A pressão norte-americana sobre Kiev acentuou-se no mesmo dia em que Volodymyr Zelensky recebeu o enviado especial dos EUA Keith Kellogg. Washington não autorizou a realização de uma conferência de imprensa no final do encontro, como estaria previsto. Nas Nações Unidas e no G7, os EUA mostraram-se contra documentos condenatórios da Rússia. O presidente ucraniano continuou a ser insultado, desta vez pelo bilionário Elon Musk. E o conselheiro de segurança nacional aconselhou Kiev a assinar o acordo dos minerais. Depois de ter sido chamado de “ditador” por Trump, Zelensky tentou baixar o tom e mostrou-se disposto a discutir um acordo que envolva o acesso dos EUA aos minerais ucranianos, em troca de garantias de segurança. Sem conferência de imprensa no final da reunião com o general Kellogg, Zelensky recorreu às redes sociais para fazer passar a mensagem: “A Ucrânia está pronta para um acordo de investimento e segurança forte e efetivo com o presidente dos Estados Unidos. Propusemos a forma mais rápida e construtiva de obter resultados”, escreveu, dizendo ainda que a sua equipa está “pronta para trabalhar 24 horas por dia, 7 dias por semana”. O presidente ucraniano frisou que manteve uma conversa pormenorizada sobre a situação no campo de batalha, a libertação de prisioneiros de guerra e garantias de segurança eficazes com o enviado norte-americano, o homem mais próximo de Kiev na administração Trump (a sua filha Meaghan Mobbs preside a uma fundação que fornece ajuda humanitária à Ucrânia). Zelensky respondeu de forma positiva ao interesse declarado por Trump na quarta-feira de “ressuscitar” o acordo de exploração de minerais ucranianos. Este previa que os EUA - ou antes, empresas a designar - ficassem com 50% dos proveitos não só de minerais, mas também da exploração de gás e petróleo como forma de compensar os EUA pelo apoio militar. Este acordo foi entregue pelo secretário do Tesouro Scott Bessent a Zelensky durante a visita a Kiev na semana passada, tendo o primeiro pressionado o segundo para assinar o documento de imediato. Mas o ucraniano recusou nessa ocasião, como em Munique - segundo os media ucranianos, os EUA condicionaram a reunião com o vice J.D. Vance à sua assinatura -, porque não inclui quaisquer garantias de segurança. Quarta-feira, ao lamentar as afirmações de Trump, Zelensky também se referiu à proposta dos EUA. “Estou a defender a Ucrânia, não posso vender o nosso país”, tendo pedido uma “conversa séria”.Em paralelo, os EUA pressionaram Kiev de todas as direções. “É preciso que se acalmem, olhem com atenção e assinem o acordo”, disse o conselheiro de segurança nacional Mike Waltz. Já Musk insistiu na ideia de se realizarem eleições num país parcialmente ocupado e em guerra e afirmou que “Trump tem razão em ignorá-lo e em resolver a questão da paz independentemente da máquina de corrupção maciça e repugnante que se alimenta dos cadáveres dos soldados ucranianos”. E como prova de que os EUA parecem neste momento mais alinhados com o Kremlin do que com o Ocidente, diplomatas disseram à Reuters que os EUA recusam-se a copatrocinar um projeto de resolução da ONU que assinala a invasão da Ucrânia e que, como em ocasiões anteriores, apoia a integridade territorial da Ucrânia e exige a retirada das tropas russas. .MNE chinês diz que se está a abrir "janela para a paz" na Ucrânia após reunião em Riade.Líderes em KievNa segunda-feira, data do 3.º aniversário da invasão da Rússia à Ucrânia, os presidentes do Conselho e da Comissão Europeia, António Costa e Ursula von der Leyen, assim como o chefe do governo de Espanha, Pedro Sánchez, estarão na capital ucraniana para marcar o apoio ao país. Visitas a WashingtonAlém das reuniões do francês Macron (2.ª-feira) e do britânico Starmer (5.ª) com o norte-americano Trump, o chefe da diplomacia da Polónia também vai estar nos EUA. Na segunda-feira, Radoslaw Sikorski vai falar em nome da UE na Assembleia Geral da ONU sobre a guerra na Ucrânia. Também deverá encontrar-se com o secretário de Estado Rubio.Explosões em óculos de dronesUma série de explosões ocorridas junto de operadores de drones FPV russos nas últimas semanas dever-se-á a um plano de sabotagem dos serviços secretos ucranianos, à imagem das explosões de pagers e de walkie-talkies em pessoal do Hezbollah, no Líbano. A informação foi avançada pela agência russa TASS e confirmada por meios ucranianos. Desconhece-se os danos causados pela operação.Kursk a ser retomadaMoscovo afirma ter reconquistado à Ucrânia mais de 800 km2 de território na região de Kursk, no oeste da Rússia, ou seja, cerca de 64% do que tinha perdido. O general russo Sergei Rudskoi afirmou que as suas forças estavam a avançar em todas as direções e que a Ucrânia tinha sido empurrada para uma posição defensiva.Ataques ao gás e eletricidadeA Rússia lançou 161 drones e uma dúzia de mísseis durante a noite de quarta para quinta, visando as infraestruturas de gás na região de Kharkiv, e atingindo o fornecimento de energia elétrica na região de Odessa pela segunda noite consecutiva, disseram as autoridades ucranianas.