A “satisfação” do dia 12 de julho de 1975 em São Tomé e Príncipe, quando foi proclamada oficialmente a independência do país “ansiada há séculos”, contrastava na primeira página do DN de 14 de julho com a situação de “guerra aberta” em Luanda, onde os combates deixavam “mortes às centenas”. A guerra em Angola continuaria durante anos mesmo depois da independência desse país, a 11 de novembro. Mas naquele sábado de julho, em São Tomé e Príncipe, o ambiente foi de festa de manhã à noite. “A satisfação é demais”, dizia o povo, depois de o almirante Rosa Coutinho, na qualidade de representante oficial de Portugal, assinar a ata de transmissão dos poderes de soberania e administração para o novo Estado africano. Nessa noite, no voo de regresso a Lisboa, admitiria que “assistir ao nascimento de uma nova nação é sempre emocionante”.No momento da declaração de independência “uma onda de ovações, de gritos, de palmas, ecoou no Atlântico”, escreveu o enviado especial do DN, Jorge Soares. “Um novo capítulo na história das frondosas ilhas do Atlântico Sul principiava, virando-se a página negra de sucessivos anos de escravidão, exploração e dependência, em que muitos heróis anónimos e conhecidos caíram na luta constante pela libertação total.”.O jornalista contava como os “panos da independência”, blusas, saias e outras vestes alusivas ao acontecimento fabricadas na vizinha República do Gabão, tinham esgotado no últimos dias. E que davam uma “faceta multicolor no verdejante contraste do arvoredo imenso”. O momento solene foi na Praça da Independência, que alguém já queria chamar Praça Manuel Pinto da Costa, o nome do primeiro presidente. Contava o enviado que muitos países “souberam descobrir, neste dia, as pequenas ilhas do Atlântico, enviando ali os seus representantes, todos para aplaudir a nova nação, mas nem todos certamente sem segundas intenções”, já que “a posição estratégica das ilhas junto à costa ocidental africana pode ser cobiçada pelo imperialismo, na sua constante procura em assentar novos arraiais”. Mas que, naquele momento, “nada se poderá concluir sobre o assunto”.No seu discurso, o novo presidente disse que “o povo ousou resistir durante cinco séculos de massacre da opressão fascista colonial portuguesa”, mas que esse tempo não conseguiu “quebrar a vontade e determinação de vivermos livres e independentes”. A 12 de julho terminou “a noite sombria da exploração colonial”, indicou, mas no discurso deixou ainda um “abraço de solidariedade” para com o povo português, “igualmente vítima do sistema que a ambos explorava”. Cinquenta anos depois, o Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, estará este sábado na cerimónia de aniversário da independência a convite do homólogo são-tomense, Carlos Vila Nova. E irá com uma longa comitiva, que inclui o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, e uma delegação da Assembleia da República.“Esta visita, demonstrativa da profunda amizade entre Portugal e São Tomé e Príncipe, será uma ocasião de renovar o compromisso de caminhar para uma cooperação cada vez mais estreita entre os dois Estados, ancorada na partilha histórica, na integração no espaço lusófono, no respeito mútuo e na irmandade entre os povos português e santomense”, lê-se na nota divulgada pela Presidência na última quarta-feira.