva essas ações, neste momento histórico, isso gera consequências”, acrescenta..Para outro especialista, Dennis Pacheco, do Fórum de Segurança Pública, “o uso desproporcional da força já é uma característica histórica das polícias militares no Brasil, especialmente em São Paulo”. “Então, não estamos diante de uma rutura, mas de um agravamento, as polícias seguem abusando da força contra segmentos específicos, especialmente negros das periferias”, disse à revista Carta Capital..“Tivemos avanços com o Programa Olho Vivo [criado pelo governo anterior, de João Doria], que utilizava câmaras corporais e reduziu a letalidade policial em quase 75% em dois anos, mas Tarcísio adotou uma atitude contrária ao programa, desestruturando-o, e passamos de uma política de controle de letalidade para uma que incentiva a violência”..“Eu vejo isso como cálculo político”, conclui Pacheco. E, na verdade, se os editoriais dos principais jornais do Brasil - por norma, liberais na economia e por isso simpáticos a Tarcísio mas também liberais no comportamento e, por isso, distantes do bolsonarismo - se indignaram com as imagens das execuções da polícia paulista, os políticos de extrema-direita aplaudiram..“Deveriam ter jogado de um penhasco”, disse o senador Jorge Seif, secretário das Pescas do governo Bolsonaro, a propósito do homem atirado da ponte por circular em moto sem matrícula. Ciro Nogueira, também senador e ministro da Casa Civil do governo anterior, disse ainda que Derrite merece “aplausos” e ser “candidato ao Senado ou a governador”. .“Ele pode ter perdido apoio entre os eleitores centristas que ainda existem e que foram importantes para dar a vitória por margem mínima a Lula mas a base da direita que vota nele não se deixa afetar por esses casos de brutalidade policial”, afirma Vinícius Vieira, professor de Ciência Política da Fundação Armando Álvares Penteado, ao DN..“Esta atitude agressiva policial agrada bastante à classe média e aos mais abastados e mesmo a segmentos mais pobres, não nos podemos esquecer que foram 350 anos de escravatura e a violência e sua legitimação estão internalizadas na cultura brasileira”, acrescenta Paulo Ramírez, politólogo da Escola Superior de Propaganda e Marketing.Mas, mesmo com os aplausos do bolsonarismo às execuções da polícia, Tarcísio tem concorrência no segmento. O deputado Eduardo Bolsonaro, filho de Jair, disse que o pai, que tenta reverter a inelegibilidade, é o plano A em 2026 e ele próprio o plano B, mais ou menos como sucedeu com Lula e o substituto Fernando Haddad, em 2018. “Tarcísio não terá, portanto, apoio da família a uma candidatura”, adverte Vieira..“Tarcísio é nome forte em São Paulo mas não reflete as preferências dos demais estados, todos os governadores paulistas que tentaram ser presidentes fracassaram”, lembra Ramírez, levando em consideração os casos de José Serra ou Geraldo Alckmin, governadores de São Paulo derrotados por Lula e Dilma Rousseff, em 2002, 2006 e 2010.