Sanções e mais sanções atingem regime de Putin
União Europeia, Estados Unidos e outros países aliados anunciaram novas sanções dirigidas a bancos, ao gasoduto Nord Stream 2 e a indivíduos como o ministro da Defesa russo ou a diretora do canal RT, um dos braços da propaganda do Kremlin.
Aos nomes dos deputados russos Alexei Cherniak, Leonid Babashov e Tatiana Lobach, e dos diretores da chamada comissão eleitoral de Sebastopol Nina Faustova e Alexander Chmyhalov, sancionados na terça-feira pela União Europeia, juntaram-se ontem os restantes deputados da Duma, atingindo a totalidade dos 351 representantes que votaram para que o líder Vladimir Putin reconhecesse a independência das regiões ucranianas de Lugansk e Donetsk. Também foram alvo de medidas 27 "indivíduos de destaque" e entidades com "um papel na debilitação ou ameaça da integridade territorial, soberania e independência da Ucrânia". Estes incluem membros do governo, bancos e oligarcas que apoiaram as operações russas nos territórios de Donetsk e Lugansk, militares de alta patente e indivíduos responsáveis pela guerra de desinformação contra a Ucrânia.
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À hora de fecho de edição a lista ainda não tinha sido publicada pelo Jornal Oficial da União Europeia, mas o Politico, que teve acesso ao documento, afirma que entre os visados estão o ministro da Defesa Sergei Shoigu, a diretora do canal televisivo em inglês RT e da agência Rossiya Segodnya (Sputnik, RIA Novosti, etc.) Margarita Simonyan, uma "figura central da propaganda do governo" russo que "promoveu uma atitude positiva em relação à anexação da Crimeia e às ações dos separatistas do Donbass". Também figuram na lista três bancos, Rossiya Bank, Promsvyazbank (PSB) e VEB, com ligações às regiões ucranianas alimentadas pelo regime russo. "A lógica é privar o Estado russo e os organismos governamentais do acesso aos mercados de capitais europeus", e em consequência "cortar este acesso também ao banco central", disse um diplomata ao Politico.
555 Com as sanções aprovadas na quarta-feira, há agora 555 indivíduos e 52 entidades ligadas ao regime russo sob sanções por parte da União Europeia.
Do outro lado do Atlântico, o presidente Joe Biden voltou a anunciar mais uma medida contra o regime autoritário: sanções ao gasoduto Nord Stream 2, que liga a Rússia à Alemanha pelo mar Báltico. "Dei instruções à minha administração para impor sanções à Nord Stream 2 AG e aos seus responsáveis empresariais", disse Biden em comunicado, depois de a Alemanha ter anunciado no dia anterior que iria suspender o projeto, pronto há meses, mas à espera de uma aprovação pela entidade reguladora germânica. "Através das suas ações, o presidente Putin deu ao mundo um incentivo irresistível para se afastar do gás russo e para outras formas de energia", disse Biden.
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Esta medida inverte a tomada de posição do presidente dos EUA, que no ano passado tinha deixado para trás a ameaça de bloquear o projeto, tendo alegado que então estava "99% concluído". O gasoduto tem sido um ponto de discórdia e de tensão entre Washington, Berlim e Moscovo há anos.
Na véspera, a Casa Branca viu com alívio a decisão do chanceler Olaf Scholz de não permitir a abertura do gasoduto e de se mostrar aberto a mais sanções, coroando semanas de conversações com Berlim. "O investimento de 11 mil milhões de dólares e um gasoduto precioso controlado pela Rússia irá agora ser desperdiçado", disse o conselheiro adjunto de segurança nacional Daleep Singh aos jornalistas. O mesmo classificou a medida de "grande ponto de viragem na independência energética mundial em relação à Rússia" e em relação à Europa um alívio no que respeita ao "estrangulamento geoestratégico da Rússia".
"Se a Rússia continuar por este caminho poderá criar uma nova crise de refugiados, uma das maiores que o mundo enfrenta hoje, com até 5 milhões de pessoas deslocadas." Linda Thomas-Greenfield, embaixadora dos EUA na ONU
Também na terça-feira Joe Biden disse que a primeira ronda de sanções visa a dívida soberana da Rússia, cortando "o financiamento ocidental ao governo russo", mas também impondo sanções a dois bancos - PSB e VEB, o primeiro ligado ao fomento, o segundo à defesa -, a indivíduos não especificados das "elites russas", e às duas regiões separatistas, embora estas não tenham qualquer relação comercial com os Estados Unidos.
