"Um dia a nossa sorte vai acabar". Líder da AIEA alerta sobre ataques na central nuclear de Zaporijia

Central nuclear encontra-se sem ligação à rede elétrica ucraniana pela sexta vez desde o início da guerra.
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O líder da agência nuclear da ONU alertou esta quinta-feira sobre o perigo de repetidas quebras de eletricidade na central de Zaporijia, na Ucrânia, depois de um novo ataque russo com recurso a mísseis a ter deixado com geradores a diesel.

A eletricidade é essencial para operar bombas que circulam a água para refrescar os reatores e piscinas com combustível nuclear.

"A cada vez que isto acontece estamos a jogar dados", afirmou o líder da AIEA, Rafael Grossi, ao conselho de administração da agência. "Se permitirmos que isso continue repetidamente, um dia a nossa sorte vai acabar", acrescentou.

Grossi tem tentado há vários meses, junto da Ucrânia e da Rússia, estabelecer uma zona de proteção em torno da central nuclear, mas as negociações parecem ter parado.

"Devemos comprometer-nos a proteger a segurança da central e precisamos de nos comprometer agora. O que precisamos é ação. Esta é a maior central nuclear da Europa", afirmou.

Grossi observou que esta foi a sexta vez que as instalações de Zaporijia ficaram sem ligação à rede elétrica desde que a Rússia passou a controlar a central nuclear, há um ano.

"Isto não pode continuar. Estou surpreendido com a complacência. O que estamos a fazer para evitar que isto aconteça?", questionou.

O ataque a Zaporijia ocorreu durante uma nova vaga de ataques russos na Ucrânia, o que levou à morte de pelo menos nove pessoas e à quebra de energia em várias regiões do país.


"A última linha de energia entre a central ocupada de Zaporijia e o sistema de energia ucraniano foram cortados como resultado de ataques com recurso a mísseis", disse a operadora Energoatom.

"Atualmente, a central (...) encontra-se em 'black out' pela sexta vez desde a ocupação, os reatores das unidades 5 e 6 foram desligadas", acrescentou a Energatom.

O operador da central precisou que 18 geradores de emergência estão a garantir a alimentação mínima da central.

"Têm combustível suficiente para 10 dias. A contagem decrescente começou", sublinhou.

"Se não for possível renovar o fornecimento elétrico externo da central, poderá ocorrer um acidente com consequências radioativas", advertiu o operador.

O exército russo ocupou, a 04 de março de 2022, nove dias depois do início da invasão, este imenso complexo nuclear no sul da Ucrânia.

A central, que chegou a produzir 20% da eletricidade ucraniana, continuou a funcionar nos primeiros meses da invasão, apesar dos períodos de bombardeamentos. Em setembro, a produção foi cortada.

Desde então nenhum dos seis reatores VVER-1000, datados da época soviética, produz energia, mas a central continua ligada ao sistema energético ucraniano e consome eletricidade produzida por este para as suas necessidades.

Anteriormente, o operador nuclear ucraniano tinha advertido que a suspensão da central levava a "uma degradação eventual de todos os sistemas operacionais e do equipamento", com a Energatom a manifestar preocupação com o "risco de um acidente nuclear" em caso de rutura da última linha elétrica de ligação da central ao sistema energético ucraniano.

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