Rushdie mantém "sentido de humor." Pai de atacante vive no Líbano e será pastor
Um dia de pois de Hadi Matar, o norte-americano de origem libanesa de 24 anos que o atacou à facada na sexta-feira ter-se dito "inocente" de tentativa de homicídio, surgiram as primeiras boas notícias sobre o estado de saúde de Salman Rushdie. Enquanto o seu atacante aguarda na prisão nova audiência em tribunal no dia 19 e as autoridades continuam à procura do motivo por detrás do ataque, durante um evento no estado de Nova Iorque, o escritor já não precisava este domingo de ajuda do respirador para respirar. Segundo o seu agente literário, o homem que em 1989 viu uma fatwa do ayatollah Khomeni, guia supremo do Irão, apelar à sua morte após a publicação no ano anterior do seu livro Os Versículos Satânicos, considerado blasfemo por muitos muçulmanos, não só já disse as primeiras palavras, como o filho de Rushdie veio mesmo garantir que o pai "o seu habitual sentido de humor acutilante e desafiador".
"Depois do ataque de sexta-feira, o meu pai continua em estado grave no hospital, a receber tratamento médico", escreveu no Twitter Zazar Rusdhie. O escritor britânico-americano, nascido em Bombaim há 75 anos, foi esfaqueado várias vezes no pescoço e no abdómen. As primeiras notícias dão conta de que poderá perder um olho, tendo ainda sofrido ferimentos graves num braço e no fígado.
"Apesar dos seus ferimentos serem extensos, o seu sentido de humor acutilante e desafiador continua intacto", escreveu Zafar Rushdie. O escritor, que ganhou fama mundial em 1981 com o romance Os Filhos da Meia-Noite, que lhe valeu o prémio Booker nesse anos, disse as primeiras palavras depois de deixar o ventilador. "Começou o caminho da recuperação", afirmou ainda o seu agente literário. "Vai levar tempo. Os ferimentos são graves, mas a sua condição está a ir no caminho certo", afirmou Andrew Wyllie num comunicado enviado aos media.
As autoridades americanas continuavam este domingo a dar poucas informações sobre Hadi Matar ou as razões do ataque. Mas tudo indica que a sua família venho de Yaroun, uma aldeia no sul do Líbano. Matar terá já nascido nos Estados Unidos, na Califórnia, tendo-se só recentemente mudado para Fairview, New Jersey, onde agora vivia.
Os pais de Matar são divorciados e o seu pai, um pastor, ainda mora no Líbano, mantendo a atividade de guardar rebanhos na sua aldeia, informou um jornalista da AFP que visitou o local.
No sábado, a NBC News citava fontes policiais segundo as quais um primeiro exame às redes sociais de Hadi Matar terá revelado que este simpatizava com extremistas xiitas e com os Guardas da Revolução iranianos, considerados como uma organização terrorista pelos EUA, que em 2020 abaterem o seu líder, o general Qassim Suleimani no aeroporto de Bagdad, no Iraque. Segundo a mesma cadeia de televisão, as autoridades terão encontrado fotos de Suleimani numa app de mensagens que pertencia a Matar. Uma potencial ligação aos Guardas da Revolução continuava este domingo por confirmar.
Depois da fatwa, Rushdie passou nove anos escondido, saltando de casa em casa e vivendo sob o pseudónimo Joseph Anton, que mais tarde daria nome ao seu livro de memórias em que relata essa vida em fuga. Mas nos anos 2000 encetara o regresso a uma vida mais ou menos normal.
Com agências