Marinha taiwanesa durante um exercício militar.EPA/RITCHIE B. TONGO
Internacional
Taiwan - A ilha mais falada do mundo
Formosa, Taiwan ou República da China?
Formosa foi o nome dado no século XVI pelos portugueses à bela ilha de montanhas cobertas de verde situada junto da costa sul da China. Ainda hoje há empresas locais que utilizam esse nome. Taiwan, por seu lado, é o nome chinês da ilha que desde 1949 a República Popular da China considera uma província rebelde. Finalmente, República da China é o nome oficial de Taiwan, de algumas ilhas pequenas no estreito de Taiwan e de minúsculos territórios na costa da província do Fujian. Em teoria, porém, a República da China assume-se como a herdeira da república fundada em 1912 por Sun Yat-sen, portanto abrangendo toda a China.
Como aconteceu a divisão entre República Popular da China e República da China?
Depois de terem lutado em conjunto contra os invasores japoneses na Segunda Guerra Mundial, os nacionalistas e os comunistas chineses iniciaram uma guerra civil, que terminou em 1949. Chiang Kai-shek, líder do Kuomintang, foi derrotado e refugiou-se em Taiwan, com Taipé a tornar-se capital da República da China. Em Pequim, o vitorioso Mao Tsé-tung proclamou nesse ano a República Popular da China. Era o tempo da Guerra Fria e com o mundo dividido pela rivalidade americano-soviética, Chiang e Mao disputaram durante décadas quem era o legítimo representante do povo chinês. Até 1971, os nacionalistas mantiveram o assento chinês nas Nações Unidas.
Uma só China ou duas?
Para os comunistas chineses só há uma China, temporariamente dividida. Os nacionalistas chineses partilhavam da mesma ideia. A dúvida durante décadas era se a reunificação seria militar ou pacífica. Mao ambicionava a reunificação, mas Chiang também sonhava voltar um dia a Pequim como líder. Enquanto o Kuomintang governou Taipé, a proclamação de independência de Taiwan não foi uma questão. Mas quando a ilha se tornou democrática no final do século XX, surgiu um partido pró-independência, que já deu três presidentes, incluindo William Lai, eleito em janeiro deste ano. Apesar de tudo, nenhum líder em Taiwan foi ao ponto de proclamar a independência, preferindo manter o status quo. A comunidade internacional reconhece só haver uma China, é Pequim que está nas Nações Unidas e a esmagadora maioria dos países reconhece a República Popular da China.
Taiwan é muito diferente da China Continental?
É uma pequena ilha com 26 milhões de habitantes, enquanto a China tem mais de 1400 milhões. Povoada por tribos aborígenes (hoje 3% da população), só no século XVII começou a acolher vagas de chineses, vindos do Fujian. Foi bastião da resistência da dinastia Ming e depois submetida aos Qing, a última dinastia imperial. Mas em 1895, depois de uma guerra perdida pelos chineses, tornou-se colónia do Japão, situação que durou até 1945. A japonização fracassou, mas deixou algumas marcas na cultura local. Em 1949, cerca de dois milhões de funcionários e militares da República da China instalaram-se na ilha vindos com Chiang, tornando muito cosmopolita Taiwan. Ainda hoje, a gastronomia da ilha reflete influências de toda a China. Do ponto de vista étnico, a esmagadora maioria dos taiwaneses são han, tal como a grande maioria dos chineses do outro lado do estreito. Todos usam os caracteres chineses, mas em Taiwan na sua versão tradicional. A haver uma clara diferença é ao nível do sistema político: a República Popular da China é governada pelo Partido Comunista, a República da China evoluiu de uma ditadura para uma democracia. E bastante próspera, pois se faltam as relações diplomáticas (exceto uma dúzia de aliados), são numerosos os parceiros comerciais.
Sendo a China a segunda economia do mundo, como são as relações comerciais com Taiwan?
São fortes e têm conseguido resistir à tensão política. As reformas económicas chinesas de início dos anos 1980 tiveram um grande contributo dos empresários taiwaneses, que tal como os de Hong Kong, então colónia britânica, ajudaram a renascer o espírito empreendedor do país depois dos excessos do maoismo. No ano passado, um terço das exportações da ilha destinou-se à China, mas com uma importante quebra relacionada já com a desconfiança crescente entre os dois lados do estreito de Taiwan. Não esquecer que a ilha é uma potência tecnológica (por exemplo, a TSMC é o maior fabricante mundial de chips) e que o seu PIB a coloca entre as 25 maiores economias.
Quando o presidente Xi Jinping fala de reunificação com Taiwan, há alternativa ao uso da força?
Xi quer completar a reunificação da mãe-pátria, depois da reintegração de Hong Kong (1997) e de Macau (1999). A fórmula “um país, dois sistemas” seria uma base negocial, mas o crescente controlo de Pequim sobre Hong Kong causou má impressão em Taiwan. E a maioria da população começa a desenvolver uma identidade taiwanesa, mesmo sabendo que culturalmente pertence ao mundo chinês. O Kuomintang, que obteve a maioria no parlamento, defende relações amistosas com Pequim, mas sabe que o status quo - Taiwan separada mas sem independência oficial - é o desejo da população a fim de manter a paz, e também o partido independentista tem noção disso. A invasão seria dramática, tanto por possibilidade de apoio americano a Taiwan como pela desestabilização da Ásia Oriental, com impacto na economia mundial. E uma Taiwan em ruínas depois de uma guerra também não interessa a Pequim, que prefere uma reunificação pacífica, digna de ser celebrada, e com o dinamismo taiwanês a contribuir para a caminhada do país para a condição de superpotência.