Um Papa da simplicidade e da proximidade, no seguimento de Francisco. O Patriarca de Lisboa lembra o encontro ocorrido há quinze dias, por ocasião da ad limina apostolorum, uma visita de trabalho dos bispos na Santa Sé, e a pergunta que então o agora eleito Leão XIV lhe colocou: o que está a fazer a Igreja Portuguesa em prol dos migrantes?. “Quis saber e esse interesse diz muito”, declara ao DN Rui Valério. A pergunta, no entendimento do bispo português, “caracteriza a personalidade” do novo papa. Em conformidade com Francisco: “na proximidade e na simplicidade, como se fossem seus os problemas da Humanidade”. Um papa que se comove, momento que marcou o patriarca de Lisboa, “muito próximo, muito gentil, muito à-vontade, como se fosse nosso amigo de infância”, diz o patriarca. Porém, acrescenta outro dado definidor: “é alguém com muita profundidade, muita espessura teológica”. Na opinião do patriarca de Lisboa, “é com esta personalidade que devemos contar”. A personalidade de alguém que Francisco “foi buscar ao Peru para o constituir Prefeito do importantíssimo Dicastério dos Bispos”, lembra Rui Valério, dando a entender o quanto o atual papa era uma figura da confiança do antecessor. Não foi a primeira vez que estiveram juntos: “Conversámos muito nas Jornadas Mundiais da Juventude, e noutras ocasiões". Por isso, "ainda que um pouco surpreendido com a escolha”, não estranhou o nome adotado pelo cardeal Robert Francis Prevost. .“Conversámos muito nas Jornadas Mundiais da Juventude, e noutras ocasiõesRui Valério, patriarca de Lisboa. O patriarca recorda a Carta Encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII, sobre a condição dos operários. “Uma carta que alerta para os direitos dos trabalhadores, escrita por um papa da doutrina social da igreja e da abertura à indústria, à ciência, a técnica, que não vendo aí mal algum, considerou contributos para redenção da humanidade”. “Um sinal à América de Trump” Para Raquel Vaz Pinto, do ponto de vista de política interna esta é uma escolha continuidade. “Temos um papa que irá continuar o legado de Francisco, isso parece claro”. Já na política externa, sendo nascido em Chicago “é um homem que tem uma vida muito relacionada com a América Latina”. Diz a professora universitária: “ Tendo em conta o que está a acontecer aos imigrantes, ilegais ou legais, nos EUA, este é um sinal ao mundo, e em particular aos Estados Unidos de Trump, de que a Igreja continuará ao lado dos mais marginalizados”. Relativamente à China, Vaz Pinto considera que o acordo celebrado entre o Vaticano e Pequim, uma das mais controversas decisões de Francisco”, revelou-se “ um falhanço”. "Veremos o que fará o novo papa, que, julgo, não tomou ainda posição explicita”. Voltando à origem do eleito, reconhece na eleição de Prevost “uma escolha inteligente e inovadora, que dá um sinal claro de que a Igreja está ao lado de Francisco em relação às deportações da Administração Trump”. .“Tendo em conta o que está a acontecer aos imigrantes, ilegais ou legais, nos EUA, este é um sinal ao mundo, e em particular aos Estados Unidos de Trump, de que a Igreja continuará ao lado dos mais marginalizados”.Raquel Vaz Pinto, professora universitária. Uma opinião partilhada. “Este papa está seguramente mais perto dos imigrantes que estão na fronteira do México à procura de melhor vida de que das elites que governam os Estados Unidos”, diz o padre jesuíta Miguel Gonçalves Ferreira. Que considera a escolha “surpreendente” e reveladora: “Prova que o colégio cardinalício pensa pela sua própria cabeça”. “Um papa de três mundos” Para o padre jesuíta, porém, há muito mais para onde olhar nesta eleição. Evitando um único foco, descreve “o papa de três mundos” que, preferindo “o espanhol ao inglês”, é alguém capaz de estabelecer pontes. “Nasceu nos Estados Unidos, fez grande parte do trabalho pastoral no Perú, país periférico da América Latina, e tem uma importante experiência em Roma como Prefeito do Dicastério dos Bispos”. Percurso que produziu “uma enorme capacidade de dialogo”. Para Miguel Gonçalves Ferreira, “o papa missionário” que Francisco foi buscar a uma diocese do outro lado do mundo, “é um homem sintonizado com o antecessor, alguém que conhece muito bem os bispos e é por eles conhecido”. Esse conhecimento mútuo é igualmente realçado por Anselmo Borges. O teólogo reconhece em Prevost “alguém que faz o caminho de Francisco”, lembrando a proximidade entre os dois homens. “ Encontravam-se todas as semanas durante duas horas e isso cria laços muito fortes”. Atribuindo ao eleito uma visão global do mundo, irá, como papa e chefe de Estado, ter um papel muito importante”. ."