O presidente norte-americano, Donald Trump, quer que se deixe de falar do caso Epstein, mas os seus apoiantes não parecem interessados em fazê-lo. A teoria da conspiração que alimentou durante a campanha para conseguir votos, está a virar-se contra o republicano. E não ajuda que tenha sido amigo de Jeffrey Epstein no passado. Quem era Jeffrey Epstein?O antigo professor transformado em agente financeiro dos ricos e famosos, ele próprio rico e famoso, Jeffrey Epstein começou a ter problemas com a justiça em 2005. Nesse ano, os pais de uma jovem de 14 anos acusaram-no de molestar a filha na sua casa em Palm Beach, na Florida. As buscas da polícia revelaram várias fotos de menores pela casa, mas os procuradores acabariam por chegar a um acordo. Epstein evitou uma acusação federal pela qual podia ser condenado a prisão perpétua em troca de uma pena de 18 meses de prisão (com autorização para trabalhar do escritório durante 12 horas por dia) por solicitação de prostituição com uma menor. O seu nome e foto foram também colocados na lista de criminosos sexuais.. Mas o acordo também acabou com a investigação a alegados cúmplices. O responsável pelo acordo foi o procurador Alexander Acosta, que mais tarde seria secretário do Trabalho de Trump e que se demitiu quando o escândalo rebentou em 2019. Epstein foi detido quando regressava de uma viagem a Paris, acusado de traficar dezenas de raparigas, algumas de apenas 14 anos, e de fazer sexo com elas. Ele negou sempre as acusações, tendo sido encontrado morto na sua cela numa prisão de alta segurança em Nova Iorque enquanto aguardava o julgamento. A sua morte foi declarada suicídio. O que é o ficheiro Epstein?Ambas as investigações permitiram recolher milhares de documentos, incluindo material confiscado nas várias residências de Epstein e transcrições de entrevistas com vítimas e testemunhas.Ao longo dos anos, algum deste material foi sendo revelado. Um primeiro pacote, de 1400 documentos, foi conhecido em janeiro de 2024. Mas não continha informação nova. Um segundo pacote, com 341 páginas, foi divulgado em fevereiro deste ano, já com Trump na Casa Branca, com a procuradora-geral Pam Bondi a dizer que era "a primeira fase da desclassificação do ficheiro Epstein". Mas também não tinha nada de novo. Há vídeos no ficheiro, mas não diretamente de Epstein, mas material pornográfico que retirou da Internet. No início deste mês de julho, o Departamento de Justiça e o FBI indicaram contudo que, após verificarem 300 gigabytes de dados, não iam divulgar mais material, alegando que isso poderia prejudicar as vítimas e que não havia uma "lista de clientes". Além disso, confirmaram que Epstein se tinha suicidado na prisão.Quais são as teorias da conspiração em torno do caso?O caso tem, como escreveu o jornal The New York Times, demasiados elementos que alimentam a especulação e as teorias da conspiração: "uma pessoa rica, com ligações políticas, que se safa de crimes horríveis durante anos, uma aparente relutância das autoridades governamentais em punir os infratores e depois uma morte súbita em circunstâncias aparentemente suspeitas".O caso é aproveitado tanto pelos republicanos como pelos democratas, sendo que os primeiros estão especialmente interessados na informação. Para o movimento MAGA (Make America Great Again) de Trump, existe uma cabala em torno de um grupo de pedófilos que atuam ao mais alto nível da sociedade norte-americana. Ao longo dos anos tem-se falado de uma suposta "lista de clientes", que poderia implicar outros ricos e famosos nos crimes de Epstein. Para muitos, Epstein chantageava estas pessoas. O Departamento de Justiça revelou que afinal não há uma lista, mas isso não calou as teorias da conspiração. Em fevereiro, quando questionada pela Fox News sobre a lista, a procuradora-geral respondeu: "Está em cima da minha secretária agora para ser revista." Bondi explicou já este mês que estava a referir-se ao ficheiro completo, não à lista. Jornalistas que lidam há anos com este caso dizem que não há uma lista, apenas um diretório de contactos, onde estavam os amigos de Epstein, mas também outras pessoas com quem lidava, do jardineiro ao barbeiro.Há alguns nomes nos documentos que já vieram a público, como por exemplo do ex-presidente Bill Clinton ou do príncipe André, do Reino Unido. Ambos seriam amigos de Epstein, tendo negado sempre conhecer os seus crimes. O