Tropas russas em retirada no nordeste antes da "avalanche" prometida por Kiev
Fogo-de-artifício em Moscovo, na comemoração dos 875 anos da cidade, fogo de armas em soldados russos no nordeste da Ucrânia, onde a rápida sucessão de localidades libertadas torna o exercício da sua listagem impossível, mas também no sul do país, na região de Kherson. Vladimir Putin, que havia instruído as suas tropas a ocuparem a totalidade da região de Donetsk até dia 15, e afirmara entretanto que a Rússia "nada perdeu", passando por cima dos milhares de mortos, não só não tem motivos para comemorar como enfrentou críticas de autoridades locais da capital e de São Petersburgo.
Oleksii Reznikov, ministro da Defesa da Ucrânia, disse que os militares russos estão sem opções no teatro de guerra. "As tropas russas vão fugir, e vão, acreditem, porque estamos a destruir as suas cadeias logísticas, armazéns, etc. E a questão surgirá: "E para onde devem ir?" Será como uma avalanche", sentenciou.
As forças armadas russas enfrentam o seu pior momento desde o fracasso da tomada de Kiev, nos primeiros dias da invasão, quando se acumulam notícias da dificuldade em arregimentar reforços e suprir os arsenais com munições. A sul, milhares de soldados (estimativas de entre 15 e 25 mil) estão presos na margem ocidental do Dniepre enquanto os ucranianos continuam a rebentar com a sua infraestrutura e logística.
A nordeste, enquanto Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana, continua a ser alvo diário de bombardeamentos russos, o exército ucraniano lançou na região com o mesmo nome uma ofensiva que deixou muitos observadores estarrecidos e que alertam para a possível fragilidade de um avanço tão rápido. Nas últimas horas, depois de Balaklia, foi a ver de a bandeira russa ser retirada de Kupiansk e de Izium, vila e cidade estratégicas que ligam o Donbass por via férrea.
O Ministério da Defesa da Rússia confirmou a retirado das suas forças de Izium, há seis meses ocupada, tendo alegado que a retirada estava planeada com o objetivo de reforçar a região de Donetsk. Ao fim do dia havia relatos por confirmar de confrontos no aeroporto de Donetsk, e de avanços ucranianos até Lysychansk, em Lugansk.
Para o analista australiano Mick Ryan, do Center for Strategic and International Studies, "os historiadores do futuro poderão ver isto como um importante ponto de viragem. Isto significa que os ucranianos não só conseguem lutar como e onde querem, como os seus soldados lutam sabendo que os russos estão em desvantagem", comentou no Twitter sobre o que outro analista, Rob Lee, disse ao New York Times o que aparenta ser uma "uma operação combinada muito eficaz com tanques, infantaria mecanizada, forças de operações especiais, defesas aéreas, artilharia e outros sistemas".
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Talvez não por acaso, nos últimos dias, autarcas de Smolninsky, em São Petersburgo, pediram para Putin ser acusado de traição e outros de Lomonosovsky, em Moscovo, pediram para se demitir.
cesar.avo@dn.pt