Cruz Vermelha diz que situação em Mariupol é "dilacerante"
O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) descreveu este sábado como "dilacerante" a situação que se vive na cidade de Mariupol, onde a evacuação de moradores foi adiada, apelando às partes que protejam os civis, haja ou não um corredor humanitário.
"As cenas a que se está a assistir hoje em Mariupol e noutras cidades são dilacerantes", sublinhou em comunicado a organização com sede em Genebra, na Suíça. "Entendemos que as operações de saída segura de Mariupol e Volnovakha não vão começar hoje. Continuamos a dialogar com as partes sobre a passagem com toda a segurança de civis das várias cidades afetadas pelo conflito", acrescenta.
Prevista para hoje, mediante um cessar fogo que permitiria a abertura de corredores humanitários, a retirada dos habitantes de Mariupol foi adiada devido a várias violações russas da trégua, acusou a câmara local. A operação, que deveria ter começado ao final da manhã (hora de Lisboa), "foi adiada por razões de segurança", já que as forças russas "continuam a bombardear Mariupol e os seus arredores", explicou o município, numa mensagem divulgada na rede Telegram. A cidade tem estado sob intensos bombardeamentos das forças russas nos últimos dias e, nesta altura, não tem eletricidade nem aquecimento, e a comida e água começam a escassear.
Num comunicado emitido esta manhã, citado pela agência France Press, as autoridades municipais pediram aos habitantes para regressarem aos abrigos e aguardarem por mais informações. O mesmo documento adianta também que "estão a decorrer negociações com a Rússia para garantir um corredor humanitário seguro".
O Comité Internacional da Cruz Vermelha alerta que "independentemente de os corredores humanitários serem implementados ou não nos próximos dias, as partes devem continuar a proteger os civis e as infraestruturas civis, segundo o direito internacional humanitário, tanto para aqueles que optam por sair, como para os que permanecem". "Os denominados corredores humanitários ou outras medidas destinadas a apoiar as pessoas afetadas pelo conflito devem ser bem planeadas e implementadas com o acordo das partes em conflito", refere o CICV que, enquanto intermediário humanitário neutro e imparcial, diz estar pronto a contribuir para facilitar a passagem segura de civis "desde que as partes tenham chegado a um acordo e que os seus termos sejam estritamente humanitários".
O exército russo retomou a "ofensiva" após o adiamento da retirada de civis de duas cidades cercadas no sudeste da Ucrânia, uma delas Mariupol, disse este sábado o porta-voz do ministério russo da Defesa, Igor Konachenkov.
"Devido à relutância da parte ucraniana de influenciar os nacionalistas ou de prolongar o 'cessar-fogo', as operações ofensivas recomeçaram após as 18:00, hora de Moscovo" (15:00 em Lisboa), disse numa mensagem em vídeo.
A prevista abertura, hoje, de corredores humanitários em Mariupol e Volnovaja, para retirar a população civil, anunciada pela Rússia, foi suspensa, com ambas as partes a culparem-se.
A Rússia tinha anunciado um cessar-fogo temporário a partir das 10:00 de hoje em Moscovo (sete da manhã em Lisboa) para a abertura de corredores humanitários que permitissem a retirada de civis nas cidades ucranianas de Mariupol (que tem cerca de 450 mil habitantes) e Volnovaja, uma cidade mais pequena, que tem estado também sob intenso bombardeamento e que estará praticamente arrasada e sem mantimentos para a população que permanece em abrigos.
Antes deste adiamento, o Governo ucraniano avançou que o plano passaria por evacuar 200 mil pessoas de Mariupol e 15 mil de Volnovaja e que a Cruz Vermelha atuaria como garante do cumprimento das condições para o corredor humanitário.
A tomada de Mariupol, localizada no Mar de Azov, seria um ponto de viragem na invasão russa da Ucrânia. Permitiria a junção entre as forças russas provenientes da Crimeia anexada, que já tomaram os principais portos de Berdiansk e Kherson, e as tropas separatistas e russas no Donbass.
Antes do anúncio do cessar-fogo temporário, o presidente da câmara municipal de Mariupol, Vadim Boitchenko, tinha afirmado que este porto estratégico se encontrava "sob bloqueio" e era alvo de "ataques impiedosos" do exército russo.