O cenário político em Espanha é de confronto aberto entre o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, e o líder da oposição, Alberto Núñez Feijóo. Tendo como pano de fundo a reforma judicial e as alterações que o governo quer fazer nas nomeações para o Tribunal Constitucional - estas últimas travadas pelos próprios juízes antes de seguirem para o Senado - os ataques sobem de tom. Sánchez acusou ontem Feijóo de "silenciar" as Cortes Gerais, com o líder do Partido Popular (PP) a responder acusando o socialista de deixar a democracia espanhola em "cinzas".."A sua grande contribuição nos nove meses que leva na política nacional é silenciar as Cortes Gerais", disse Sánchez no confronto com Feijóo no Senado, o último do ano. "Os poderes que o acompanham e lhe fazem cobertura, que o dirigem a si e ao seu partido, cada vez menos ocultos, conseguiram um feito histórico, que é tirar capacidades aos parlamentares, tirar-lhes a faculdade de debater, propor e legislar", acrescentou o primeiro-ministro socialista. "Você que vinha trazer moderação, foi mais longe do que o seu antecessor [Pablo Casado], talvez porque não quer que lhe aconteça o mesmo", referiu..Feijóo, líder do PP desde abril, reiterou que nunca questionou a legitimidade da vitória eleitoral do socialista, mas deixou entender que ele tem violado a Constituição. E alegou que "o Pedro Sánchez de 2019 nunca votaria no Pedro Sánchez de 2022" e desafiou-o a antecipar as eleições - que têm de se realizar o mais tardar a 10 de dezembro de 2023. "A sua política vai de incêndio em incêndio, o seu governo está em chamas, mas não se pode reduzir a cinzas a arquitetura institucional de Espanha, que nos custou 40 anos a fortalecer", respondeu o líder do PP..Feijóo acusou ainda Sánchez de ter "aperfeiçoado o manual de obediência aos independentistas" catalães, questionando se ele já tem data para celebrar um referendo como eles querem. O choque entre ambos subiu de tom com a reforma judicial que o governo propôs, que entre outras coisas acaba com o crime de sedição que serviu para condenar os independentistas catalães após o referendo de 2017..O ponto mais polémico prende-se contudo com as emendas que o governo acrescentou a essa reforma, procurando alterar os métodos de nomeação dos juízes para o Tribunal Constitucional de forma a desbloquear o impasse que faz com que quatro já tenham o mandato caducado. O PP recorreu para este mesmo tribunal, criticando a forma como estas mudanças estão a ser feitas, com os juízes (a maioria deles conservadores) a suspenderem o debate no Senado. Os socialistas e os aliados no governo falam num choque institucional sem precedentes..O barómetro de dezembro do Centro de Estudos Sociais (CIS), conhecido ontem, coloca o PSOE à frente nas estimativas de voto para as eleições do próximo ano, mas em queda em relação ao mês anterior. Os socialistas caem 2,1 pontos percentuais para os 30,6% e veem o PP aproximar-se, tendo o partido de Feijóo subido 1,4 pontos para os 28,6%. A vantagem do PSOE, que em novembro era de 5,5 pontos, é agora de apenas 2 pontos. Nas eleições de novembro de 2019, o PSOE conseguiu 28% e o PP, na altura liderado por Pablo Casado, não foi além dos 16,7%..O CIS é o organismo encarregado de fazer as sondagens públicas, sendo que há muito a oposição diz que não é parcial - por ser liderado pelo ex-dirigente socialista José Félix Tezanos, um sociólogo que alterou as fórmulas de estimativa de votos. O barómetro do CIS é a única sondagem que ainda dá vitória ao PSOE nas próximas eleições, com todas as outras a colocar, há mais de seis meses, o PP à frente. .A Unidas Podemos, sócia da coligação de governo de Sánchez, surge em terceiro com 12,4% (mais duas décimas que em novembro, mas quatro abaixo do alcançado nas eleições de novembro 2019). Atrás está o Vox, que subiu uma décima para os 10,2% - aquém dos 15% que tornaram o partido de extrema-direita a terceira força política no Congresso espanhol. O Ciudadanos surge com 2,9%, longe dos 6,8% que teve há três anos, quando caiu de terceira para sexta força política. Os dois partidos da coligação de governo conseguem assim mais apoio que os três de direita, já que PSOE e Unidas Podemos surgem com 43% e PP, Vox e Ciudadanos ficam-se nos 41,7%..susana.f.salvador@dn.pt