Sánchez diz que situação em Gaza "não se resolve com negócio imobiliário"
O primeiro-ministro de Espanha, o socialista Pedro Sánchez, disse esta quarta-feira que "a situação em Gaza não se resolve com um negócio imobiliário", mas com o reconhecimento dos dois Estados (Palestina e Israel).
"A situação em Gaza não se resolve com um negócio imobiliário", disse Sánchez, referindo-se à proposta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para o território palestiniano de Gaza.
Donald Trump insiste em que os Estados Unidos tomem conta e reconstruam Gaza "como um projeto imobiliário" e defende a expulsão dos habitantes para o Egito e para a Jordânia, provocando protestos nos países árabes.
Para o líder do Governo espanhol, a situação em Gaza "resolve-se defendendo e reivindicando a Palestina para os palestinianos, Israel para os israelitas".
"Temos de reconhecer os dois Estados para garantir a liberdade", disse hoje Sánchez, numa intervenção no parlamento de Espanha, em Madrid, em resposta a perguntas dos deputados da oposição.
Espanha reconheceu formalmente a Palestina como Estado no ano passado, com outros países europeus.
Sánchez respondeu hoje desta forma ao líder do partido da extrema-direita espanhola Vox, Santiago Abascal, que condenou a atitude "de beligerância" do primeiro-ministro em relação a Trump e considerou que se os EUA vierem a impor taxas comercias que afetem Espanha, a responsabilidade será do líder do Governo espanhol.
O primeiro-ministro de Espanha tem feito, nas últimas semanas, várias críticas públicas ao novo Governo de Trump e ao Presidente dos Estados Unidos.
Um dos principais alvos de Sánchez tem sido "a 'tecnocasta'" que rodeia Trump, numa alusão a empresários como Elon Musk, dono da rede social X.
Em 20 de janeiro, dia da tomada de posse de Trump como Presidente dos EUA, Sánchez disse em Madrid que a Europa deve rebelar-se contra "a 'tecnocasta' de Silicon Valley" que ameaça as democracias ocidentais e defendeu uma visão europeia para a Inteligência Artificial, numa mensagem que já repetiu noutras ocasiões.
"Esta ameaça é especialmente grave num contexto como o atual, nesta semana que começamos, em que estamos a ver, por exemplo, como a 'tecnocasta' (...) de Silicon Valley tenta usar o seu poder omnímodo [ilimitado] sobre as redes sociais para controlar o debate público e, portanto, a ação governamental, nada mais nada menos, do que de todo o Ocidente. E, perante isto, temos de rebelar-nos e procurar alternativas", afirmou o líder do Governo espanhol em 20 de janeiro.
Depois de sublinhar que "a democracia não é um euro, um voto; não é um 'tweet', um voto; é uma pessoa, um voto", Sánchez considerou que, "portanto, a Europa deve fazer frente a esta ameaça e defender a democracia".
Para Sánchez, a forma de a Europa defender a democracia e enfrentar a ameaça da chamada elite das empresas tecnológicas, a "'tecnocasta'", é tendo "uma visão do tipo de Inteligência Artificial" que quer ter e do papel que lhe quer dar.
"As tecnologias não geram mais prosperidade por si só, na realidade, tendem a reforçar o 'status quo', a dar mais poder aos poderosos e a fazer mais ricos os ricos", sublinhou.
Em 8 de janeiro, Sánchez tinha já acusado o empresário e dono da rede social X Elon Musk, próximo de Trump e chefe na nova administração norte-americana um novo departamento de "eficiência governamental", de atacar as instituições europeias e incitar ao ódio, apelando na mesma ocasião à defesa das democracias através do combate às 'fake news' e da memória do fascismo.
O primeiro-ministro considerou então as 'fake news' "a principal arma dos inimigos da democracia".
Egito defende recuperação de Gaza e a manutenção dos habitantes palestinianos
Também esta quarta-feira, o Egito anunciou que tem um plano sobre o futuro de Gaza que garante a reconstrução do enclave sem a deslocação da população contrariando a exigência do Presidente norte-americano de expulsar os habitantes do enclave para outros países.
A Faixa de Gaza, marcada pela guerra entre o Hamas e Israel desde outubro de 2023, é habitada por cerca de dois milhões de pessoas.
"O Egito afirma a intenção de apresentar uma visão abrangente para a reconstrução da Faixa de Gaza, de uma forma que garanta a sobrevivência do povo palestiniano na terra a que pertencem e em sintonia com os direitos legítimos e legais deste povo", disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros egípcio num comunicado citado pela agência de notícias espanhola EFE.
