“Uma NATO mais letal”. Rutte quer subida de 400% na defesa aérea e antimíssil e milhares de veículos militares
O secretário-geral da Aliança Atlântica pediu esta segunda-feira, 9 de junho, “um aumento de 400% na defesa aérea e antimíssil”, referindo ainda que “os nossos militares também precisam de milhares de veículos blindados e tanques a mais, milhões de projéteis de artilharia a mais”. “O facto é que precisamos de um salto quântico na nossa defesa coletiva, o facto é que precisamos de mais forças e capacidades para implementar plenamente os nossos planos de defesa, o facto é que o perigo não desaparecerá, mesmo quando a guerra na Ucrânia terminar”, referiu Mark Rutte.
Num discurso em Londres, organizado pelo think tank Chatham House nas vésperas na Cimeira da NATO, marcada para os dias 24 e 25, o neerlandês avançou ainda que “os Aliados investirão em mais navios de guerra e aeronaves".
"Para dar apenas um exemplo, os Aliados dos Estados Unidos vão adquirir pelo menos 700 caças F-35 no total. Também investiremos em mais drones e sistemas de mísseis de longo alcance. E investiremos mais em capacidades espaciais e cibernéticas.” Estes investimentos, prosseguiu Mark Rutte passarão também por infraestruturas, como estradas, caminhos-de-ferro e portos, que “são tão importantes como os tanques, os caças e os navios de guerra. Precisamos de redes de transportes civis que possam apoiar a mobilidade militar, para levar as forças certas, ao lugar certo, no momento certo”.
“É claro que, se não investirmos mais, a nossa defesa coletiva não será fiável. Gastar mais não significa agradar a um público de uma só pessoa, trata-se de proteger mil milhões de pessoas”, sublinhou.
Falando sobre a Cimeira da NATO deste mês, Mark Rutte afirmou que esta “transformará a nossa Aliança” e permitirá a construção de uma organização “mais forte, mais justa e mais letal, para que possamos continuar a manter o nosso povo em segurança e os nossos adversários à distância”. E que passará pelo aumento da meta de gastos em Defesa dos aliados de 2% para 5% do Produto Interno Bruto, como já explicado no final da semana passada — “5% não é um número retirado do nada, baseia-se em factos concretos”, disse esta segunda-feira, 9 de junho.
Falando ainda sobre a ameaça da Rússia, mas lembrando que “também enfrentamos a ameaça do terrorismo e uma competição global feroz”, o líder da NATO referiu que “a máquina de guerra de Putin está a acelerar, não a abrandar. A Rússia está a reconstituir as suas forças com tecnologia chinesa e a produzir mais armas mais rapidamente do que pensávamos”. “Em termos de munições, a Rússia produz em três meses o que toda a NATO produz num ano. E a sua base industrial de defesa deverá produzir 1500 tanques, 3000 veículos blindados e 200 mísseis Iskander só este ano. A Rússia pode estar pronta para usar a força militar contra a NATO dentro de cinco anos”, sublinhou o neerlandês.
“Não nos enganemos, estamos todos no flanco leste agora. A nova geração de mísseis russos viaja a uma velocidade muitas vezes superior à do som. A distância entre as capitais europeias é de apenas alguns minutos. Já não existe Leste ou Oeste, existe apenas a NATO”, reforçou Mark Rutte.
5% serão 3,5+1,5
Na quinta-feira, 5 de junho, após uma reunião dos ministros da Defesa da NATO, Mark Rutte anunciou que vai propor na Cimeira de Líderes, marcada para os dias 24 e 25, um aumento dos gastos com Defesa para 5% do Produto Interno Bruto, uma exigência que vem a ser feita pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“Vou propor um plano de investimento global que totalizará 5% do PIB em investimento na Defesa: 3,5% do PIB para gastos puros com Defesa, com base nos custos globais para atingir os novos objetivos de capacidade que os ministros acabaram de acordar e 1,5% do PIB anual em investimentos relacionados com a Defesa e a Segurança, como infraestruturas e indústria”, explicou o secretário-geral da Aliança, não adiantando um prazo para que esta meta seja cumprida. Mas garantiu que o plano é que os Estados Unidos cumpram também esta meta.
Horas antes, também na quinta-feira, o secretário norte-americano da Defesa já havia alertado que os países da NATO não podem ficar dependentes dos Estados Unidos, voltando a sublinhar a necessidade de gastarem mais em Defesa.
“A nossa mensagem continua a ser clara. O que está em causa é a dissuasão e a paz através da força, mas não a dependência. Não pode ser e não vai ser sobre a dependência da América num mundo de muitas ameaças", disse Pete Hegseth, insistindo que todos os países da NATO devem investir 5% do PIB em despesas de Defesa para fazer face às "ameaças" que a Aliança Atlântica enfrenta.
