Nova manifestação em Telavive contra o “degenerado Bibi” (Netanyahu) e em defesa da libertação dos reféns.
Nova manifestação em Telavive contra o “degenerado Bibi” (Netanyahu) e em defesa da libertação dos reféns.JACK GUEZ / AFP

Retaliação israelita foi brincadeira de crianças para Teerão e aviso para Telavive

Israel terá disparado míssil de um avião de combate e destruído sistema de defesa aérea de fabrico russo. Irão desvaloriza e diz que foram apenas drones de uso lúdico.
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Em Rafah, um ataque aéreo noturno matou nove palestinianos, seis do quais crianças; na Cisjordânia, operações do exército israelita fizeram 13 mortos em dois dias; no sul do Líbano, foram pelo menos três os operacionais do Hezbollah liquidados; e no Iraque uma pessoa morreu e oito ficaram feridas numa explosão numa base militar usada por grupos armados pró-iranianos. Enquanto os conflitos em redor de Israel prosseguem, o Irão voltou a mostrar não estar interessado em alimentar uma espiral de violência, ao minimizar a resposta de Telavive, na sexta-feira, como uma “brincadeira de crianças”. Porém, o que Israel diz, à boca calada, é bem distinto: foi uma mensagem para a liderança iraniana ter consciência da sua capacidade militar em penetrar as defesas aéreas de Teerão.

 “O que aconteceu ontem à noite [sexta-feira] não foi um ataque”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Hossein Amir-Abdollahian, à NBC News, sobre as três explosões ocorridas perto do aeroporto de Isfahan e de uma base militar e não longe da central de enriquecimento de urânio de Natanz. “Foi o voo de dois ou três drones que estão ao nível dos brinquedos que as nossas crianças usam no Irão. Enquanto não houver uma nova aventura em nome do regime israelita contra os interesses do Irão, não responderemos”, desvalorizou. Horas antes, o chefe da diplomacia russa Sergei Lavrov, na sequência de contactos com Teerão, já tinha declarado que “o Irão não quer uma escalada”. 

Como é seu timbre, Israel não confirma oficialmente que as explosões foram da sua responsabilidade. A versão revelada pelo New York Times por duas fontes é a de que as forças israelitas utilizaram um míssil de última tecnologia capaz de iludir os sistemas de radar iranianos, numa iniciativa “calibrada para fazer o Irão pensar duas vezes” antes de lançar outro ataque direto a Israel, porque as forças israelitas são capazes de se esquivar e de neutralizar as defesas do Irão.

Segundo dois funcionários iranianos, o ataque atingiu um sistema de defesa aérea S-300 de fabrico russo, sendo que o sistema de radares não terá detetado qualquer violação do espaço aéreo, disseram ao NYT. O jornal noticiou ainda que o míssil foi disparado por um avião de guerra “longe do espaço aéreo israelita ou iraniano” e fora do espaço aéreo da Jordânia.

O analista militar da Sky News Sean Bell descreve as capacidades do avião de caça F-35 em chegar perto dos radares antes de ser detetado e uma vez que o seja tem meios eletrónicos para confundir o radar, insinuando desta forma que o ataque terá sido realizado através dessa aeronave de fabrico norte-americano. 

Com cada um dos inimigos a salvarem a face perante os seus públicos e aliados, as autoridades iranianas e israelitas dão por encerrado um perigoso capítulo iniciado no dia 1 de abril, em resultado de um ataque a um edifício consular do Irão, anexo à embaixada, e no qual morreram 11 pessoas, sete das quais Guardas da Revolução. A teocracia xiita advertiu que iria punir Israel, o que acabou por acontecer há uma semana, com o lançamento de 330 drones e mísseis diretamente de solo iraniano - um ataque sem precedentes. Enquanto Teerão enalteceu a sua capacidade ofensiva, Telavive obteve uma taxa de sucesso na destruição dos engenhos explosivos de 99%, graças ao seu único sistema de defesa aérea, complementado pela força aérea de países aliados, com os Estados Unidos à cabeça. 

O maior aliado de Israel aprovou no sábado um pacote de assistência, com 366 representantes a favor e 58 contra. São 26,4 mil milhões de dólares (24,7 mil milhões de euros), dos quais 9,2 mil milhões para assistência humanitária às populações em sofrimento e o restante para reabastecer e reforçar o armamento das forças israelitas. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu agradeceu a decisão da Câmara dos Representantes e disse que esta “defende a civilização ocidental”. Mas minutos depois, o chefe de governo contestado nas ruas criticou a intenção noticiada pelo Axios de os EUA avançarem com sanções contra um batalhão do exército israelita, por violações dos direitos humanos na Cisjordânia ocupada. 

Erdogan recebe líder do Hamas

Numa iniciativa declarada para chamar a atenção de novo para a Faixa de Gaza, o presidente turco recebeu o líder do Hamas em Istambul, enquanto o seu chefe da diplomacia Hakan Fidan recebeu o homólogo egípcio Sameh Shoukry. Numa nota da presidência turca, no final de uma reunião de duas horas e meia com Ismail Haniyeh, afirma-se que Recep Tayyip Erdogan destacou que “a atuação dos palestinianos em uníssono é de importância vital durante este período, que a resposta mais sólida a Israel e o caminho para a vitória passam pela unidade e integridade”.

Erdogan, que considera o Hamas um movimento de libertação e não uma organização terrorista como a UE, EUA ou Israel, disse também que Israel “pagará um dia o preço das atrocidades que impõe aos palestinianos e que a Turquia continuará a pronunciar-se sobre os massacres em Gaza em todas as ocasiões”.

cesar.avo@dn.pt

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