O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse que a mudança de regime no Irão não era um dos objetivos da guerra, mas podia ser consequência dos ataques contra o nuclear e a liderança militar iraniana. No primeiro dia da guerra enviou até uma mensagem direta aos iranianos, pedindo-lhes que aproveitem a oportunidade para pressionar para a queda dos ayatollahs.O presidente norte-americano, Donald Trump, escreveu na Truth Social que “mudança de regime” não era uma expressão politicamente correta, “mas que se o regime atual é incapaz de Tornar o Irão Grande de Novo [adaptação do seu slogan Tornar a América Grande de Novo], porque é que não haveria uma?” E antes já tinha avisado o líder supremo iraniano, Ali Khamenei, que sabia onde ele estava, mas que “pelo menos por agora” não tinha planos para o matar. O que muda com o cessar-fogo? Será que Netanyahu e Trump puseram de lado a ideia de derrubar o regime dos ayatollahs, no poder desde a Revolução Iraniana de 1979 que derrubou o último xá, Mohammad Reza Pahlavi? O seu filho, que vive no exílio, tem-se apresentado como possível líder da transição, tentando evitar que possa acontecer o mesmo que noutras mudanças de regime impostas de fora: vazio de poder, violência e instabilidade (basta olhar para o Afeganistão, Iraque ou Líbia). A liderança de Khamenei tem os dias contados, nem que seja por causa da sua idade: 86 anos. O líder supremo sucedeu ao pai da revolução, Ruhollah Khomeini, em 1989, depois de oito anos como presidente do Irão. Os planos para a escolha de um sucessor de Khamenei já tinham sido lançados por causa da sua idade, mas ganharam maior relevância com a morte do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, num bombardeamento israelita, e aceleraram-se depois do início do ataque de Israel ao Irão.Segundo a Reuters, um grupo de três clérigos nomeado pelo próprio líder supremo há dois anos para escolher um sucessor estará preparado para anunciar de imediato a sua escolha em caso de morte de Khamenei - para dar um sinal de estabilidade e continuidade. O escolhido tem que mostrar a sua devoção aos ideais da Revolução Islâmica, mas também poderá ser alguém mais moderado para acalmar a comunidade internacional e a contestação interna.De acordo com a mesma agência de notícias, há dois favoritos na corrida: Mojtaba Khamenei, um dos filhos do atual líder supremo, que aos 56 anos é visto como a escolha da continuidade e da atual linha dura do regime. Ou Hassan Khomeini, neto do pai da revolução, de 53 anos, que será mais próximo da fação reformista que defende o aliviar das restrições políticas e sociais (e que ganhou força na década de 1990), mas que apesar disso e por causa do seu ADN tem o apoio de vários clérigos e Guardas da Revolução.O líder supremo tem a autoridade máxima no Irão, acima do presidente ou do Parlamento - escolhidos em eleições em que os candidatos têm que ter a aprovação de um órgão de fiscalização cujos membros são nomeados pelo próprio líder supremo. A escolha do sucessor é oficialmente feita pela Assembleia de Peritos, um grupo de 88 clérigos que também são eleitos da mesma forma, mas a aposta é avançar para um anúncio rápido que evite a desestabilidade.Há contudo quem continue a apostar numa mudança de regime, depois de a operação militar israelita ter revelado as fragilidades da República Islâmica. O problema, dizem os especialistas, é que não existe uma oposição credível e unida (no Irão ou no estrangeiro) que possa servir como uma alternativa. E o regime não está tão fragilizado ao ponto de não ser capaz de esmagar a dissidência - fê-lo nos protestos económicos de 2017-2019 e depois nos feministas de 2022.O filho do último xá do Irão, Reza Pahlavi, acredita ser a solução para o possível vazio de poder e apelou ao Ocidente para apoiar a mudança de regime. “Não procuro o poder político, mas ajudar a nossa grande nação a navegar por esta hora crítica no caminho da estabilidade, liberdade e justiça”, disse numa conferência de imprensa, na segunda-feira. É preciso lembrar que o reinado do seu pai também foi marcado por contestação e repressão, não tendo deixado saudades aos iranianos.“Este é o nosso momento do muro de Berlim”, disse Pahlavi, defendendo que “o Irão está numa encruzilhada”. Um dos caminhos leva “ao derramamento de sangue e ao caos” e o outro “a uma transição pacífica e democrática”. A escolha depende de se é permitido ou não ao regime sobreviver, referiu, avisando que se o Ocidente lhe der uma oportunidade, então será escolhido o primeiro caminho, porque o regime nunca se vai render. Já após o anúncio do cessar-fogo, Pahlavi insistiu para que o mundo não salve o regime “corrupto e terrorista”. .Novo relatório dos EUA sugere que ataques ao Irão não destruíram instalações nucleares.Trump irrita-se mas diz que cessar-fogo se mantém. “Foi uma grande honra parar a guerra!”