A Turquia juntou-se ao Egito e ao Qatar nos esforços para obter do Hamas uma resposta positiva ao plano apresentado na segunda-feira pelo presidente dos Estados Unidos. Ontem, Donald Trump voltou a falar sobre o tema, ao afirmar que a organização islamista tinha até quatro dias para se manifestar sobre um documento que o primeiro-ministro israelita conseguiu manobrar em seu favor nas horas que antecederam a sua revelação. E ao ultimato acrescentou: “Pagarão no inferno se não assinarem [o acordo].”Majed Al-Ansari, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar, confirmou que a Turquia está a participar nas negociações com o Hamas. Em declarações numa conferência de imprensa, o homem que é também conselheiro do primeiro-ministro disse ainda que os esforços do Qatar, do Egito e da Turquia seriam “coordenados de forma coletiva” com o objetivo de pôr termo ao conflito. Segundo os meios de comunicação turcos, o diretor dos serviços de informações daquele país, Ibrahim Kalin, viajou para Doha na terça-feira. O presidente norte-americano recebeu Recep Tayyip Erdogan na quinta-feira passada, na Casa Branca, e Gaza foi um dos temas na agenda. Trump não esconde a sua admiração pelo líder turco, tendo dito em tom de elogio que “é alguém que sabe melhor do que ninguém o que são eleições fraudulentas” e que “assumiu o controlo da Síria” tendo agora “toda aquela gente como seus auxiliares”, referindo-se ao novo poder em Damasco. No final da reunião, nem Erdogan se comprometeu em deixar de comprar petróleo e gás a preço de saldo à Rússia - é o terceiro cliente de Moscovo -, nem Trump prometeu levantar o embargo da venda de aviões de caça norte-americanos. No entanto, Ancara disse ter chegado a um “entendimento” quanto à forma de chegar ao cessar-fogo e à paz duradoura em Gaza. Além da relação pessoal entre os líderes, a administração Trump vê na Turquia o potencial para resolver as guerras em Gaza e na Ucrânia, o que explica por que se junta ao Egito e Qatar. Dois dias antes, Erdogan fez parte do grupo de líderes de oito países muçulmanos e árabes que se reuniram com Trump à margem da Assembleia Geral da ONU. A discussão do plano de paz gizado pela administração Trump com outras partes começou nesta reunião em Nova Iorque. Grupo que, na terça-feira, em declaração conjunta, saúda “o papel do presidente norte-americano e os seus esforços sinceros para pôr termo à guerra em Gaza”. A Turquia, Egito, Jordânia, Arábia Saudita, Qatar, os Emirados Árabes Unidos, Indonésia e Paquistão mostram-se ainda “disponíveis para se envolver de forma positiva e construtiva com os Estados Unidos e com as partes interessadas, com o intuito de finalizar o acordo e assegurar a sua aplicação”..Acordo de paz está nas mãos do Hamas após acordo entre Trump e Netanyahu.Em Doha, o primeiro-ministro confirmou que o pedido de desculpas da véspera por parte do israelita Benjamin Netanyahu, e sobretudo a promessa de que não irá atacar de novo o Qatar, levou a que o emirado voltasse ao papel de mediador. Porém, o xeque Mohammed bin Abdulrahman al-Thani - que acumula o cargo de primeiro-ministro e chefe da diplomacia - disse que há vários pontos do plano de Trump a necessitar não só de esclarecimento, mas também de negociações, disse à Al Jazeera. Segundo a estação financiada pelo emirado, o primeiro-ministro considerou o plano uma lista de “princípios”, cujos “pormenores precisam de ser discutidos”, como por exemplo a retirada das forças de Israel.Sobre o Hamas, também financiado pelo Qatar, disse: “Explicámos ao Hamas durante a nossa reunião de ontem [segunda-feira] que o nosso objetivo principal é parar a guerra. O Hamas agiu de forma responsável e prometeu estudar o plano.” Resta saber que meios terá o Qatar, ou outras partes, para conseguir que o plano sofra eventuais modificações, tal como Netanyahu o fez. Como notou um diplomata de um dos países mediadores ao Times of Israel, o chefe do governo israelita aproveitou o facto de ser o último a discutir com Trump para alcançar um conjunto de mudanças no articulado. Em especial, a questão da retirada total do exército israelita. Este era um ponto essencial para o Hamas concordar com um cessar-fogo e estava previsto no anterior texto de 21 pontos. Na última versão, complementada com um mapa, prevê-se que “as forças israelitas retirar-se-ão para a linha acordada”, o que acontecerá em duas fases. E numa terceira, já com a presença de forças militares de outros países, Israel não abdica de uma zona tampão ao longo de todo o território palestiniano do enclave. “Agora, todo o mundo, incluindo o mundo árabe e muçulmano, está a pressionar o Hamas para aceitar os termos que criámos em conjunto com Trump, a fim de trazer de volta todos os reféns - vivos e mortos - enquanto as Forças de Defesa de Israel permanecem na maior parte da Faixa de Gaza. Quem teria acreditado?”, regozijou-se Netanyahu num vídeo publicado nas redes sociais.Se a generalidade dos países saudaram o plano de Trump, os habitantes de Gaza não partilharam o otimismo. “Este plano é claramente irrealista e foi elaborado com condições que os EUA e Israel sabiam que o Hamas não irá aceitar”, disse à AFP Ibrahim Joudeh..Flotilha tem ligação ao Hamas, diz IsraelO Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel afirma que o exército do seu país encontrou provas de como o Hamas está “diretamente envolvido” na iniciativa da flotilha por Gaza. De acordo com um comunicado publicado na terça-feira, foi encontrada uma carta de 2021 assinada pelo líder do Hamas entretanto morto, Ismail Haniyeh, que apoia explicitamente a Conferência Popular para os Palestinianos no Exterior (PCPA). Esta organização, fundada em 2018, é considerada por Telavive a representação do Hamas no exterior e uma organização igualmente terrorista. Um segundo documento contém uma lista de ativistas da PCPA, incluindo Zaher Birawi, líder da organização no Reino Unido e que foi o porta-voz da flotilha Mavi Marmara, em 2010; e Saif Abu Kishk, administrador executivo da empresa espanhola Cyber Neptune, proprietária de dezenas das embarcações que participam na flotilha Samud. “Estes documentos expõem a profundidade da rede internacional do Hamas e o seu controlo operativo sobre os indivíduos que lideram a flotilha”, concluiu o ministério israelita. A flotilha Samud encontrava-se a cerca de 400 quilómetros de Gaza e os seus organizadores preveem chegar ao enclave ainda esta semana. Israel, como em vezes anteriores, já fez saber que não permitirá a passagem das embarcações, uma vez que, tal como o Egito, procede a um bloqueio naval ao Hamas desde 2007.