Tensão na Ucrânia: NATO insiste no "risco real" de uma nova guerra na Europa
O secretário-geral Jens Stoltenberg repetiu apelos para que a Rússia desanuvie a tensão criada com a presença das suas tropas na fronteira com a Ucrânia, mas alertou de novo para a possibilidade de um conflito armado.
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, advertiu esta sexta-feira que há um "risco real de um novo conflito armado" na Europa por causa da Rússia, durante uma visita a uma base militar na Roménia.
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Stoltenberg repetiu apelos para que a Rússia desanuvie a tensão criada com a presença das suas tropas na fronteira com a Ucrânia, mas alertou de novo para a possibilidade de um conflito armado.
"O número de tropas russas está a aumentar enquanto os tempos de aviso diminuem", disse Stoltenberg, citado pela agência France-Presse (AFP).
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O político norueguês disse que há o risco de uma invasão da Ucrânia em grande escala, mas também de outro tipo de ações, como "tentativas de derrubar o Governo em Kiev, ciberataques e outras formas de agressão russa".
"Temos visto a retórica ameaçadora do lado russo e sabemos que há numerosos agentes de inteligência russos a operar dentro da Ucrânia", disse Stoltenberg, segundo a agência espanhola EFE.
Estes fatores, associados a experiências passadas em que a "Rússia utilizou a força contra a Ucrânia" e outros países vizinhos, levam a NATO a acreditar que a possibilidade de uma guerra iminente é agora uma realidade.
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) falava na base militar Mihail Kogalniceanu, no sudeste da Roménia, perto do Mar Negro, numa conferência de imprensa com o Presidente romeno, Klaus Iohannis.
"Estamos a atravessar a crise mais grave desde a queda da Cortina de Ferro", disse, por sua vez, Iohannis, denunciando a "estratégia de intimidação" da Rússia.
O Ocidente acusa a Rússia de ter reunido dezenas de milhares de tropas junto à fronteira da Ucrânia para invadir novamente o país, depois de lhe ter anexado a península da Crimeia em 2014, e de apoiar, desde então, uma guerra separatista no Donbass (leste ucraniano).
A Rússia nega essa intenção, mas condiciona o desanuviamento da crise a exigências que diz serem necessárias para garantir a sua segurança, incluindo garantias de que a Ucrânia nunca fará parte da NATO.
Referindo-se à preocupação da NATO com a "concentração de tropas e a retórica ameaçadora da Rússia", Stoltenberg disse que os aliados estão unidos e determinados a reagir.
"É por isso que a presença das tropas da NATO na Roménia é tão importante", disse.
A visita de Stoltenberg e Iohannis assinalou o início da chegada àquela base romena de 1.000 soldados norte-americanos provenientes da Alemanha para reforçar as capacidades de defesa no flanco oriental da NATO.
Stoltenberg também saudou os soldados alemães e italianos que operam aviões na base, localizada perto do Mar Negro, cerca de 500 quilómetros a oeste da península da Crimeia.
Saudou igualmente a disponibilidade da França para liderar um grupo de combate que a NATO planeia destacar para a Roménia, país que faz fronteira com a Ucrânia.
Stoltenberg também confirmou a chegada esta sexta-feira, à Bulgária, de aviões de caça espanhóis para reforçar a missão de policiamento aéreo no país dos Balcãs, que aderiu à NATO juntamente com a Roménia em 2004.
Biden alerta que conflito entre EUA e Rússia será uma "guerra mundial"
O Presidente dos Estados Unidos Joe Biden voltou a aconselhar os seus cidadãos na Ucrânia a deixarem o pais, lembrando que um possível conflito entre as forças norte-americanas e russas será uma "guerra mundial".
Numa entrevista ao canal NBC News, o chefe de Estado norte-americano voltou a emitir um alerta para os cidadãos do seu país na Ucrânia. "Os cidadãos norte-americanos devem sair agora", referiu Biden.
"Não é como se estivéssemos a lidar com uma organização terrorista. Estamos a lidar com um dos maiores Exércitos do mundo. É uma situação muito diferente e as coisas podem enlouquecer rapidamente", acrescentou.
Questionado sobre quais cenários é que podiam leva-lo a enviar militares para resgatar norte-americanos em fuga do país, Biden atirou que "não existem".
"Esta será uma guerra mundial quando os norte-americanos e a Rússia começarem a atirar uns nos outros", frisou. "Estamos num mundo muito diferente do que já estivemos", apontou ainda.
Na quinta-feira o Departamento de Estado tinha emitido um aviso de que os Estados Unidos "não poderão evacuar cidadãos norte-americanos em caso de ação militar russa em qualquer lugar da Ucrânia".
Em caso de conflito na Ucrânia, o serviço consular regular seria "severamente impactado", explicava.
Na quarta-feira, a Casa Branca aprovou um plano do Pentágono para que os seus militares destacados na Polónia construam abrigos temporários e possam auxiliar cidadãos norte-americanos numa eventual retirada da Ucrânia, em caso de invasão pela Rússia.
Este plano envolveria os 1.700 militares que o chefe de Estado norte-americano autorizou que fossem destacados para a Polónia na semana passada.
Estas tropas, da 82.ª Divisão Aerotransportada, não estão autorizadas a entrar na Ucrânia em caso de conflito, e não há planos para que participem em operações de evacuação aérea, como as que ocorreram no Afeganistão, segundo revelaram fontes oficiais ao canal televisivo CNN.
Mas nos próximos dias estes militares vão construir abrigos, como tendas e outras instalações temporárias, na fronteira polaco-ucraniana, segundo noticiou também a CNN e o The Wall Street Journal.
Segundo uma avaliação militar e da inteligência norte-americana, os militares russos podem lançar uma invasão em grande escala, com tanques, que poderiam chegar à capital ucraniana, Kiev, em 48 horas.
Biden realçou ainda que se Putin é "tolo o suficiente para entrar, ele é inteligente o suficiente para, de facto, não fazer nada que possa impactar negativamente os cidadãos norte-americanos".
Questionado se transmitiu essa ideia ao chefe de Estado russo, Biden respondeu que "sim".
A Ucrânia e os seus aliados ocidentais acusam a Rússia de ter concentrado dezenas de milhares de tropas na fronteira ucraniana para invadir novamente o país, depois de lhe ter anexado a península da Crimeia em 2014.
A Rússia nega qualquer intenção bélica, mas condiciona o desanuviamento da crise a exigências que diz serem necessárias para garantir a sua segurança, incluindo garantias de que a Ucrânia nunca fará parte da NATO.