Ao apresentar Donald Trump a um segundo grupo de convidados que seguiram a cerimónia da tomada de posse no centro de visitas do Capitólio, o recém-empossado vice-presidente J. D. Vance descreveu o discurso do novo presidente como uma “maneira dos diabos de começar os quatro anos” de mandato. “Não sabia exatamente o que o presidente iria dizer e esperava que não se retraísse, e o senhor não se retraiu.” Versão diferente apresentou o 47.º presidente dos Estados Unidos, ao admitir que optou por um discurso “unificador” e “bonito”, tendo deixado alguns temas de fora a pedido do próprio Vance e da mulher, Melania. Ainda assim, os alarmes soaram nas chancelarias quando o norte-americano mais velho a tomar posse na chefia do país - 78 anos, batendo o recorde de Joe Biden - falou em “levar a bonita bandeira para novos horizontes” e ameaçou o Panamá de “retomar” o seu Canal. Apesar das ameaças veladas, apresentou-se como a solução para todos os males, no seu país e no mundo, e disse que quer deixar um legado enquanto “pacificador e unificador”. Afinal, disse, foi “salvo por Deus para tornar a América grande de novo”. .“Os navios americanos estão a ser sobretaxados severamente e acima de tudo a China está a operar o Canal do Panamá e nós não o demos à China. Demos o Canal ao Panamá. E vamos retomá-lo.”Donald Trump. Donald Trump começou e terminou o discurso de tomada de posse com a mesma ideia: chegou “a idade de ouro” dos Estados Unidos. “A partir deste dia, o nosso país florescerá e voltará a ser respeitado em todo o mundo. Seremos a inveja de todas as nações e não permitiremos que continuem a aproveitar-se de nós. Colocarei muito simplesmente a América em primeiro lugar. A nossa soberania será recuperada. A nossa segurança será restaurada. A instrumentalização viciosa, violenta e injusta do Departamento de Justiça e do nosso governo terminará. E a nossa principal prioridade será criar uma nação que seja orgulhosa, próspera e livre”, afirmou.Pelo meio, no discurso lido no teleponto num tom menos vigoroso do que é habitual, ficaram críticas à administração cessante, que diz fazer parte de um um “sistema radical e corrupto” e responsável por “uma crise de confiança”dos cidadãos. “Atualmente, temos um governo que não consegue gerir uma simples crise interna e que, ao mesmo tempo, tropeça num catálogo contínuo de acontecimentos catastróficos no estrangeiro”, apontou. Lamentou que o país seja incapaz de prestar ajuda em emergências como a que ocorreu há meses na sequência de um furacão na Carolina do Norte e a que ocorre agora com os incêndios em Los Angeles, de o sistema de saúde “não funcionar em tempos de catástrofe” e de a educação “ensina as crianças a terem vergonha de si próprias”..“Mediremos o nosso sucesso não só pelas batalhas que vencermos, mas também pelas guerras que acabarmos e, talvez mais importante, pelas guerras em que nunca nos metermos.”Donald Trump. A imigração, sem surpresa, foi um dos temas principais. Acusou a administração Biden de conceder “financiamento ilimitado para a defesa das fronteiras estrangeiras, mas que se recusa a defender as fronteiras americanas”, pondo no mesmo patamar os imigrantes e exércitos invasores. Voltou a dizer, sem qualquer prova, que muitos imigrantes são “criminosos perigosos, muitos deles provenientes de prisões e instituições psiquiátricas que entraram ilegalmente” no país. Durante a campanha eleitoral, o republicano acusou o Congo (não especificou se a República do Congo ou se a República Democrática do Congo) por “esvaziar as prisões” e que estes ex-reclusos estavam a entrar no país. Ao contrapor o estado das coisas com a sua nova administração, Trump disse que o “declínio acabou” e anunciou algumas medidas de primeira hora. A primeira anunciada foi declarar uma emergência na fronteira sul. “Todas as entradas ilegais serão imediatamente interrompidas e iniciaremos o processo de devolução de milhões e milhões de estrangeiros criminosos aos locais de onde vieram.” Para dar corpo a essa medida prometeu enviar tropas para a fronteira com o México. Além disso, os cartéis de narcotráfico vão ser designados organizações terroristas. Trump disse também que vai invocar uma lei de 1798 “para utilizar todo o imenso poder das forças policiais federais e estaduais para eliminar a presença de todos os gangues e redes criminosas estrangeiras”.Outras prioridades anunciadas passam pela luta contra a inflação, tendo atribuído a mesma à crise da energia, pelo que os EUA vão voltar a apostar na extração de petróleo e de gás para “voltar a ser uma nação rica” graças ao “ouro líquido” que está “debaixo dos pés”. Em paralelo, toda a política de transição energética de Biden será revertida, ao acabar com o Green New Deal e revogar a aposta nos veículos elétricos. “Por outras palavras, poderão comprar o carro da vossa escolha. Voltaremos a construir automóveis na América a um ritmo que ninguém poderia ter sonhado ser possível há apenas alguns anos”, prometeu. Mais tarde, a Casa Branca anunciou que os EUA iriam sair de novo do Acordo de Paris, no qual os países se comprometem em cumprir metas para evitar o aquecimento global abaixo de dois graus Celsius até ao fim do século. .“Acabarei também com a política de tentar fazer engenharia social da raça e do género em todos os aspectos da vida pública e privada. Forjaremos uma sociedade sem preconceitos de cor e baseada no mérito.”Donald Trump.No discurso de tomada de posse, foram ainda prometidas medidas que passam por “taxar os outros países”, referindo-se às taxas aduaneiras pagas pelos consumidores norte-americanos relativas aos produtos importados; acabar com qualquer medida de “censura do governo” para permitir a liberdade de expressão; e por terminar com as políticas de inclusão das minorias sexuais. “Só há dois géneros, masculino e feminino.” .Trump promete "idade de ouro" para a América: "O futuro é nosso"