Trump apela aos protestos alegando que vai ser preso
Em causa o dinheiro pago a uma ex-estrela porno para não revelar o caso que teria tido com o então candidato à presidência.
O ex-presidente dos EUA Donald Trump, candidato à nomeação republicana para a Casa Branca em 2024, lançou ontem um apelo aos seus apoiantes para que saiam à rua em protesto, alegando que vai ser detido na próxima terça-feira. Em causa está uma acusação relacionada com o suposto pagamento feito a uma antiga estrela pornográfica, Stormy Daniels, durante a campanha para as presidenciais de 2016. O dinheiro seria para que não revelasse o caso que teria tido com Trump. Este sempre negou tudo e alega que o processo é uma "caça às bruxas" com motivos políticos.
Relacionados
"Fugas ilegais do corrupto e altamente político gabinete do procurador distrital de Manhattan [Alvin L. Bragg], que permitiu que tenham sido batidos novos recordes de crimes violentos [...] mostram que, sem que um crime possa ser provado e com base num velho conto de fadas já desmascarado (por inúmeros outros procuradores), o principal candidato republicano e ex-presidente dos EUA, vai ser detido na terça-feira da próxima semana", escreveu Trump em maiúsculas na sua Truth Social. Não publicou nada no Facebook, ao qual regressou na véspera.
"Está na hora! Somos uma nação em declínio acentuado que está a ser levada à III Guerra Mundial por um político desonesto que nem sequer sabe que está vivo [...] Não podemos mais permitir isto. Estão a matar a nossa nação enquanto nos sentamos e ficamos a ver. Temos que salvar a América! Protestem, protestem, protestem!", indicou noutra mensagem, tendo ainda alegado que "o sonho americano está morto"
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
O apelo, que faz lembrar a retórica usada antes da invasão do Capitólio a 6 de janeiro de 2021, foi publicado apesar de Trump não ter sido oficialmente informado de nenhuma acusação, segundo os advogados. De facto, o grande júri que está com o caso nas mãos ainda terá pelo menos mais uma testemunha para ouvir.
Houve contudo a indicação que agentes das forças de segurança locais e federais estariam a planear uma reunião no início da semana para discutir a segurança e logística de uma acusação a Trump - que a confirmar-se será a primeira de um ex-presidente dos EUA. De acordo com a agência Associated Press, caso seja acusado, será detido só se recusar entregar-se. Mas ainda na sexta-feira, na CNBC, um dos advogados de Trump disse que ele seguiria o procedimento, isto é, aceitaria entregar-se numa esquadra da polícia de Nova Iorque ou diretamente no gabinete de Bragg.
O objetivo do apelo do ex-presidente, de 76 anos, será galvanizar os seus apoiantes, tendo enviado também um email a pedir fundos para a campanha. Trump já disse que irá manter a candidatura, mesmo se for acusado. Vários republicanos saíram também em defesa do ex-presidente, incluindo o líder da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, que apelidou a investigação de um "ultrajante abuso de poder" por parte de um procurador distrital "radical", que acusou de estar atrás de "vingança política". No Twitter prometeu ainda investigar se dinheiros públicos estão a ser usados em "acusações politicamente motivadas".
Problemas com a justiça
Este processo é apenas um dos que envolve Trump e diz respeito ao pagamento de 130 mil dólares feito durante a campanha de 2016 a Stormy Daniels por Michael Cohen, advogado pessoal do então candidato. O dinheiro comprava o silêncio da antiga estrela pornográfica, que alegava ter tido um caso com Trump dez anos antes - quando ele já era casado com Melania.
Cohen foi reembolsado pela Organização Trump, apresentando o dinheiro como honorários. Em 2018, Cohen declarou-se culpado de acusações relacionadas com o pagamento, incluindo mentir ao Congresso, fraude bancária e violação das leis de financiamento eleitorais. Foi condenado a três anos de prisão. Apesar de o pagamento em si não ser ilegal, a falsificação dos documentos da empresa - para reembolsar Cohen - é. E os procuradores podem querer alegar que é uma contribuição não declarada de campanha, um crime que a ser provado pode valer quatro anos de prisão a Trump.
O ex-presidente enfrenta entretanto outros processos. Em Nova Iorque, a sua empresa está a ser investigada por fraude ao longo de décadas. Há também o caso dos documentos secretos encontrados na sua casa de Mar-a-Lago. Em relação às eleições, o Departamento de Justiça investiga o ataque ao Capitólio e qual o papel do ex-presidente a incentivar os manifestantes. Na Geórgia, está sob investigação devido às tentativas de revogar o resultado das presidenciais de 2016 no estado - o relatório final do grande júri continua selado, tendo sido apenas reveladas algumas partes. Em todos os casos, o ex-presidente nega as acusações e alega que é alvo de perseguição política.
susana.f.salvador@dn.pt
Partilhar
No Diário de Notícias dezenas de jornalistas trabalham todos os dias para fazer as notícias, as entrevistas, as reportagens e as análises que asseguram uma informação rigorosa aos leitores. E é assim há mais de 150 anos, pois somos o jornal nacional mais antigo. Para continuarmos a fazer este “serviço ao leitor“, como escreveu o nosso fundador em 1864, precisamos do seu apoio.
Assine aqui aquele que é o seu jornal