Senador acusa Bolsonaro de o coagir a participar num golpe de estado
Marcos do Val revelou reunião com o ex-presidente na qual lhe foi pedido para gravar o presidente do Tribunal Eleitoral "a entrar em contradição". O objetivo seria decretar "estado de defesa" e impedir a posse de Lula
O senador brasileiro Marcos do Val, do Podemos, acusou, nesta quinta-feira, dia 2, Jair Bolsonaro de o ter tentado envolver num plano de golpe de estado que visava manter o ex-presidente da República no Planalto e impedir a posse de Lula da Silva.
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Segundo Marcos do Val, um aliado de Bolsonaro ao longo dos últimos quatro anos, Daniel Silveira, ex-deputado bolsonarista, pediu-lhe, num encontro a três com o então presidente da República, para gravar Alexandre de Moraes, juiz do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sem o conhecimento dele. A intenção era descobrir uma contradição do magistrado que pudesse levar à sua prisão.
O senador partilhou uma mensagem enviada por Silveira dias depois: "Como tivemos pouco tempo, não passei o que entendo como diretriz para que você adapte da sua maneira. Contudo, já tenho escutas usadas pelas operações especiais. Tenho veículo receptor que pode imediatamente reproduzir além da gravação e essa operação ficar restrita a um círculo de cinco pessoas. Três estavam sentados hoje conversando juntos. Se aceitar a missão, parafraseando o 01, salvamos o Brasil".
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A revelação de Marcos do Val vem sendo relacionada com um documento encontrado pela polícia na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, detido em janeiro por suposto envolvimento nos ataques a Brasília: esse documento era um decreto de "estado de defesa no TSE", presidido por Moraes, que na prática prenderia o juiz, impediria Lula de assumir a chefia de estado e manteria Bolsonaro no cargo.
As autoridades acreditam que as "cinco pessoas" com conhecimento do plano golpista, citadas na mensagem de Silveira, seriam o próprio autor do texto, Marcos do Val, Bolsonaro (o "01"), Torres e alguém da chefia do Gabinete de Segurança Institucional, liderado sob Bolsonaro pelo general Augusto Heleno, que forneceria "as escutas das operações especiais".
Em paralelo com a acusação de Do Val, o ex-deputado Silveira foi detido no Rio de Janeiro, na manhã de quinta-feira dia 2, e o ex-ministro Torres presta novo depoimento à polícia, nas próximas horas.
Bolsonaro ainda não se pronunciou sobre o tema mas o senador Flávio Bolsonaro disse em plenário que "em vez de narrativas devemo-nos ater aos factos e os factos são que Bolsonaro no dia 31 de dezembro deixou a presidência da República".