Com esta nota, o Cairo confirma o anúncio feito na terça-feira pelo rei jordano Abdullah II em Washington durante um encontro com o Presidente dos Estados Unidos.
O presidente norte-americano, Donald Trump, reiterou que os Estados Unidos devem tomar conta e reconstruir Gaza "como um projeto imobiliário". Para os Estados da região, a solução apresentada por Trump significa o fim da causa palestiniana e pode perturbar a segurança e a paz no Médio Oriente.
A limpeza étnica, entendida como a expulsão forçada de um grupo étnico de um território, constitui um crime contra a humanidade e pode ser considerada um crime de genocídio, de acordo com as Nações Unidas.
A Liga Árabe, composta por 22 Estados, rejeitou categoricamente o plano de Trump, insistindo na necessidade de implementar a solução "dois Estados", que estipula a criação de um Estado palestiniano ao lado do Estado israelita em Gaza e na Cisjordânia ocupada.
"O Egito aspira a cooperar com a administração do Presidente Trump para alcançar uma paz abrangente através de uma solução justa para a causa palestiniana que respeite os direitos dos povos da região", refere o comunicado egípcio.
O Cairo, o primeiro país árabe a assinar a paz com Israel em 1979, seguido pela Jordânia (1994), insistiu na importância de se "evitarem riscos".
"O Egito sublinha que qualquer visão para resolver a causa palestiniana deve evitar pôr em risco as conquistas da paz e deve abordar as raízes e as razões do conflito, pondo fim à ocupação israelita dos territórios palestinianos e implementando a solução 'dois Estados' como a única via para a estabilidade e a coexistência entre os povos da região", sublinha a diplomacia egípcia.
O governo do Cairo, que procura uma posição árabe unificada em relação ao plano de Donald Trump, convocou uma cimeira extraordinária dos membros da Liga Árabe para o dia 27 de fevereiro e, na terça-feira, anunciou que vai acolher uma reunião ministerial dos 57 países da Organização de Cooperação Islâmica (OCI) com o mesmo objetivo.
Liga Árabe considera deslocação de palestinianos "inaceitável"
O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, considerou, entretanto, "inaceitável para o mundo árabe" deslocar palestinianos do seu território para outros países, numa referência às declarações do presidente norte-americano.
"Nós, árabes, lutámos contra esta ideia durante 100 anos e não estamos prontos para nos rendermos agora", disse Aboul Gheit numa cimeira de governos mundiais no Dubai, quando questionado sobre a insistência do presidente norte-americano, Donald Trump, em retirar da Faixa de Gaza os seus habitantes.
"Isto é inaceitável para o mundo árabe", acrescentou.
Aboul Gheit confirmou também a realização de uma cimeira de emergência sobre a questão palestiniana no Egito, no dia 27 de fevereiro, acrescentando que os países árabes têm duas semanas para desenvolver uma posição comum sobre o assunto.
Os países árabes rejeitaram veementemente a proposta de Donald Trump, insistindo no objetivo de uma solução de dois Estados para o conflito israelo-palestiniano, com um Estado palestiniano independente ao lado de Israel.
Na semana passada, Trump propôs expulsar mais de dois milhões de pessoas que vivem na Faixa de Gaza e transformá-la numa "Riviera do Médio Oriente", gerando protestos globais, sobretudo no mundo árabe.
O plano, aplaudido pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, implicaria a deslocação dos mais de dois milhões de habitantes da Faixa de Gaza para o Egito, a Jordânia e outros países, segundo Trump.
Na terça-feira, ao receber o Rei Abdullah II da Jordânia na Casa Branca, Donald Trump expressou mais uma vez o seu desejo de iniciar o desenvolvimento imobiliário na Faixa de Gaza.
"Seremos donos de Gaza. Não precisamos de a comprar. Não há nada para comprar", declarou o presidente norte-americano na terça-feira, assegurando que o território seria colocado "sob controlo americano", sem explicar como.
A Faixa de Gaza ficou quase totalmente destruída devido à ofensiva militar israelita de grande escala que se seguiu ao ataque do Hamas contra Israel de 07 de outubro de 2023.
O conflito provocou dezenas de milhares de mortos, na grande maioria palestinianos, e os combates só foram interrompidos com uma trégua que entrou em vigor em 19 de janeiro.
O acordo prevê a troca de reféns israelitas raptados pelo Hamas em 7 de outubro por prisioneiros palestinianos detidos em Israe