príncipe André, contudo, chegou a acordo judicial em 2022 com uma mulher que alegou que tinha sido obrigada a ter sexo com ele quando tinha apenas 17 anos.Outra das teorias da conspiração prende-se com a própria morte de Epstein, havendo quem suspeite que tenha sido morto para não revelar o que sabia. A Administração de Trump revelou no início do mês um vídeo que mostra o exterior da zona de celas onde estava Epstein na noite em que morreu, para mostrar que ninguém tinha entrado, mas falta um minuto no vídeo, o que não ajudou a calar as teorias da conspiração. Onde é que entra Trump?O presidente norte-americano foi amigo de Epstein na década de 1990, tendo ambos tido um desacordo já no início dos anos 2000. A Casa Branca disse que foi por causa do seu comportamento - "o presidente expulsou-o do seu clube por ser um pervertido" - mas há também quem diga que foi por causa de uma propriedade que ambos queriam. "Conheço o Jeff há 15 anos. Um tipo incrível", disse Trump à New York Magazine para um perfil de Epstein em 2002. "É muito divertido estar com ele. Dizem até que gosta de mulheres bonitas tanto quanto eu, e muitas delas são mais novas." Mas em 2008, o agora presidente já dizia que não era "fã" dele. O próprio Epstein disse, a determinada altura, que tinha sido "o mais próximo amigo do Donald durante dez anos". Esteve, por exemplo, no seu segundo casamento, tendo vindo também a público várias fotos de ambos. Quando Epstein foi encontrado morto na cela, Trump partilhou na altura nas redes sociais uma mensagem que alegava que os Clinton tinham sido os responsáveis, tendo dito também que Bill Clinton tinha viajado para a ilha privada de Epstein - para onde alegadamente levava também várias menores. Trump disse na campanha eleitoral que iria divulgar os ficheiros de Epstein se fosse eleito e muitos dos membros da sua Administração estão entre os maiores apoiantes das teorias de conspiração em torno do pedófilo. O nome de Trump está nos ficheiros de Epstein?Segundo o Wall Street Journal, Trump foi informado em maio por Pam Bondi que o seu nome está em vários documentos do ficheiro Epstein. Isso não significa que esteja envolvido em qualquer crime, falando-se, por exemplo, que consta da lista das pessoas que participaram no livro dos 50 anos do pedófilo. O mesmo jornal revelou que o presidente escreveu uma mensagem dentro do contorno do desenho de uma mulher nua (Trump nega e está a processar o jornal de Rupert Murdoch). Mas o facto de ter sido informado (e aos jornalistas disse que não foi) só piora a situação para o presidente, que cada vez que é perguntado sobre caso tenta desviar o tema. O presidente entrou mesmo em choque com os seus apoiantes MAGA, ao alegar que o ficheiro Epstein era uma "farsa" dos democratas e que eles estavam a cair na armadilha. .Trump procura conter a revolta no MAGA por causa da lista Epstein. No início de junho, o milionário Elon Musk escreveu no seu X em plena guerra com Trump que ele "está nos ficheiros Epstein" e que "é por isso que eles não foram tornados públicos". O antigo aliado do presidente acabou por apagar essa mensagem, que reacendeu o debate. E agora?A Casa Branca está a tentar deixar cair o tema, mas não está a ser fácil. O próprio Congresso está a exigir que os documentos sejam revelados, tendo a liderança republicana mandado toda a gente mais cedo de férias para evitar um voto sobre o tema. O Congresso já enviou contudo uma intimação para o Departamento de Justiça a exigir a divulgação de todos os ficheiros e chamou Ghislaine Maxwell para testemunhar. A socialite britânica é a antiga namorada de Epstein, tendo sido condenada a 20 anos de prisão por vários crimes, incluindo tráfico sexual de menores. Era ela a responsável por recrutar e preparar as menores para ele.A cúmplice de Epstein está a ser entretanto interrogada na prisão pelo vice-procurador-geral dos EUA, Todd Blanche, antigo advogado pessoal de Trump. Um interrogatório que já vai no segundo dia e que não é normal, levantando questões sobre que tipo de acordo é que Maxwell está a tentar fazer. "Maxwell respondeu a todas as perguntas. Ela nunca parou. Ela nunca invocou um privilégio. Ela nunca se recusou a responder. Ela respondeu a todas as perguntas com sinceridade, honestidade e da melhor forma possível", disse o advogado, no final do primeiro dia. .Cúmplice de Jeffrey Epstein interrogada pela Justiça dos EUA