As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) bombardearam esta quarta-feira o Ministério da Defesa da Síria, em Damasco, além de terem continuado os ataques na região de Sueida - ignorando, alegadamente, a pressão dos EUA para que não o fizessem. O objetivo é proteger a minoria drusa, com as forças de segurança sírias a serem acusadas pelos israelitas de serem parte do problema e não da solução para a violência sectária. Mas Israel também nunca escondeu a sua desconfiança para com o presidente interino sírio, Ahmed al-Sharaa. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Síria condenou a “agressão traiçoeira” de Israel, denunciando em comunicado uma “política deliberada” dos israelitas de ”inflamar as tensões, espalhar o caos e minar a segurança e a estabilidade na Síria”. O ministro da Defesa isaelita, Israel Katz, avisou que vêm aí mais “golpes dolorosos”, com o presidente Isaac Herzog a dizer que não vão abandonar os drusos..Ataque israelita no centro de Damasco captado num direto da televisão síria. Israel aproveitou o vazio de poder na Síria após a queda do regime de Bashar al-Assad, em dezembro, para alargar a “linha de controlo” (na prática ocupar mais território sírio) com vista a proteger a sua fronteira nos Montes Golã (que ocupou e anexou há quase meio século). Além disso, destruiu grande parte da capacidade militar síria, defendendo que o novo exército não devia ser destacado para o sul de Damasco e que a região de Sueida, de maioria drusa, devia ser uma zona desmilitarizada. O sunita Al-Sharaa prometeu unir o país depois da queda do regime de Assad - que festejaria esta quinta-feira os 25 anos no poder se não tivesse sido derrubado. E está a tentar reabrir a Síria ao mundo, tendo conseguido a normalização das relações com os EUA e com a União Europeia, além do levantamento das sanções. Israel não parece querer fazer o mesmo, apesar de negociações que estariam a decorrer entre os dois.A Síria é uma das sete frentes de batalha em que Israel diz estar envolvido desde o ataque do 7 de outubro de 2023. Se antes era porque estava no poder Assad, próximo do regime iraniano, agora é porque lá está Al-Sharaa. Para muitos israelitas, ele ainda é Abu Mohammad al-Julani, o islamita que chegou a pertencer à Al-Qaeda. O presidente interino abandonou o “nome de guerra” e trocou o uniforme militar pelo fato. Mas a promessa de unir a Síria esbarra na violência sectária. As forças de segurança sírias foram destacadas para Sueida na segunda-feira, para travar os confrontos entre as milícias drusas e os grupos armados beduínos. Mas acabaram por se envolver elas próprias nos confrontos, com pelo menos 18 militares a serem mortos por “gangues criminosos”, segundo as autoridades. No total a violência já terá feito mais de 300 mortos. O Governo de Al-Sharaa condenou os “atos hediondos” e prometeu investigar a violência e levar os responsáveis à justiça.Esta quarta-feira, o líder religioso druso Yousef Jarbou disse, num vídeo, que um cessar-fogo ia entrar em vigor de imediato. Mas outro influente líder da comunidade, Hikmat al-Hajari, rival de Jarbou, defendeu que os combates deviam continuar até Sueida estar “completamente libertada”. As divisões entre os drusos não facilitam a situação, havendo os que defendem a incorporação nas forças de segurança (um druso é ministro da Agricultura) e os que são contra essa ideia. O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, considera a violência em Sueida “uma ameaça direta aos esforços para ajudar a construir uma Síria pacífica e estável”. Segundo o site Axios, os EUA terão pressionado Israel para que parasse com os ataques, mas os apelos foram ignorados por Telavive. Questionado sobre a situação na Síria, o presidente Donald Trump optou por passar a palavra a Rubio.O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, deixou entretanto uma mensagem em vídeo no X para os drusos israelitas - que nos últimos dias exigiam que o Governo fizesse algo. Netanyahu pediu-lhes que não cruzem a fronteira com a Síria, depois de cenas caóticas com mais de mil a passar para o outro lado. “Estão a pôr em risco as vossas vidas. Podem ser mortos, sequestrados e estão a prejudicar os esforço das IDF”, afirmou, pedindo-lhes que voltem para casa e deixem os militares “trabalhar pra salvar os irmãos drusos e eliminar os gangues do regime”. Netanyahu, como muitos em Israel, vê os cerca de 150 mil drusos israelitas como “irmãos” - alguns até lhe salvaram a vida. Os homens desta comunidade, que historicamente vem do islão xiita mas tem um pilar, fé e filosofias diferentes, servem nas IDF e estão normalmente na linha da frente. Em todo o mundo há cerca de um milhão de drusos, metade deles vivem na Síria.