As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) alertaram esta segunda-feira os habitantes de Khan Yunis para um “ataque sem precedentes” e deram ordens para que saiam dessa área no sul da Faixa de Gaza. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, diz que a nova operação militar lançada na sexta-feira visa controlar todo o enclave palestiniano, no qual voltou a permitir a entrada muito limitada de ajuda para calar as críticas internacionais. “Uma gota num oceano” de necessidades, avisam as Nações Unidas.Numa mensagem vídeo publicada nas redes sociais, Netanyahu indicou que os “melhores amigos” de Israel lhe disseram que não podiam continuar a apoiar a operação militar na Faixa de Gaza diante de “imagens de fome”. O primeiro-ministro, que não disse quem foram os seus interlocutores, explicou que a situação estava prestes a atingir a sua “linha vermelha”. A mensagem parecia destinada a acalmar a tensão política interna, com vários membros da coligação e do seu partido a criticarem a decisão. “Sr. primeiro-ministro. Os nossos reféns não têm ajuda humanitária!”, escreveu o ministro da Segurança Interna, Itamar Ben-Gvir, representante da extrema-direita israelita. Netanyahu explicou que a ajuda será “mínima”, apesar de desde março não entrar nada. “Dois meses desde o último bloqueio, dois milhões de pessoas estão a morrer de fome”, disse o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, alegando que 160 mil toneladas de alimentos “estão bloqueadas na fronteira a poucos minutos de distância”. Numa declaração ainda durante a manhã, avisou que “o risco de fome em Gaza está a aumentar com a retenção deliberada de ajuda humanitária, incluindo alimentos, no bloqueio em curso”.As declarações foram feitas antes de os camiões de ajuda humanitária voltarem a entrar na Faixa de Gaza. Mas, segundo os media israelitas, só 20 camiões o fizeram - “uma gota num oceano”, segundo o subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Tom Fletcher. Estima-se que sejam necessários 200 a 300 camiões por dia para alimentar os 2,1 milhões de palestinianos. Durante o cessar-fogo, entravam entre 500 e 600, o que levou Israel a dizer que havia alimentos suficientes no interior do enclave. A entrada de ajuda surge quando ainda não está criado o novo sistema de distribuição, que tem como objetivo contornar o Hamas. A ideia será criar quatro centros de distribuição de organizações humanitárias norte-americanas perto de bases militares israelitas, vigiados por seguranças privados. Três deles serão em Rafah, junto à fronteira com o Egito, e um no centro do enclave, obrigando os palestinianos que querem ter acesso a deslocar-se mais para sul - algo que Israel pede há semanas. As agências das Nações Unidas e outros grupos humanitários são contra este plano, alegando que a ajuda não chegará a pessoas suficientes. Os líderes do Canadá, França e Reino Unido emitiram esta segunda-feira um comunicado conjunto ameaçando com “ações concretas” caso Israel não levante as restrições “inaceitáveis” à ajuda humanitária e acabe com a ofensiva militar. ”Não ficaremos parados enquanto o governo de Netanyahu continuar estas ações escandalosas”, indicaram os primeiros ministros canadiano, Mark Carney, e britânico, Keir Starmer, e o presidente francês, Emmanuel Macron. Os três rejeitam também as tentativas de expansão dos colonatos israelitas na Cisjordânia. Os três líderes avisam ainda que estão “empenhados em reconhecer um Estado palestiniano como um contributo para alcançar uma solução de dois Estados” e estão preparados “para trabalhar com outros para esse fim”.Controlar todo o enclaveAs IDF prosseguem entretanto as operações militares, alegando ter atingido em apenas 24 horas mais de 160 alvos terrorista na Faixa de Gaza. Esta segunda-feira, pelo menos 70 palestinianos terão morrido. O porta-voz para a língua árabe, Avichay Adraee, publicou uma mensagem nas redes sociais a alertar para os ataques “sem precedentes” em Khan Yunis e nas áreas de Bani Suhaila e Abasan, pedindo aos palestinianos que vão para oeste, para Al-Mawasi. “A partir deste momento, a província de Khan Yunis será considerada uma zona de combate perigosa”, pode ler-se na publicação.Esta nova ofensiva faz parte da operação Carruagens de Gideão, cujo nome é uma referência a uma figura bíblica que foi líder militar, juiz e profeta. Gideão liderou cerca de 300 homens israelitas contra o exército muito mais numero dos Madianitas, uma tribo árabe. O ataque ocorreu durante a noite, com a força menor a rodear o acampamento da maior e a causar o pânico com o toque de trombetas, gritos de batalha e luzes, o que levou os Madianitas a virarem-se uns contra os outros.“Iniciámos a Operação Carruagens de Gideão no fim de semana; continuaremos até quebrar a capacidade de combate do inimigo, até o derrotarmos onde quer que operemos. Não podemos voltar a 7 de Outubro. Temos dois objetivos principais pela frente: o regresso dos sequestrados e a derrota do Hamas”, disse o chefe do Estado-Maior, Eyal Zamir, que no domingo esteve no norte da Faixa de Gaza. “As IDF darão flexibilidade ao governo para promover qualquer acordo de reféns”, acrescentou, dizendo que esse “não é um fim, é uma conquista” e é para isso que estão a atuar. Nas mãos do Hamas estão ainda 58 reféns que foram levados durante os ataques terroristas de 7 de outubro de 2023, no qual 1200 pessoas morreram. Estima-se que apenas 23 estão ainda vivos.