"Nenhuma instituição financeira russa está segura se esta invasão prosseguir", declarou o alto funcionário da Casa Branca, que ainda lembrou a importância das sanções impedirem a importação russa de componentes de alta tecnologia. Em declarações à CNN, Daleep Singh disse que a primeira ronda de sanções foi só um exemplo do poder dos Estados Unidos para atuar sem ser militarmente: "Deixem-me ser muito claro: ontem atacámos duramente, e foi apenas um exercício de demonstração."
Singh lembrou que os efeitos das sanções não são imediatos, mas que a Rússia já está a senti-los. "O nosso propósito é evitar uma invasão e a tomada de grandes cidades na Ucrânia. O nosso propósito é prevenir o sofrimento humano que poderia envolver dezenas de milhares de baixas. E o nosso propósito é impedir que um regime fantoche se apodere de Kiev e se curve à vontade de Moscovo", concluiu.
Além da União Europeia e dos Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Austrália e Canadá avançaram também com sanções económicas ao regime de Putin, bem como a determinados indivíduos.
"O início de uma guerra em grande escala na Ucrânia será o fim da ordem mundial tal como a conhecemos. Este é um cenário sombrio que nos fará regressar aos tempos mais negros do século XX. A Rússia não vai parar na Ucrânia." Dmytro Kuleba, MNE da Ucrânia
Além das sanções já postas em prática, os presidentes da Polónia e da Lituânia juntaram a voz à do líder ucraniano para exigir a "rápida introdução de um pacote robusto de sanções" contra Moscovo, e expressaram o apoio à candidatura da Ucrânia a membro da União Europeia. Depois de Volodymyr Zelensky ter recebido em Kiev Andrzej Duda e Gitanas Nauseda, a declaração conjunta condenou a decisão da Rússia de reconhecer as duas regiões separatistas. Já Duda referiu que as decisões de Putin não ameaçam apenas a Ucrânia "mas a região inteira, em particular o flanco oriental da NATO e a União Europeia no seu todo".
Moscovo garante resposta
Na volta do correio, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo garantiu uma "resposta dura" ao pacote de sanções de Washington, com medidas "sólidas e dolorosas".
O ministério de Sergei Lavrov declarou que a política dos EUA de tentar influenciar a Rússia através de sanções equivale a "chantagem, intimidação e ameaças", o que não pode funcionar com "uma potência global" como a Rússia.
3 O governo ucraniano instou os seus cidadãos a residir na Rússia - cerca de 3 milhões de pessoas - a deixar o país. Em sentido contrário, saíram os últimos funcionários da embaixada russa em Kiev.
Acusa também os Estados Unidos de estarem dependentes das sanções, o que, alega, demonstra que a sua política externa está "presa nos estereótipos de um mundo unipolar com uma falsa crença de que os EUA ainda têm o direito e a capacidade de impor as suas próprias regras da ordem mundial". Além disso chama aos aliados e parceiros norte-americanos de "satélites e clientes, que perderam completamente a sua independência".
"Uma coisa é clara: a decisão da Rússia de reconhecer a dita "independência" das regiões de Donetsk e Lugansk são violações da integridade territorial e da soberania da Ucrânia e inconsistentes com os princípios da Carta das Nações Unidas." António Guterres
Na véspera o secretário de Estado dos EUA Antony Blinken cancelara uma reunião com Lavrov tendo invocado o início da invasão russa e "a rejeição total da diplomacia", ao que o ministério russo disse que Moscovo está "aberto à diplomacia baseada nos princípios do respeito mútuo, igualdade e consideração pelos interesses uns dos outros". Também Putin afirmou estar aberto a "soluções diplomáticas", todavia "os interesses da Rússia, a segurança dos cidadãos, não são negociáveis", enquanto ameaça a segurança dos cidadãos ucranianos com uns 150 mil soldados e respetivo armamento nas fronteiras e no mar Negro.
Sanções resultam?
A grande dúvida é saber se as sanções já anunciadas e aquelas que ainda podem ser sacadas da manga, como excluir a Rússia do sistema de transferências bancárias internacionais (SWIFT) ou visar diretamente o homem que Biden já chamou de "assassino", irão impedir um líder que nos seus 20 anos no poder chefiou uma guerra interna (Chechénia) atacou dois antigos estados soviéticos, participa na guerra na Síria e em vários países africanos através de mercenários.
Vladimir Putin é tido como um dos homens mais ricos do mundo, mas as suas finanças são inescrutáveis, pelo que as sanções podem não conseguir atingi-lo, embora o governo britânico esteja a apertar o cerco a oligarcas russos. A imposição de sanções a Putin colocá-lo-ia numa rara categoria de líderes alvo de sanções. Porém, podem ter apenas "utilidade marginal", disse Brian O"Toole, um especialista em sanções, ao Washington Post.
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