A sucessão de acontecimentos na crise política da Coreia do Sul vai conhecer novo momento dramático nas próximas horas, quando os deputados voltarem a reunir-se na Assembleia Nacional para votarem a destituição do presidente Yoon Suk Yeol. A apresentação da moção é a segunda tentativa de derrubar o presidente em resultado de este ter instituído a lei marcial que vigorou durante seis horas, no dia 3. No sábado passado, a moção acabou por ser retirada por falta de quórum, uma vez que quase todos os deputados do Partido do Poder Popular (PPP), no poder, boicotaram a votação. Mas desta vez o resultado pode ser outro, com o líder do PPP a defender agora a queda do presidente. À principal formação opositora, o Partido Democrático, que vê na declaração da lei marcial uma “rebelião ilegal e inconstitucional ou um golpe”, juntaram-se outros cinco partidos na iniciativa de impugnação. Para a moção ser aprovada são necessários dois terços dos deputados a votar de forma favorável. A oposição tem 192 deputados, pelo que necessita de oito conservadores. Na quinta-feira, seis já tinham declarado que iriam juntar-se à oposição, pelo que a continuidade de Yoon na presidência está por um fio. O líder do PPP, Han Dong-hoon, rival de Yoon e crítico desde a primeira hora da declaração da lei marcial, endureceu o tom nos últimos dias, em especial depois de saber que alegadamente o seu nome constava numa lista de políticos a prender. Primeiro afirmou que iria trabalhar para a retirada “ordeira” de Yoon, mas acabou por apelar para os seus deputados “participarem na votação com base nas suas convicções e consciência”, depois de defender que “as funções do presidente devem ser rapidamente examinadas e suspensas através do processo de destituição”..Yoon Suk Yeol durante a declaração ao país de quinta-feira. EPA / GABINETE DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA DA COREIA.O presidente tentou a sua última cartada num discurso horas antes, quer para tentar convencer os deputados do seu partido, quer para se defender caso venha a ser julgado pelo Tribunal Constitucional, se a moção de destituição vingar. Em frente às câmaras de televisão, Yoon Suk Yeol disse que o decreto da lei marcial foi um ato de governação que tentou justificar e rejeitou as acusações de insurreição. Yoon voltou a acusar o Partido Democrático de impedir a governação do país. “A Assembleia Nacional, dominada pelo maior partido da oposição, transformou-se num monstro que destrói a a ordem constitucional e a democracia livre”, disse. Yoon também lançou dúvidas sobre a justeza das eleições parlamentares de abril, ao alegar que podem ter sido subvertidas por ciberataques da Coreia do Norte. Em paralelo, os deputados destituíram de funções o ministro da Justiça, Park Sung-jae, e o comissário da Polícia Nacional, Cho Ji-ho. Este último, que já tinha sido detido para interrogatório, terá afirmado que Yoon lhe ligou seis vezes durante a lei marcial em vigor, para que este prendesse os deputados que acabaram por votar a reversão do decreto. A Assembleia também aprovou a criação de um conselho independente para investigar Yoon. As autoridades judiciais estão a investigar se o presidente cometeu crimes, mas apesar de a lei não conferir imunidade em casos de traição e rebelião, a segurança presidencial impediu a realização de buscas no gabinete presidencial.