Muitos discursos num “dia histórico” em que os últimos reféns israelitas ainda vivos foram libertados e em que o presidente dos EUA, Donald Trump, declarou que a guerra na Faixa de Gaza “acabou” e “finalmente temos paz no Médio Oriente”. Mas resta ainda resolver muitos problemas para garantir que essa paz é duradora e nada em concreto parece ter saído de Sharm el-Sheikh, onde Trump assinou (junto com os outros mediadores - Qatar, Turquia e o próprio Egito) o acordo de paz de 20 pontos que arquitetou. Mais cedo, discursou no Knesset durante a sua passagem por Israel. “Juntos, alcançámos o impossível. Finalmente, temos paz no Médio Oriente”, disse Trump no resort egípcio, lembrando que ninguém pensava que era possível e agradecendo o papel dos países árabes e muçulmanos. “Isto levou três mil anos”, afirmou. “Temos uma hipótese única de deixar para trás as velhas querelas e os ódios amargos e declarar que o nosso futuro não será governado pelas querelas das gerações passadas”, acrescentou o presidente dos EUA. “É o maior acordo e o mais complexo e este é também o local que podia causar problemas tremendos, como a Terceira Guerra Mundial”, disse Trump, dizendo que isso já não vai acontecer. “Na verdade, não queremos que comece em lado nenhum, mas não vai acontecer. Por isso, só queria agradecer a todos”, indicou o presidente norte-americano, rodeado de cerca de três dezenas de líderes mundiais.Trump insistiu que a assinatura do acordo significa mais do que o fim da guerra. “Com a ajuda de Deus, será um novo começo para todo o Médio Oriente”, referiu. “A partir deste momento, podemos construir uma região forte, estável, próspera e unida na rejeição do caminho do terror de uma vez por todas”, reiterou diante dos líderes, entre os quais o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, com quem conversou de mão dada. Esta mensagem já tinha proferida horas antes, no Parlamento israelita, onde falou do “amanhecer histórico de um novo Médio Oriente”. Trump disse que este era um dia de “alegria profunda”, lembrando que depois de “tantos anos de guerra incessante e de perigos intermináveis”, agora “os céus estão calmos, as armas estão silenciosas e as sirenes estão paradas.” Congratulando-se com a libertação dos reféns, disse ainda que “o longo e doloroso pesadelo acabou finalmente” - tanto para israelitas como palestinianos. Numa mensagem para os israelitas, disse que “é tempo de transformar estas vitórias contra os terroristas no campo de batalha no prémio máximo de paz e prosperidade para todo o Médio Oriente”, alegando que “já passou da hora de poderem desfrutar dos frutos do vosso trabalho”. Aos palestinianos disse que a escolha não podia ser mais clara: “Esta é a vossa oportunidade de se afastarem para sempre do caminho do terror e da violência. Exilar as forças perversas do ódio que estão entre vocês. E acho que isso vai acontecer”, referiu. Depois de a primeira fase do acordo ser bem sucedida, Trump anunciou entretanto que a segunda fase já começou a ser negociada. “Começou. Quer dizer, começou, no que diz respeito à fase dois. E, como sabem, as fases estão de certa forma interligadas. Podem começar a limpeza. Vejam Gaza... precisa de muita limpeza. É por isso que, quando falei sobre os escombros no meu discurso, usei a palavra escombros. São escombros multiplicados por dez. Mas faremos um bom trabalho”, referiu.Em Israel, Trump foi recebido pelo primeiro-ministro israelita como “o melhor amigo que Israel alguma vez teve na Casa Branca”, numa intervenção cheia de elogios. Benjamin Netanyahu - que viu o presidente defender um “perdão” para as acusações de corrupção que enfrenta - disse ainda que o presidente ficará na história do povo judeu e “nos anais da humanidade”. Netanyahu anunciou ainda que vai propor o nome de Trump para o galardão mais elevado do país - o Prémio Israel, que até agora nunca foi entregue a um estrangeiro. .Netanyahu diz que Trump é "o melhor amigo que Israel alguma vez teve na Casa Branca" .“Os últimos dois anos foram um período de guerra. Espero que os próximos anos sejam um período de paz”, disse o chefe de Governo israelita. “Acredito que, com a liderança do presidente Trump, isso acontecerá muito mais rapidamente do que as pessoas imaginam. Como primeiro-ministro de Israel, estendo a minha mão para apoiar aqueles que procuram a paz connosco.” No seu discurso, Trump referiu o Irão, dizendo que os EUA estão preparados para um acordo quando Teerão assim o desejar.Não é só Israel que planeia homenagear o presidente. O Egito também vai distinguir Trump com a mais alta honra civil do país, a Ordem do Nilo. O presidente Abdel Fattah al-Sissi disse que este plano é “a última hipótese” para a paz na região, reiterando os apelos a uma solução de dois Estados - em Israel, o discurso de Trump no Knesset tinha sido momentaneamente interrompido por um protesto de dois deputados de extrema-esquerda israelita que pediram para que reconheça o Estado palestiniano..Trump fala do "amanhecer histórico de um novo Médio Oriente" .O plano do presidente prevê isso, mas não para já. Agora, o foco é na reconstrução e na “desmilitarização” do enclave, com o Hamas fora do poder e uma missão de estabilização internacional no terreno. Mas até isso acontecer, e após a retirada dos militares israelitas de parte do enclave, o grupo terrorista palestiniano está a voltar a ocupar o espaço de segurança dizendo que não irá permitir um “vácuo” e que vai manter a segurança pública. Esta segunda-feira, houve confrontos com grupos adversários (alguns armados nos últimos anos por Israel), temendo-se que a situação possa descambar numa guerra civil. Trump sugeriu contudo que o Hamas teve luz verde para isso. “Eles querem acabar com os problemas e têm sido abertos sobre isso, e nós demos-lhes aprovação durante um período de tempo”, disse o presidente, respondendo à pergunta de um jornalista.