O antigo líder terrorista transformado em presidente da Síria, Ahmed al-Sharaa, entrou por uma porta lateral e não teve qualquer contacto com os jornalistas durante a sua visita histórica à Casa Branca. Sobre o que falou com o presidente dos EUA, Donald Trump, apenas três dias depois de o seu nome ser retirado da lista de terroristas (Washington chegou a oferecer uma recompensa de dez milhões de dólares pela sua cabeça), só se sabe o que Al-Sharaa escreveu no Telegram e que foram suspensas as sanções da Lei César de 2019 contra a Síria. Foi uma reunião “com foco nas relações bilaterais” e “em fomas de as reforçar e desenvolver, bem como numa série de questões regionais e internacionais de interesse comum”, escreveu a presidência síria no Telegram. Já Trump, mantinha o silêncio sobre o encontro na sua Truth Social. A delegação síria não entrou pela porta principal da West Wing (ala oeste), como é normal na visita de líderes estrangeiros para permitir aos jornalistas testemunhar o cumprimento entre o presidente e os convidados. Al-Sharaa, o primeiro líder sírio a visitar a Casa Branca desde a independência do país em 1946, entrou por uma entrada lateral e não tinha Trump à espera, com os media a apanharem o momento só através da vedação.. Da mesma forma, os jornalistas não tiveram acesso à sala de reuniões - nem sequer para tirar fotos do momento, com o acesso a ser reservado ao fotógrafo oficial. A Casa Branca confirmou que o encontro seria privado e fechado, algo que não tem sido habitual com Trump. Cerca de duas horas depois de entrar, Al-Sharaa saiu e aproveitou para cumprimentar muitos apoiantes sírios que estavam no exterior. Na multidão não parecia haver críticos, sendo o presidente contestado por muitos por causa da violência sectária que visa as minorias religiosas no seu país. O presidente sírio chegou aos EUA com o objetivo de reverter as sanções ao seu país, nomeadamente a chamada Lei César. Apesar de Trump já ter assinado um ato executivo há uns meses, depois de se cruzarem na Arábia Saudita, é preciso um voto do Congresso para o confirmar. Contudo, o Departamento do Tesouro anunciou esta segunda-feira (10 de novembro) a suspensão das sanções por 180 dias (exceto as sobre transações com a Rússia e o Irão, assim como as sanções contra o ex-líder Bashar al-Assad e seus associados). Sem as sanções, a Síria poderá regressar ao sistema financeiro global, facilitando os investimentos e os negócios e a reconstrução do país após 13 anos de guerra civil (o Banco Mundial estima que são precisos 216 mil milhões de dólares para isso). Aproveitando a visita aos EUA - a segunda desde setembro, quando discursou na Assembleia Geral das Nações Unidas - o presidente sírio também reuniu com a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI). “Discutimos a transformação económica de que os sírios precisam e merecem - e que o seu Governo está a tornar possível. Reiterei a disponibilidade do FMI para ajudar, inclusive através do nosso apoio técnico já existente a instituições-chave”, escreveu no X Kristalina Georgieva. Para os EUA, Al-Sharaa representa uma oportunidade de futuro para a Síria e para a região, apesar daquilo que ele representou no passado. O atual presidente sírio já foi conhecido como Abu Mohammad al-Julani, combateu contra os americanos no Iraque após a invasão de 2003, esteve detido numa prisão gerida pelos militares dos EUA, saiu para liderar a Frente Al-Nusra (o braço da Al-Qaeda na Síria) antes de virar as costas a esse grupo terrorista e à ideia de jihad (guerra santa) contra o Ocidente. .Al-Sharaa: da lista de terroristas a reunir com Trump na Casa Branca.Washington oferecia uma recompensa de 10 milhões de dólares pela sua cabeça e a aliança que formou e que controlou durante anos a região de Idlib, a Hay’at Tahrir al-Sham (HTS), estava na lista norte-americana de organizações terroristas. Foi essa mesma aliança que, em dezembro do ano passado, liderou uma ofensiva surpresa que acabou por derrubar o regime Assad que estava no poder desde 2000 (o seu pai, Hafez, controlou o país desde a década de 1970). Na sua visita à Casa Branca, Al-Sharaa terá aceitado juntar-se à coligação norte-americana contra o Estado Islâmico - que já conta com 89 países. Nada que preocupe o presidente. Fontes sírias indicaram à Reuters que Damasco já travou pelo menos duas tentativas do Estado Islâmico para matar Al-Sharaa. Apesar de ter conhecido o líder do grupo na prisão, o atual presidente sírio rejeitou todas as tentativas de fusão com o Estado Islâmico que ocorreram quando liderava a Frente Al-NursaTrump também queria que a Síria aderisse aos chamados Acordos de Abraão, de estabelecimento de relações com Israel, mas essa será uma linha vermelha para Al-Sharaa - que quer contudo um acordo para pôr fim à presença dos militares das Forças de Defesa de Israel no seu país.