Militares norte-americanos na base de Grafenwöhr, um potencial alvo de sabotagem russa.
Militares norte-americanos na base de Grafenwöhr, um potencial alvo de sabotagem russa.CHRISTOF STACHE / AFP

Sabotagem e explosões: como agentes pró-russos planeavam minar ajuda à Ucrânia

Relações entre Berlim e Moscovo azedam ainda mais na sequência da detenção de dois alemães nascidos na Rússia. São suspeitos de espionagem e de planearem ações de sabotagem contra instalações militares e industriais.  
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Bayreuth é uma pequena cidade bávara conhecida pelo festival criado pelo compositor Richard Wagner. A sua pacatez é abalada pelos milhares de melómanos que aí acorrem para ver e ouvir as produções operáticas do alemão. Foi agora também notícia pela detenção de dois cidadãos suspeitos de espionagem e de planeamento de ataques com o objetivo de prejudicar a ajuda militar para a Ucrânia, em mais um episódio de interferência russa em território alemão. 

O gabinete do procurador federal, em Karlsruhe, disse que Dieter S. e Alexander J. -- ambos nascidos na Rússia mas há muito naturalizados alemães -- vão ser acusados, acusados, entre outras coisas, de atuar como agentes para fins de sabotagem e de preparar explosivos, em resultado de buscas nas suas residências e locais de trabalho. As autoridades disseram que os dois indivíduos teriam estado a escolher e pesquisar sobre potenciais alvos de ataque, incluindo bases militares americanas na Alemanha. Em específico, a base militar de Grafenwöhr, na Baviera, onde os soldados ucranianos recebem formação sobre a utilização dos tanques Abrams dos EUA, noticiou a revista Der Spiegel.

O principal suspeito, Dieter S., já tinha um longo historial pró-Putin: entre 2014 e 2016 esteve a combater no leste da Ucrânia integrado nas forças da chamada República Popular de Donetsk, de acordo com o Ministério Público alemão. Como aquela unidade militar está classificada como organização terrorista pela justiça alemã, Dieter S. é também acusado de pertencer a uma organização terrorista estrangeira no estrangeiro. O arguido estaria agora em contacto com um agente dos serviços secretos russos, com o qual estaria a trocar informações sobre ações de sabotagem. Dieter S., que terá dito ao agente russo estar preparado para executar ataques a infraestruturas utilizadas pelas forças armadas, bem como a instalações industriais, é também acusado de conspiração para causar uma explosão e fogo posto.

A ministra dos Negócios Estrangeiros Annalena Baerbock convocou o embaixador russo. “Não permitiremos que Putin leve o seu terror à Alemanha”, foi o que a chefe da diplomacia alemã fez transmitir ao representante russo em Berlim, segundo o que afirmou na rede X. Já o chanceler Olaf Scholz foi mais diplomático: “Nunca poderemos aceitar que haja atividades de espionagem na Alemanha.” 

A Rússia respondeu com um diplomático não desmentido, ao comunicar através da conta no X da embaixada em Berlim que, na reunião à qual o diplomata Sergei Nachaev foi convocado, “não foram apresentadas provas dos planos dos detidos nem da sua possível ligação a representantes das estruturas russas”.

Este é o mais recente episódio de alegadas atividades de espionagem russa na Alemanha ou junto de alemães. A anterior envolveu a interceção de uma videochamada entre chefias militares que discutiam as implicações da eventual entrega de mísseis de longo alcance Taurus à Ucrânia. No ano passado, David Smith, funcionário da embaixada britânica em Berlim, foi condenado a 13 anos de prisão depois de ter sido apanhado pelo MI5 a espiar para Moscovo.

Também no ano passado, Thomas H., funcionário do departamento de aprovisionamento das forças armadas alemãs, foi detido depois de ter contactado o consulado russo em Bona e a embaixada em Berlim. É suspeito de ter passado informações militares aos serviços secretos russos. Em dezembro último começou um julgamento de Carsten L., que à altura dos factos era chefe de divisão dos serviços de informações federais (BND) e de um empresário, Arthur E. O primeiro é suspeito de ser agente duplo e de ter vendido ao segundo documentos secretos reveladores dos métodos de trabalho do BND, os quais acabaram nas mãos do FSB, a secreta russa.

A detenção dos dois suspeitos deu-se no dia em que o vice-chanceler Robert Habeck visitou Kiev. O também ministro da Economia mostrou-se otimista quanto ao desfecho da guerra, ao declarar à Deeutsche Welle que “Moscovo pode ser travada”. Por outro lado, disse o que o presidente Zelensky ou o MNE Kuleba têm repetido todos os dias: “A Ucrânia precisa de sistemas de defesa aérea.”

Habeck foi acompanhado pelo diretor da Diehl, empresa que fabrica os sistemas de defesa aérea Iris-T. Este anunciou a entrega, nas próximas semanas, de um sistema, que será o quarto a operar na Ucrânia. 

Ataque na Crimeia

Na noite de quarta-feira, um ataque aéreo ucraniano atingiu a base aérea de Dzhankoi, na Crimeia ocupada. Segundo o Ministério da Defesa de Kiev a “operação bem-sucedida” destruiu ou danificou quatro lançadores de mísseis de defesa aérea S-400, três sistemas de deteção de radar, um centro de comando e controlo e um sistema de vigilância do espaço aéreo e de controlo da defesa aérea Fundament-M (sobre o qual há pouca informação disponível). Kiev não informou como ultrapassou as defesas aéreas, embora bloggers militares adiantem ter sido com mísseis de precisão ATACMS, lançados dos sistemas HIMARS. 

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