A União Europeia está num bom caminho para cumprir os seus objetivos climáticos de redução de 55% dos gases com efeito estufa até 2030, mas a a Comissão Europeia deixou esta quarta-feira alertas de que o caminho até lá exige mais do que promessas, e deixou alguns avisos específicos para o caso de Portugal.Segundo a avaliação do Executivo comunitário ao Planos Nacionais de Energia e Clima (PNEC), hoje publicada em Bruxelas, a UE está “bem encaminhada” para reduzir em 54% as suas emissões de gases com efeito de estufa até 2030, comparando com os níveis de 1990. Um progresso importante, tendo em conta que, em avaliações anteriores, o bloco dos 27 Estados-membros da UE aparecia em risco de falhar os seus compromissos do Acordo de Paris. No entanto, o otimismo de Bruxelas é cauteloso, pois os dados positivos dependem da implementação integral dos planos nacionais atualizados e nem todos os países estão a corresponder.Portugal é um dos casos em que Bruxelas aponta algumas falhas. Segundo a avaliação da Comissão Europeia, o país não seguiu três recomendações: eliminar subsídios aos combustíveis fósseis, reforçar a ambição em eficiência energética e apresentar um plano sólido de financiamento para a transição climática.Embora o plano português reconheça a necessidade de acabar com os apoios aos combustíveis fósseis até 2030, não define medidas concretas, nem um calendário. Também não quantifica as necessidades de investimento da transição energética e climática, nem detalha como mobilizará recursos públicos e privados.A Comissão “incentiva Portugal a garantir uma implementação atempada e completa do PNEC atualizado”, sublinha que o país deve agir rapidamente nesses capítulos e recomenda a elaboração de um roteiro com medidas específicas para pôr fim aos subsídios fósseis, melhorar a eficiência dos edifícios, combater a pobreza energética e garantir uma transição justa, com base em financiamento robusto e bem estruturado. Incentiva ainda o país a apostar mais em mobilidade elétrica, hidrogénio verde e na modernização da rede elétrica.Apesar destes pontos críticos, o relatório reconhece que Portugal cobre adequadamente as reformas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que dedica 55% do orçamento à transição verde, embora o plano esteja apenas 33% executado.A nível europeu, a Comissão também alerta para lacunas comuns: o bloco está aquém nas metas de eficiência energética (8,1% projetado face aos 11,7% exigidos) e na criação de “sumidouros de carbono” — áreas florestais e agrícolas capazes de absorver CO₂. O apoio a populações vulneráveis na transição energética também é considerado insuficiente, e poucos países enfrentam com seriedade questões como a escassez de água ou a eliminação de subsídios aos combustíveis fósseis.A conta para alcançar todas as metas da UE é alta: serão precisos 570 mil milhões de euros por ano até 2030. Mas, recorda a Comissão, em 2023 a UE gastou 430 mil milhões em importações de combustíveis fósseis, valor que poderia ser "redirecionado para garantir uma transição energética mais segura, justa e autónoma".Com uma nova meta já em vista — reduzir 90% das emissões até 2040 — a Comissão Europeia deixa um aviso claro: o esforço tem de ser coletivo e imediato. Portugal quer incluir nas metas o investimento verde nas ex-colóniasEm relação a essa nova meta até 2040, a ministra do Ambiente, Maria da Graça Carvalho, disse em entrevista recente ao site Politico que Portugal quer cumprir a sua parcela da meta climática europeia com investimentos verdes nos países da CPLP.Maria da Graça Carvalho afirmou que o país também deveria receber crédito pelas reduções de emissões que causam o aquecimento global resultantes dos investimentos portugueses em projetos de energia renovável em Cabo Verde ou São Tomé e Príncipe. “É muito importante, para nós, que os investimentos que fazemos fora da Europa possam ser contabilizados para a meta [de 2040]. Todos os anos, investimos entre 12 e 14 milhões de euros em Cabo Verde. Agora estamos a fazer o mesmo com São Tomé e Príncipe, por isso queremos que isso também seja contabilizado na meta”, assinalou a ministra, na entrevista ao Politico, adiantando que apresentará essa posição ao comissário europeu do clima, Wopke Hoekstra, esta semana. .Temperaturas globais podem bater recorde de calor em pelo menos um dos próximos cinco anos.Apagão: Ministra do Ambiente vai a Bruxelas forçar interconexão energética com França