O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, defendeu esta quinta-feira, em Lodz, centro da Polónia, a criação de um tribunal especial para julgar os crimes de guerra na Ucrânia ideia que a Rússia já respondeu que não terá "nenhuma legitimidade"..Em declarações à imprensa à margem da 29.ª cimeira ministerial da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Borrell sublinhou que a União Europeia (UE) vai desbloquear uma contribuição adicional de 1.000 milhões de euros para apoiar Kiev..O Alto Representante para os Assuntos Exteriores e Política de Segurança dos 27 condenou a "violação da lei e dos princípios da UE", aludindo à invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro, adiantando que a proposta que vai ser estudada pelos Estados membros da OSCE..Para "criar uma nova ordem de segurança na Europa", Borrell garantiu que colocará sobre a mesa "primeiro na UE", e, depois, noutros países, "a proposta de apoiar o Ministério Público ucraniano" a acumular provas de crimes de guerra cometidos pela Rússia e a criação de um tribunal especial para lidar com esses crimes.."A Rússia está a transformar o inverno numa arma, com a destruição das infraestruturas civis na Ucrânia e, por isso, tem de pagar a reconstrução", sublinhou..Borrell lembrou que a UE congelou fundos do Banco Central da Rússia e de oligarcas russos, recursos que poderiam ser usados para reconstruir a Ucrânia.."Apreendemos mais de 20.000 milhões de euros de oligarcas e pessoas do sul da Rússia, e controlamos cerca de 300.000 milhões de euros em recursos financeiros do Banco Central da Rússia. Esse dinheiro deve ser utilizado para a reconstrução da Ucrânia", frisou Borrell..Varsóvia, que este ano ocupa a presidência rotativa da OSCE, que conta com 57 membros, entre eles a Rússia e a Ucrânia, recusou a entrada do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, decisão que Moscovo considerou como "uma provocação", ficando o Kremlin representado pelo embaixador na organização..Nas declarações aos jornalistas, e repetindo o que já afirmara na reunião da OSCE, o chefe da diplomacia europeia denunciou veementemente a agressão da Rússia à Ucrânia, considerando que constituiu uma violação do direito internacional e dos princípios da própria organização.."A Rússia trouxe a guerra para a Europa, minou a carta da ONU e falhou em cumprir as obrigações internacionais", frisou, acrescentando que a Europa e o mundo "precisam de uma nova ordem de segurança na Europa".."A Rússia destruiu completamente a [ordem internacional] que tínhamos", sustentou, razão pela qual anunciou a proposta para "apoiar o Tribunal Penal Internacional para crimes de guerra russos" na Ucrânia,.A Rússia, por sua vez, denunciou as tentativas do Ocidente para se apropriar dos fundos soberanos russos com a desculpa do conflito ucraniano e recusou a ideia de um tribunal para julgar crimes de guerra russos na Ucrânia, considerando que não terá "nenhuma legitimidade".."No que diz respeito a essas tentativas de criar tribunais, elas não terão legitimidade. Não as aceitamos. Condenamo-las", disse aos jornalistas o porta-voz presidencial russo, Dmitry Peskov, que adiantou que a Rússia está, ela própria a realizar uma "investigação intensiva e pormenorizada de todos os crimes do regime de Kiev".."É um trabalho diário, que é feito praticamente hora a hora", frisou Peskov, que destacou a importância de juntar a essas investigações os "dados sobre os crimes cometidos pelo regime desde 2014", aos quais, "infelizmente, não houve uma reação crítica do Ocidente"..A ofensiva militar lançada em 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,8 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945)..A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas..Até quarta-feira, a ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.655 civis mortos e 10.368 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.