Um assassino implacável que "enchia cemitérios". Conheça Messina Denaro, o último chefe da máfia italiana

Fã de relógios Rolex e roupas de luxo, o "padrinho siciliano" deixou para trás uma longa lista de vítimas e crimes sangrentos.

"Podia ter enchido um cemitério com as pessoas que eu matei". A frase terá sido dita por Matteo Messina Denaro, o chefe da máfia mais procurado em Itália, que foi detido esta segunda-feira, após 30 anos em fuga. Conhecido como "Diabolik" e "'U Siccu" (O Magro), Matteo Messina Denaro deixou para trás um reinado de terror, alimentado pela violência e a reputação sangrenta pela qual ficou conhecido.

Denaro era o líder indiscutível do Cosa Nostra, a maior organização criminosa da Europa e uma das maiores do mundo. Um assassino implacável que, segundo se sabe, costumava torturar prisioneiros da máfia e num dos casos terá mesmo mandado matar com ácido o filho de um membro do Cosa Nostra, que abandonou o grupo.

Fã de relógios Rolex e roupas de luxo - assim como de banda desenhada e videojogos -, Denaro tinha reputação de playboy e chegou inclusive a aparecer na capa de uma revista italiana de óculos escuros, como se fosse uma estrela de rock.

Nascido em 26 de abril de 1962, em Castelvetrano, no sudoeste da Sicília, Messina Denaro cresceu no coração do crime organizado. O seu pai, Don Ciccio, era o chefe do gangue local, e terá construído um império criminoso, avaliado em milhares de milhões de euros.

Os primeiros desentendimentos com a lei começaram em 1989, quando participou numa luta sangrenta entre dois grupos rivais.

Cruel e impiedoso

Denaro foi acusado de assassinar Nicola Consales, um dono de um hotel que se queixava a uma funcionária de ter sempre "os mafiosos debaixo dos pés". Infelizmente, essa funcionária era amante de Messina Denaro.

Em 1992, fez parte de um grupo mafioso enviado a Roma para tentar matar o juiz antimáfia Giovanni Falcone. O grupo acabou por ser chamado de volta por Toto Riina, o chefe de Corleone apelidado de "a Besta", que decidiu tentar outra abordagem. Falcone foi assassinado com um carro-bomba perto de Palermo em 23 de maio de 1992.

Em julho de 1992, depois participar no homicídio de Vincenzo Milazzo, chefe do grupo rival Alcamo, estrangulou a companheira deste, que estava grávida de três meses e enterrou os dois corpos no campo.

Como chefe do grupo Castelvetrano, foi aliado do grupo mafioso Corleonesi, imortalizado nos lendários filmes "O Padrinho" (The Godfather).

Depois de Riina ter sido preso em janeiro de 1993, Messina Denaro continuou a sua estratégia de terror total, ao fornecer apoio logístico aos atentados à bomba em Florença, Milão e Roma naquele ano, que mataram 10 pessoas e feriram cerca de 100.

Procurado durante 30 anos

Messina Denaro desapareceu no verão de 1993. Durante 30 anos esteve fugido, tendo sido acusado de vários crimes, incluindo associação criminosa, homicídio, roubo e posse de explosivos.

Em 1994 e 1996, alguns dos mafiosos pertencentes à organização terrorista Cosa Nostra, tornaram-se testemunhar e trouxeram à luz do dia mais informações sobre o papel de Denaro enquanto chefe da máfia.

Em 2000, após um demorado e longo processo contra a máfia siciliana em Trapani, Denaro foi condenado à prisão perpétua. Durante o tempo em que esteve a ser procurado, Messina Denaro continuava a gerir os seus negócios. Usava o pseudónimo "Alessio" para se comunicar com os outros elementos do grupo, através de papéis.

Durante esse período, circularam muitos rumores sobre o seu paradeiro e inclusive chegou-se a pensar que teria feito uma cirurgia plástica para se tornar irreconhecível.

Denaro tinha inúmeras fontes de receita provenientes do tráfico de drogas e do jogo, tanto na Itália quanto no exterior.

"Temos a confirmação da sua presença no Brasil, Espanha, Grã-Bretanha, Áustria. Ele viaja a negócios e o seu regresso à Sicília é irregular e cada vez mais raro", disse a procuradora Teresa Principato ao jornal Il Fatto Quotidiano em 2005.

Em 2020, vários colaboradores de Messina Denaro foram presos, apertando o cerco em torno do patrão, e em outubro daquele ano, ele foi novamente condenado pelo papel no homicídio de Falcone.

Denaro foi finalmente detido na manhã desta segunda-feira numa clínica particular em Palermo, na capital da Sicília, de acordo com a divisão de operações especiais da região.

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