"Temos mais guerra e terrorismo hoje", diz José Sócrates sobre 11 de Setembro

"As televisões ocidentais falam das mulheres afegãs. Eu também penso nelas. Mas não esqueço que esta guerra custou 8 triliões de dólares e custou a vida a 900.000 pessoas", escreve o ex-primeiro-ministro em artigo numa revista brasileira
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José Sócrates lembra que a "guerra ao terror", nascida pós ataques aos EUA de 11 de Setembro de 2001, "levou a violência e a desestabilização a todo o grande Médio Oriente" e "trouxe de volta a legalização da tortura em tempos de aflição". Em artigo da revista brasileira Carta Capital, onde é colunista, o antigo primeiro-ministro português sublinha que "a queda de Cabul não tem apenas a ver com o Afeganistão, mas com a "guerra global ao terror"".

"As televisões ocidentais falam das mulheres afegãs. Eu também penso nelas. Mas não esqueço que esta guerra custou 8 triliões de dólares e custou a vida a 900.000 pessoas, segundo os últimos números do projeto de "Custos de Guerra" da Universidade de Brown", escreve Sócrates.

"Não esqueço os assassinatos-alvo como método de guerra; não esqueço que a guerra aumentou os ataques terroristas e os espalhou pelo mundo; não esqueço os refugiados; não esqueço o "Patriot Act" e todas as leis que as democracias fizeram para reduzir a liberdade individual e aumentar os poderes estatais de repressão. No final, temos mais guerra, mais refugiados, mais miséria e mais terrorismo. Tudo feito em nome da liberdade".

Para Sócrates, 20 anos depois do início da guerra, as perguntas a fazer são "resultou?", "acabamos com o terrorismo?, diminuímo-lo? contivemo-lo?" . "Não, não me parece. A guerra ao terrorismo fez o que habitualmente as guerras fazem - escalou a violência", responde.

"O combate ao terrorismo não acabou com ele, mas espalhou-o. O departamento de Estados Unidos contou 348 ataques em 2001; em 2015 esse número aumentou para 11. 774", numa crise que chegou também à Europa, como sublinha Sócrates, em forma de atentados e no drama dos refugiados.

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