Quase um ano após o colapso da coligação que apoiava Mark Rutte e 223 dias depois da vitória do partido de extrema-direita de Geert Wilders nas eleições legislativas neerlandesas, os Países Baixos têm um novo primeiro-ministro e um novo governo. Não foi o polémico líder do Partido pela Liberdade (PVV) que prestou juramento diante do rei Guilherme Alexandre - nem sequer ficou com uma pasta ministerial -, mas Dick Schoof terá dificuldades em sair da sua sombra. E à frente de uma coligação de quatro partidos são muitos os que questionam quanto tempo durará o executivo mais à direita do país..“Estou desejoso de começar a trabalhar como primeiro-ministro. Por uns Países Baixos seguros e justos com segurança social para todos. Sou a favor do controlo da imigração, de manter o diálogo, de fazer escolhas e ser claro sobre elas. Podem contar comigo”, escreveu Schoof, de 67 anos, publicando no X uma foto com o rei. Depois houve a passagem de testemunho do até então primeiro-ministro Mark Rutte - que ao fim de quase 14 anos no poder se prepara para ser secretário-geral da NATO - e o primeiro conselho de ministros. .Schoof, antigo líder dos serviços de informação neerlandeses e sem filiação partidária atual (já foi dos trabalhistas), foi o escolhido pela coligação de quatro partidos para liderar o governo. Isto depois de ser acordado que nem Wilders (cujas posições anti-islão e antieuropeias são consideradas demasiado radicais para liderar o país) nem nenhum dos líderes dos outros três partidos da coligação fariam parte do governo. Mas isso não significa que Wilders não tenha uma voz ou força no executivo. “Estou sem partido, não me vejo a curvar diante do Sr. Wilders”, disse Schoof, tentando afastar a ideia de que ficará na sombra do líder da extrema-direita. .O PVV, que venceu as eleições de 22 de novembro convocadas após o colapso a 7 de julho da coligação que apoiava Rutte, tem cinco ministros no novo executivo. Fica com as pastas do Asilo, Infraestruturas, Assuntos Económicos, Comércio Internacional e Saúde. Os liberais do Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD), que Rutte liderou, ficou com as Finanças, Defesa, Clima e Justiça. Os democratas cristãos do Novo Contrato Social, um partido que nasceu há menos de um ano, ficou com os Negócios Estrangeiros, o Interior, a Educação e Segurança Social. E os populistas do Movimento Agricultor-Cidadão ficam com a Habitação e, como não podia deixar de ser, a Agricultura. .O primeiro-ministro “terá muito trabalho em manter conflitos ideológicos e pessoais sob controlo”, disse à AFP a professora de Política na Universidade de Amesterdão, Sarah de Lange, diante de um governo que está longe de ser coeso e de trabalhar para o mesmo objetivo - apesar do acordo de coligação de 26 páginas intitulado “Esperança, coragem e orgulho”. De Lange considera que Wilders terá muito trabalho em controlar os membros do próprio partido e que dará espaço de manobra a Schoof, mas a dúvida é saber como este reagirá se o líder do PVV o começar a pressionar nas redes sociais - tem 1,4 milhões de seguidores no X..susana.f.salvador@dn.pt.Correção: a versão original do texto indicava, erradamente, que Mark Rutte esteve quase 12 anos no poder, quando foram quase 14.