Um Conclave com cenário pintado por Michelangelo
Mandada construir pelo Papa Sisto IV, que lhe dá nome, foi em 1492, oito anos após a morte deste, que a Capela Sistina recebeu o seu primeiro Conclave. Desde então, a eleição do papa já decorreu em vários outros locais, incluindo no Palácio do Quirinale, hoje residência oficial do presidente italiano, mas desde 1878 que todos os chefe da Igreja Católica foram escolhidos pelos seus pares debaixo do teto pintado por Michelangelo. A partir desta tarde, é ali que os cardeais se reúnem para a primeira das votações que irão determinar o sucessor do papa Francisco, que morreu no passado dia 21 de abril, aos 88 anos.
Durante uns dias (dependendo da duração do Conclave), a joia da coroa do Vaticano vai trocar o burburinho das hordas de turistas pelo silêncio e recolhimento dos cardeais eleitores, isolados do mundo e cuja única distração só poderá ser admirar as obras de arte de Michelangelo (além do teto, também autor do fresco do Juízo Final, que adorna a parede do altar), de Perugino, Botticelli ou Domenico Ghirlandaio.
Fechada ao público desde segunda-feira, a Capela Sistina tem estado a ser preparada para o Conclave. A mudança mais visível, pelo menos de fora, terá mesmo sido a instalação no teto, pelos bombeiros, da chaminé através da qual irá sair o fumo - negro se não houver papa, branco quando houver - provocado pela queima dos boletins de voto dos cardeais. Ora para queimar esses boletins, foi instalado um forno dentro da capela. Nos últimos dias, um grupo reduzido de pessoal de confiança, cuidadosamente selecionado e sob apertada vigilância para evitar qualquer tentativa de gravação ou de divulgação de informação, passou o local a pente fino à procura de câmaras escondidas, microfones ou outros dispositivos de gravação. As janelas do edifício foram tapadas, para evitar que drones possam espiar o que se passa lá dentro.
No interior foram ainda feitas algumas alterações necessárias. Com 40 metros de comprimento, por 13 de largura e 21 de altura, o interior da capela vai receber duas filas de mesas, com a segunda ligeiramente mais elevada, para que todos os cardeais se possam ver a todo o momento durante a votação. No último Conclave, em 2013, que elegeu Francisco, bastaram 12 mesas de madeira, cobertas com toalhas de cetim bege e púrpura, e cadeiras de madeira de cerejeira, com os seus nomes, para receber os 115 cardeais eleitores. Desta vez, com 132 eleitores presentes, terão de ser algumas mais.
6,7 milhões de visitas no último ano
Com arte tão emblemática como o teto pintado por Michelangelo (e seus assistentes, ou não fosse aquele um trabalho titânico), por encomenda do papa Júlio II, ou o Juízo Final, da autoria do mesmo artista mas realizado já entre 1536 e 1541, a pedido do papa Clemente VII, a Capela Sistina está integrada nos Museus do Vaticano. A capela, uma das mais importantes do Palácio Apostólico, a residência oficial do papa, foi projetada pelo arquiteto Baccio Pontelli e construída sob supervisão do arquiteto e escultor Giovannino de Dolci, entre 1477 e 1480. Datam dessa época os frescos de Perugino, Botticelli e Ghirlandaio que retratam a vida de Moisés e de Cristo. Estas obras ficaram prontas antes de o papa Sisto IV ali consagrar a primeira missa, em honra de Nossa Senhora da Assunção.
A beleza da Capela Sistina levou mesmo o escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe a afirmar que “sem ter visto a Capela Sistina, não se pode formar uma ideia apreciável do que um homem é capaz de realizar”.
No último ano, os dados mostram que os Museus do Vaticano receberam 6,7 milhões de visitantes, ficando apenas atrás do Louvre, em Paris, que teve nove milhões de visitas. Fundados no século XVI pelo Papa Júlio II, estes museus preservam uma coleção acumulada ao longo dos séculos pela Igreja Católica e pelos papas. O acervo totaliza cerca de 70 mil obras, sendo 20 mil exibidas ao público, distribuídas em 54 galerias que compõem 26 museus.