Canadá vai chegar aos 2% este ano
De notar que, neste momento, 23 dos 32 países-membros cumprem ou excedem a meta atual de 2% da NATO, encabeçados pela Polónia (4,12%), Estónia (3,43%) e Estados Unidos (3,37%). No fundo da lista estão Espanha (1,28%), Eslovénia e Luxemburgo (ambos com 1,29%). Portugal está também no grupo dos países que ainda não atingiram os 2% — uma meta que o primeiro-ministro Luís Montenegro garantiu que será atingida até final do ano — encontrando-se atualmente nos 1,55%, acima de potências como Itália (1,49%) e Canadá (1,37%).
Espanha e Itália já disseram também que atingirão 2% do PIB este ano.
O primeiro-ministro do Canadá anunciou esta segunda-feira, 9 de junho, que estão a reconstruir, rearmar e reinvestir nas Forças Armadas canadianas, o que irá permitir que o país atinja a meta de 2% da NATO este ano, cinco anos antes do previsto, e irão acelerar os investimentos nos anos seguintes, sendo que o investimento para 2025-26 será superior a 9 mil milhões de dólares (cerca de 7,8 mil milhões de euros).
“Num mundo cada vez mais perigoso e dividido, o Canadá precisa de afirmar a sua soberania. Adquiriremos rapidamente novos equipamentos e tecnologias, reforçaremos a nossa capacidade industrial de defesa e cumpriremos o nosso compromisso de Defesa com a NATO este ano. O Canadá aproveitará esta oportunidade com urgência e determinação”, referiu Mark Carney, num comunicado divulgado pelo executivo.
O plano agora apresentado inclui medidas como melhor remuneração para as Forças Armadas do Canadá, investimentos para apoiar a prontidão operacional, a manutenção da frota, a segurança e os requisitos de infraestruturas, novas aeronaves, veículos armados e munições, desenvolvimento de novos drones e sensores para monitorizar o fundo do mar e o Ártico, expandir o alcance, o mandato de segurança e as competências da Guarda Costeira canadiana, e integrá-la nas nossas capacidades de Defesa na NATO, reforçar a capacidade industrial de defesa do Canadá, entre outras.
Há uma semana, 14 países da NATO, a maioria no flanco leste europeu (Bulgária, República Checa, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Polónia, Roménia, Eslováquia, Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia), apoiaram publicamente a meta de 5%, o mesmo tendo acontecido com a Alemanha, enquanto que a França aponta para uma meta de 3,5% do PIB.
A maior potência militar da Europa (à exceção da Rússia e segundo dados de 2025 do Global Fire Power) é o Reino Unido, cujo primeiro-ministro anunciou no final de fevereiro um aumento sem precedentes das despesas com a Defesa desde o fim da Guerra Fria, passando de 2,3% para 2,5% do Produto Interno Bruto em 2027, com a ambição de atingir os 3% na próxima legislatura. Já este mês, Londres anunciou o seu plano de rearmamento face a ameaças como a Rússia, que entre as suas principais medidas tem a construção de até 12 submarinos nucleares equipados com armas convencionais, no âmbito da aliança militar AUKUS com os Estados Unidos e a Austrália, que irão substituir a atual frota até ao final da década de 2030.
Keir Starmer confirmou ainda que o Reino Unido vai gastar 15 mil milhões de libras (17,7 mil milhões de euros) no seu programa de ogivas nucleares e tornou pública a criação de seis novas fábricas de munições, que deverão gerar cerca de mil postos de trabalho.
Alemanha vai precisar de mais 60.000 soldados
No encontro dos ministros da Defesa da NATO da semana passada houve ainda um acordo quanto às capacidades militares de que a organização necessita.
Necessidades que, por exemplo, no que diz respeito à Alemanha, implicam 50.000 a 60.000 soldados adicionais nos próximos anos, segundo explicou o ministro da Defesa germânico, Boris Pistorius, que adiantou ainda que atingir a nova meta dos 5% representará, para Berlim, um esforço orçamental adicional de cerca de 150 mil milhões.
De notar que a Alemanha é a maior economia da União Europeia, mas não vai além do 14.º lugar em termos de poderio militar, segundo dados relativos a 2025 do Global Fire Power.
Em 2024, as Forças Armadas da Alemanha contavam com mais de 180.000 militares, com o objetivo de ultrapassar os 203.000 até 2031. No entanto, a Bundeswehr enfrenta dificuldades no recrutamento, apesar de uma ambiciosa campanha publicitária, tendo Pistorius já revelado que quer adotar rapidamente uma reforma que visa registar os jovens aos 18 anos para identificar potenciais candidatos ao serviço militar. O ministro alemão aposta "inicialmente na participação voluntária", sem descartar medidas obrigatórias devido à falta de candidatos suficientes.