A conferência de imprensa era de balanço do ano de governação, mas o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, optou por falar logo dos problemas que afetam a imagem do partido socialista. Em plena crise com casos de corrupção que chegaram ao mais alto nível do governo, surgiram mais recentemente escândalos relacionados com assédio sexual no PSOE. “O momento não é fácil”, disse Sánchez, que admitiu vários “erros”, mas deixou claro que não haverá eleições antecipadas. “Vamos concluir a legislatura em 2027 e vamos dar continuidade a este roteiro que cada um dos ministros do governo de Espanha está a implementar com sucesso”, defendeu. Mas as críticas não vêm só da oposição e até o principal sócio do executivo, o Sumar, exige ações. A vice-primeira-ministra Yolanda Díaz quer uma “mudança profunda” do executivo. Sánchez rejeita, dizendo sentir-se “orgulhoso” de todos os ministros, mas o Sumar avisa que “a inação perante esta situação não é uma opção”. O governo está “cheio de determinação, convicção e energia”, defendeu o líder socialista, prometendo dar o melhor na segunda metade desta legislatura. “Temos que continuar a avançar para uma economia mais justa, produtiva e humana, neutralizando a emergência climática e defendendo o Estado social daqueles que o querem privatizar ou reduzir, como vemos nas comunidades autónomas governadas pelo PP com o apoio do Vox, e proteger a democracia e a ordem multilateral dos xenófobos, isolacionistas e autocratas”, acrescentou. “E se para isso tivermos de suportar campanhas de assédio, mentiras, difamação, assim o faremos.”Depois da prisão preventiva do antigo ministro dos Transportes socialista José Luis Ábalos, suspeito de corrupção nos contratos para a compra de máscaras durante a covid-19, as últimas semanas têm sido marcadas por inúmeros denúncias de assédio sexual de vários eleitos do PSOE. O primeiro-ministro defendeu a resposta do partido, apesar de admitir erros por ter demorado cinco meses a reagir às queixas contra o seu ex-assessor Francisco Salazar. Este caso desencadeou uma série de denúncias, que levaram a várias demissões. “O compromisso do governo e do PSOE com o feminismo é absoluto. Somos a primeira organização política a decidir abordar o problema do abuso com transparência e firmeza, incentivando as mulheres a denunciá-lo”, afirmou Sánchez. “Mais de 32% das mulheres referiram ter sofrido assédio ou abuso nos seus locais de trabalho. O assédio não tem cartão partidário, mas a ação decisiva contra o abuso sim, e está no PSOE”, referiu, rejeitando lições da direita ou da extrema-direita - que sempre votaram contra os avanços nas políticas de igualdade e que também tiveram casos de corrupção.“Não há lições a retirar daqueles que proferem discursos sobre condutas exemplares a partir de uma sede paga com dinheiro sujo”, afirmou, numa referência ao PP e aos escândalos de corrupção que afetaram o partido. “Contra os casos de corrupção que estão a ser investigados, o governo e o meu partido agiram com absoluta firmeza, não com cumplicidade”, acrescentou. Em relação ao Vox, optou pela ironia dizendo que já estão no meio de muita “revolta” - o nome da juventude do partido, suspeita de ter ficado com o dinheiro que angariou para ajudar durante as cheias devastadoras de Valência em 2024. O Vox já denunciou o caso às autoridades.