É um homem sintonizado com o antecessor, alguém que conhece muito bem os bispos e é por eles conhecido”Miguel Gonçalves Ferreira, padre jesuíta. As primeiras palavras do papa, nomeadamente a referência a “paz de Cristo ressuscitado”, deixaram no teólogo a ideia de que “vamos caminhar em Igreja como Povo de Deus, levando avante o Concílio Vaticano II”. Porém, “sem sobressaltos”. O professor universitário acredita que Leão XIV “estará muito atento às questões da justiça e dos deserdados. Mas não vejo que com ele venha o fim do celibato obrigatório, nem a ordenação de homens casados, nem a possibilidade de as mulheres presidirem à eucaristia”. Julieta Mendes Dias, membro das Religiosas do Coração de Maria, releva das primeiras palavras do papa, estas: “Convosco sou cristão, para vós sou bispo”. Gostou do que ouviu, encontra nelas um sinal . “Quis dizer-nos que não está acima de nos. E isso é muito bom”. A teóloga, ligada a movimentos católicos progressistas, nomeadamente ao “Nós somos Igreja”, acredita que temos um papa de continuidade, mas não um imitador, diz. “Invocou Francisco de uma maneira muito bonita, mas nem o discurso nem a apresentação foram uma tentativa de imitar o papa anterior”. “Muitas razões para o nome” Conhecido o nome pelo qual o novo Papa quer ser chamado e logo veio à consideração Leão XIII. Um Papa da doutrina social da Igreja, das preocupações com os trabalhadores e atento às condições de vida do operariado. Rui Valério estabeleceu essa ligação de imediato. Marta Faria, assessora do vigário regional do Opus, também: ”Penso que será uma referência ao papa da doutrina social da igreja, uma papa intelectual que soube dialogar com todas as correntes de pensamento e entidades exteriores à Igreja”. Na opinião de Marta Faria, “completamente apanhada de surpresa mas já conquistada por um papa que se deixa emocionar, Leão XIV “pretende transmitir, ao escolher assim chamar-se, a importância do evangelho feito vida, a ligação com os que mais sofrem”. Ainda que apanhada de surpresa, recorda ter ouvido recentemente a setença: “Prevost daria um ótimo papa se não fosse americano”. Sorri, congratulando-se ainda pela escolha do emblema papal: “em Cristo somos um”. Porém, poderão ser outras as razões que levaram o bispo de Roma a escolher ser tratado por Leão. Para o padre Miguel Gonçalves Ferreira há que esperar pelas explicações do próprio. “Talvez sejamos surpreendidos pela razão do nome. Na verdade, Francisco de de Assis tinha um grande amigo e esse amigo era o Frei Leão. Dois franciscanos muito amigos”.Alexandre Palma, o mais jovem bispo português “ lembra também Leão Magno, “um grande Papa, anunciador de Jesus Cristo”. O bispo auxiliar de Lisboa considera que o mundo católico ganhou hoje, também, “um grande papa”. Significado de que “Deus não falha à igreja”. Reconhecendo que a interpretação política é “ incontornável”, desde logo pela referência inicial à paz, Alexandre Palma não a quer “ totalitária”. Chama a atenção “ para uma biografia que é uma proposta de mundos diferentes e essa é talvez a grande metáfora, a grande parábola da sua eleição”. .Talvez sejamos surpreendidos pela razão do nome. Na verdade, Francisco de de Assis tinha um grande amigo e esse amigo era o Frei Leão. Dois franciscanos muito amigos"Miguel Gonçalves Ferreira, padre jesuíta. Eugénia Quaresma, diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações sublinha das primeiras palavras do recém-eleito a “exortação à paz” e o convite a “ vivência do evangelho”. Um papa com “ identidade muito forte”, com capacidade “ de ouvir e conciliar”, numa altura em que é mais claro do que nunca que a paz “ não se alcança sem os construtores da justiça”. À personalidade “forte” do pontífice, Eugénia alia “o lado emocional”. Ligação a Fátima“É a minha convicção de que este homem que tinha sido escolhido pelo Papa Francisco para tarefas dentro da Igreja, que continuará aquilo que foi o pontificado que o antecedeu, o pontificado do Papa Francisco. Um homem atento às dores e às feridas da Igreja e do mundo em que vivemos”, afirmou o padre Carlos Cabecinhas em vídeo enviado aos jornalistas ao fim do dia em que 133 cardeais reunidos em Conclave elegerem cardeal Robert Francis Prevost, prefeito do Dicastério para os Bispos, como o novo Papa. Carlos Cabecinhas manifesta o desejo de que Leão XIV possa visitar Fátima. “Alguns dos cardeais de quem se falava já estiveram em Fátima. O cardeal Prevost, agora Leão XIV, não esteve e, por isso, o meu grande desejo é que ele possa visitar este Santuário, fazer a experiência de oração neste Santuário e experimentar aqui a força da oração dos peregrinos pelo Santo Padre”.Para o reitor do santuário “há sempre uma expectativa que rodeia estes momentos de sede vacante, a expectativa em relação a quem será o eleito, quem será o escolhido. Do ponto de vista de fé, nós acreditamos que é escolhido aquele que o Senhor entende que é a pessoa oportuna para o momento de vida da Igreja e do mundo que estamos a atravessar”, defendeu. “Foi escolhido o Papa Leão XIV e por isso alegramo-nos com ele”..Porquê Leão? O significado da escolha do nome do novo papa