O que achou do discurso do presidente Donald Trump?Não houve muito de novo no conteúdo. O discurso foi um levantamento daquilo que tem feito no último mês e meio e daquilo que pretende fazer e tudo o que foi anunciado já era conhecido. A única coisa que disse que podia ser novidade foi sobre a Ucrânia e o acordo sobre minerais, mas o [presidente ucraniano Volodymyr] Zelensky já o tinha posto no X umas horas antes. O que considero interessante foi a reação dos democratas. Praticamente desde que Trump começou a falar houve distúrbios, que não são muito normais, mas indicam a polarização da política americana. Acha então que os democratas não estiveram bem?Estiveram péssimos, sobretudo porque não aplaudiram nada. Incluindo dois episódios que acho que ficam mal junto à opinião pública, que foi o anúncio daquele rapaz que entrou em West Point [academia militar]. E sobretudo no rapaz de 13 anos que tem cancro no cérebro [tem o sonho de ser polícia e Trump nomeou-o membro dos serviços secretos]. Não aplaudiram, o que é uma coisa absolutamente incompreensível porque poder-se-á criticar Trump e dizer que ele estava a usar um adolescente, mas mesmo isso não justifica terem permanecido sentados. Acho que o Partido Democrata tem um problema. É cedo, mas ainda não encontrou uma resposta para além de dizer que está tudo mal. E isso põe os democratas numa situação difícil, porque algumas destas medidas, o combate à fraude, o combate à despesa excessiva, tudo isto é muito popular na opinião pública. O cenário que Trump traça é muito positivo. O que é que acontece se não começar a dar os resultados que ele espera?Se o projeto for um fracasso terá problemas. A questão é saber quando se pode avaliar do fracasso ou do sucesso do projeto. Não será nos próximos dois ou três dias... A janela dele são dois anos, porque vai haver eleições intercalares em 2026. Na prática Trump tem dois anos para ver se tudo isto funciona. Porque se chegar a meio do mandato com a economia a piorar, com a inflação a subir, etc., então vai ter um problema muito grande e, na prática, não vai conseguir fazer mais nada nos dois anos seguintes. A questão do anti-wokismo, do combate à despesa, tudo isso é muito popular, não vejo aí problema. O problema pode estar no resultado das tarifas. Ele aliás reconheceu isso. Há uma pequena afirmação em que diz que as coisas se podem tornar difíceis. Mencionou a referência à Ucrânia, mas todo o discurso foi mais voltado para política interna. A nível externo, o discurso também não trouxe nada de novo... Não, mas isso também reflete o facto de a política externa ser de importância marginal para a opinião pública americana. Nós aqui, como os EUA têm um impacto grande nas nossas vidas, pensamos que tudo é sobre política externa. E não é. A política externa, nos EUA, é seguida pelas elites, pelos jornalistas... A CNN lançou uma sondagem há uns dias que diz que os americanos estão dividida na Ucrânia, quer dizer 48% discordam de Trump e 51% concordam. Muitos europeus têm a sensação que a opinião pública americana está prestes a levantar-se contra Trump, mas não é verdade. Falou da popularidade, a de Trump continua em alta...Eu faria uma distinção entre a popularidade de Trump e a popularidade das suas políticas. A popularidade de Trump é manifestamente inferior à popularidade das suas políticas. As pessoas gostam daquilo que está a fazer, não gostam é dele porque acham que é um bully.Mesmo assim, baixou apenas ligeiramente, ronda os 47%...Sim, mas o apoio às políticas está à volta dos 80%. Mas a popularidade do que se tornou no seu principal conselheiro continua em queda. Acha que Elon Musk poderá ser o calcanhar de Aquiles de Trump?Não. Elon Musk é um personagem diferente e acho natural que haja alguma resistência. Até porque ele tem sido o alvo dos democratas. Mas Trump é muito pragmático. Se Elon Musk começar a ser um peso, um fardo, se começar a contribuir para a impopularidade de Trump, não tenho dúvidas de que ele o afasta. Ele é um killer nesse sentido. Portanto, quando achar que ele é um problema para a sua popularidade ou para a credibilidade do seu governo, Musk voltará a ser apenas o diretor da Tesla..Entre autoelogios, Trump admite que vai haver "um pequeno transtorno".Da "América está de volta" à carta de Zelensky e à paz na Ucrânia. Os pontos chave do discurso de Trump