A 1 de fevereiro de 2021, momentos antes da tomada de posse do novo Parlamento birmanês, os militares empreenderam um golpe que pôs fim à experiência de democracia em Myanmar (antiga Birmânia). Um ano depois, a líder Aung San Suu Kyi, cujo partido tinha sido o mais votado nas eleições de novembro de 2020, continua detida (em prisão domiciliária) e a responder em tribunal por inúmeras acusações - a partir de 14 de fevereiro começa a ser julgada por fraude eleitoral - e a junta militar liderada pelo general Min Aung Hlaing não consegue controlar o país..Quando os militares tomaram o poder, os birmaneses saíram para a rua em protesto. As manifestações foram recebidas com violência da parte das autoridades e estima-se que pelo menos 1500 pessoas tenham morrido, com mais de 11 mil a serem detidas. Grupos de direitos humanos acusam a junta de tortura e execuções extrajudiciais. Aos protestos nas ruas juntaram-se as ações de vários grupos de guerrilha que se organizaram por todo o país..A frente antijunta, liderada por milícias de cidadãos apoiadas por fações étnicas, está a crescer na região de Sagaing (centro) e no estado de Kayah (leste), onde o exército realizou bombardeamentos aéreos, esvaziando a capital, Loikaw, de grande parte dos residentes, segundo a agência AFP. Mais a sul, opositores encontraram refúgio num território controlado pelos rebeldes karens, que é palco de confrontos esporádicos. A norte, uma fação da etnia kachin disse já estar pronta a "cooperar com outros grupos para estabelecer uma democracia federal"..Para assinalar o primeiro aniversário do golpe, os opositores apelaram a uma "greve silenciosa" nesta terça-feira, que visa deixar as ruas de Myanmar vazias, com os pequenos negócios a fechar as portas entre as 10.00 e as 16.00 locais. Depois, os manifestantes são convidados a fazer barulho, batendo em panelas ou fazendo soar buzinas. De acordo com a agência AP, dezenas de pessoas foram detidas na véspera do protesto para tentar que este não tenha impacto. Houve ainda avisos de que quem participar poderá ser acusado de até quatro crimes ao abrigo da lei antiterrorismo, arriscando uma pena perpétua e ter a sua propriedade confiscada..Entretanto, a junta acusou Aung San Suu Kyi, de 76 anos, de fraude eleitoral. A antiga líder, e Nobel da Paz, está detida há um ano, já foi condenada em quatro processos a um total de seis anos de prisão - por violar as leis contra a pandemia, incitar à violência contra a junta militar, omissão de medidas contra a propagação da covid-19 durante um ato eleitoral e pela importação ilegal de aparelhos de telecomunicações. Mas se for condenada por todas as acusações que ainda tem pendentes, arrisca mais de cem anos de prisão. A parte oral do novo julgamento começa no dia 14, com os juízes a dizer que deverá estar concluída em seis meses.."O povo birmanês mostrou extraordinária coragem e resiliência em defender os seus direitos humanos mais básicos e apoiar uns aos outros. Agora, é a comunidade internacional que deve mostrar determinação em apoiá-los com ações concretas para acabar com esta crise", defendeu a alta-comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet..susana.f.salvador@dn.pt
A 1 de fevereiro de 2021, momentos antes da tomada de posse do novo Parlamento birmanês, os militares empreenderam um golpe que pôs fim à experiência de democracia em Myanmar (antiga Birmânia). Um ano depois, a líder Aung San Suu Kyi, cujo partido tinha sido o mais votado nas eleições de novembro de 2020, continua detida (em prisão domiciliária) e a responder em tribunal por inúmeras acusações - a partir de 14 de fevereiro começa a ser julgada por fraude eleitoral - e a junta militar liderada pelo general Min Aung Hlaing não consegue controlar o país..Quando os militares tomaram o poder, os birmaneses saíram para a rua em protesto. As manifestações foram recebidas com violência da parte das autoridades e estima-se que pelo menos 1500 pessoas tenham morrido, com mais de 11 mil a serem detidas. Grupos de direitos humanos acusam a junta de tortura e execuções extrajudiciais. Aos protestos nas ruas juntaram-se as ações de vários grupos de guerrilha que se organizaram por todo o país..A frente antijunta, liderada por milícias de cidadãos apoiadas por fações étnicas, está a crescer na região de Sagaing (centro) e no estado de Kayah (leste), onde o exército realizou bombardeamentos aéreos, esvaziando a capital, Loikaw, de grande parte dos residentes, segundo a agência AFP. Mais a sul, opositores encontraram refúgio num território controlado pelos rebeldes karens, que é palco de confrontos esporádicos. A norte, uma fação da etnia kachin disse já estar pronta a "cooperar com outros grupos para estabelecer uma democracia federal"..Para assinalar o primeiro aniversário do golpe, os opositores apelaram a uma "greve silenciosa" nesta terça-feira, que visa deixar as ruas de Myanmar vazias, com os pequenos negócios a fechar as portas entre as 10.00 e as 16.00 locais. Depois, os manifestantes são convidados a fazer barulho, batendo em panelas ou fazendo soar buzinas. De acordo com a agência AP, dezenas de pessoas foram detidas na véspera do protesto para tentar que este não tenha impacto. Houve ainda avisos de que quem participar poderá ser acusado de até quatro crimes ao abrigo da lei antiterrorismo, arriscando uma pena perpétua e ter a sua propriedade confiscada..Entretanto, a junta acusou Aung San Suu Kyi, de 76 anos, de fraude eleitoral. A antiga líder, e Nobel da Paz, está detida há um ano, já foi condenada em quatro processos a um total de seis anos de prisão - por violar as leis contra a pandemia, incitar à violência contra a junta militar, omissão de medidas contra a propagação da covid-19 durante um ato eleitoral e pela importação ilegal de aparelhos de telecomunicações. Mas se for condenada por todas as acusações que ainda tem pendentes, arrisca mais de cem anos de prisão. A parte oral do novo julgamento começa no dia 14, com os juízes a dizer que deverá estar concluída em seis meses.."O povo birmanês mostrou extraordinária coragem e resiliência em defender os seus direitos humanos mais básicos e apoiar uns aos outros. Agora, é a comunidade internacional que deve mostrar determinação em apoiá-los com ações concretas para acabar com esta crise", defendeu a alta-comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet..susana.f.salvador@dn.pt