Comandante detido por colisão no mar do Norte é russo. Sobrevivente relata: "Um navio enorme surgiu do nada"
A polícia britânica deteve um homem de 59 anos por suspeita de homicídio involuntário por negligência grave relacionada com a colisão entre um petroleiro americano e um cargueiro de bandeira portuguesa no mar do Norte. O detido é o capitão do navio de carga Solong e é de nacionalidade russa, informou esta quarta-feira a empresa alemã propriétária da embarcação, noticia a Reuters.
O Solong chocou com o Stena Immaculate, um petroleiro fretado pelo exército norte-americano, na segunda-feira, ao largo da costa nordeste de Inglaterra, na região de East Yorkshire. No dia a seguir, a polícia britânica deteve o comandante do cargueiro.
A empresa alemã Ernst Russ fez saber que o capitão do Solong, de bandeira portuguesa, é um cidadão russo, adiantando que a restante tripulação era composta por cidadãos russos e filipinos.
A polícia de Humberside iniciou uma investigação criminal e o detetive-chefe superintendente Craig Nicholson emitiu esta terça-feira uma declaração, anunciando que "após investigações realizadas (...) prendemos um homem de 59 anos sob suspeita de homicídio culposo por negligência grave, relativo à colisão". A detenção ocorre após a conclusão das operações de busca pelo membro da tripulação do Solong que desapareceu durante o incidente, tendo sido dado como morto pelas autoridades.
Entretanto, começam a aparecer relatos dos envolvidos no incidente, como o de um marinheiro do Stena Immaculate, o petroleiro americano, que revelou à CBS que a tripulação do petroleiro fretado pelo exército dos EUA teve apenas alguns segundos para reagir à investida do cargueiro Solong com bandeira portuguesa: "Um navio enorme surgiu do nada".
Após o acidente, 36 pessoas foram trazidas para terra "sãs e salvas e uma pessoa foi hospitalizada". Um tripulante do cargueiro estava desaparecido, mas foi dado como morto, anunciou o secretário de Transporte Marítimo britânico.
"A nossa convicção é que, infelizmente, o marinheiro estará morto", informou o governante, Mike Kane, em declarações a deputados britânicos.
"Todos apenas tiveram alguns segundos para reagir" ao embate do cargueiro de pavilhão português, recordou um "experiente marinheiro" norte-americano à CBS News.
O tripulante do petroleiro ao serviço do exército americano afirmou ainda, sob anonimato, que o navio de carga não parou imediatamente após a colisão e que o embate no petroleiro pareceu ter durado 10 minutos, depois do impacto inicial.
A empresa norte-americana de gestão marítima Crowley, que opera o petroleiro, já tinha indicado que o navio continha combustível Jet-A1, destinado à força aérea norte-americana que opera de várias bases no Reino Unido.
A companhia indicou que o petroleiro "sofreu uma rutura do tanque de carga" causada pelo choque, provocando um incêndio e "múltiplas explosões a bordo", com o combustível derramado no mar.
Aliás, após a colisão deflagraram incêndios nas duas embarcações, refere a CBS News. Ao canal de televisão norte-americano, o marinheiro do Stena Immaculate, que não revelou o nome porque a tripulação está proibida de falar com os media, disse que o petroleiro estava ancorado no local onde se deu a colisão e que tinha retransmitido suas coordenadas, pelo que as embarcações na área deviam saber a sua localização.
Contou que ouviu os gritos para que a tripulação se preparasse para o impacto e foi surpreendido por "um navio enorme". Referiu ainda que outros membros da tripulação deram conta de que parecia que ninguém estava na ponte do Solong no momento do embate.
Depois da colisão, deflagraram de imediato chamas e a tripulação apressou-se a vestir o equipamento de proteção para combater o fogo.
Apesar de descrever a reação como “exemplar”, uma vez que a tripulação treinou para se preparar para este tipo de desastres, percebeu-se que o combate às chamas não iria ter sucesso e foi tomada a decisão de abandonar o petroleiro.
Os elementos da tripulação ainda conseguiram ir buscar alguns pertences e os coletes salva-vidas antes de se reunirem todos, tendo depois entrado num bote salva-vidas, com o capitão a ser a última pessoa a abandonar o petroleiro.
Da colisão até à evacuação do navio, passaram 30 minutos, disse o marinheiro norte-americano.
À CBS News, o sobrevivente contou que alguns dos marinheiros chegaram a ficar com o cabelo chamuscado quando abandonaram o navio. Certo é que não há vítimas mortais a registar no petroleiro.
Proprietária do navio de carga com bandeira portuguesa nega transporte de cianeto de sódio
A empresa alemã proprietária do "Solong", o navio de carga com bandeira portuguesa, negou que os contentores transportassem cianeto de sódio, uma substância altamente tóxica em contacto com a água, o que poderia levar a um desastre natural de grandes proporções.
A Ernst Russ respondeu a essa possibilidade em comunicado, explicando que o navio tinha a bordo "quatro contentores vazios", confirmando que eles anteriormente tinham transportado cianeto de sódio e garantindo que vai continuar a monitorizar esses contentores.
Na nota, a empresa Ernst Russ acrescenta que “foi incorretamente noticiado” que o produto químico perigoso estava a bordo da embarcação.
Com Lusa